sábado, 23 novembro 2024

Renda média no Brasil cai abaixo de R$ 1 mil pela 1ª vez em 10 anos

 Os dados integram a pesquisa “Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia”, divulgada nesta segunda-feira (14) pelo centro de estudos FGV Social. O levantamento considera estatísticas desde 2012

O pesquisador reforça que a Covid-19 agravou um quadro que já preocupava antes de 2020 (Foto: Agência Brasil)

Com o impacto da pandemia no mercado de trabalho, a desigualdade alcançou nível recorde no país. Ou seja, a diferença que separa os ganhos de ricos e pobres ficou ainda maior durante a crise sanitária.

Os dados integram a pesquisa “Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia”, divulgada nesta segunda-feira (14) pelo centro de estudos FGV Social. O levantamento considera estatísticas desde 2012.

O salto na desigualdade é medido pelo Índice de Gini. Na escala de Gini, zero significa igualdade de renda. Quanto mais próximo de um, maior é a desigualdade. Na prática, uma alta no indicador sinaliza piora nas condições socioeconômicas.

No primeiro trimestre de 2020, fase inicial da pandemia, o índice estava em 0,642. Os cálculos levam em conta a média móvel de quatro trimestres.

No primeiro trimestre deste ano, o indicador alcançou a marca de 0,674, a maior da série analisada.

“A literatura considera este movimento um grande salto de desigualdade”, aponta o estudo assinado pelo economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social.

O pesquisador reforça que a Covid-19 agravou um quadro que já preocupava antes de 2020: o aumento da desigualdade, que antes já vinha crescendo devido aos impactos da recessão de 2015 e 2016 no mercado de trabalho.

“A situação piorou agora. A pandemia veio em um momento de fragilidade trabalhista”, ressalta Neri. “O resultado é pior do que uma década perdida. Andamos para trás”, acrescenta.

A pesquisa do FGV Social ainda mostra que a renda média do trabalho tampouco ficou imune aos prejuízos da Covid-19.

Conforme o estudo, o indicador despencou ao menor nível desde o começo da série histórica. O levantamento analisa microdados da Pnad Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No primeiro trimestre de 2020, a renda média per capita havia alcançado o maior ponto da série: R$ 1.122. Mas, com a crise, desabou 11,3%, para R$ 995 em igual período de 2021.

Além do menor patamar da série, é a primeira vez que a renda fica abaixo de R$ 1 mil. O cálculo é uma média móvel de quatro trimestres.

Apesar de a pandemia ter prejudicado diferentes grupos no mercado de trabalho, os mais pobres sentiram mais os impactos negativos, frisa Neri. Isso acabou elevando a desigualdade.

Sem a média móvel, a renda individual do trabalho caiu 10,89% no primeiro trimestre de 2021, frente a igual período de 2020. Entre os mais pobres, a baixa foi ainda maior, de 20,81%.

“Houve uma piora. O bolo de renda diminuiu, e diminuiu mais para os mais pobres”, descreve Neri.

O pesquisador ressalta que a melhora da situação depende do combate à pandemia. Nesse sentido, conclui, o avanço da vacinação contra a Covid-19 é peça necessária para permitir retomada de atividades econômicas e volta segura ao trabalho.

“A vacina é fundamental para recuperarmos nível de normalidade. Vivemos um cenário de perdas tão grandes que se espera uma melhora depois”, diz. 

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