O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC) de março revela que os impactos da pandemia do novo coronavírus começaram a ser sentidos pelo varejo brasileiro. O índice atingiu 128,4 pontos, maior patamar desde dezembro de 2012 (129 pontos), mas com queda de 0,2% em relação a fevereiro, interrompendo quatro meses consecutivos de alta.
A pesquisa foi divulgada hoje (23) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
A economista da CNC responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, disse à Agência Brasil que a coleta dos dados aconteceu entre 20 de fevereiro e 5 de março, portanto uma semana antes de as medidas mais drásticas de isolamento para evitar maior disseminação do novo coronavírus serem adotadas no Brasil, o que ocorreu entre 9 e 13 de março. O período foi marcado pela primeira queda significativa da Bolsa de Valores, no dia 12. “O temor começou a se intensificar”, apontou Izis. Foram consultados 18 mil empresários do comércio de todos os estados, mais o Distrito Federal.
A queda do ICEC na passagem de fevereiro para março é explicada, principalmente, por uma retração no índice de expectativas. “Isso significa que já no período de referência da pesquisa, pelo canal das expectativas, os comerciantes já estavam esperando uma piora da economia do setor do comércio e da empresa nos próximos meses”. Segundo Izis, pelo canal das expectativas, já houve uma antecipação da queda na confiança do empresário do comércio. “Que é o que a gente deve ver nos próximos meses”.
REVERSÃO
Izis avaliou que o resultado indica que o índice ainda está na zona de avaliação positiva, sinalizando otimismo, mas isso deve se reverter nos próximos meses em função da crise que está instalada no país. “A gente vinha em um ritmo gradual de recuperação da atividade econômica, com geração de vagas no mercado de trabalho, embora em um desempenho moderado, com inflação bem baixa, controlada, mas isso deve se reverter, certamente, como todas as projeções já estão mostrando. E, naturalmente, os índices de confiança em geral devem seguir esse mesmo movimento”, comentou a economista.
A análise da satisfação quanto às condições correntes mostra que o subitem Índice de Condições Atuais do Empresário do Comércio (ICAEC) evoluiu 1,1% na comparação mensal e 5,2% na comparação anual.
Já no subíndice Expectativas do Empresário do Comércio (IEEC), aparecem os primeiros efeitos da crise do novo coronavírus. As expectativas para os próximos meses são piores do que em fevereiro deste ano (-0,7%) e do que em relação a março de 2019 (-2,2%). Os empresários já começaram, no período de coleta dos dados, a antecipar os reflexos negativos da crise sobre o setor.
Para os próximos meses, a CNC aposta que a confiança dos empresários deve ser bastante afetada pelo atual momento e pela expectativa de reversão na atividade econômica, que fica um pouco defasada. “Mas a confiança já vai antecipar isso”. A partir de abril, Izis Ferreira espera nova queda na confiança, na intenção de investir e na avaliação das condições correntes. “E a tendência, infelizmente, é esse pessimismo se intensificar”.
INTENÇÃO DE INVESTIR
A intenção de investimento também caiu em março, motivada, em especial, pela intenção de contratar funcionários. No cenário em que não há expectativa de faturamento e o movimento do negócio pode ser afetado por um decreto governamental ou mesmo pelo fato de as pessoas não estarem circulando nas ruas, isso faz com que os empresários não queiram mais contratar empregados. O ICEC de março revela retração de 2,7% na contratação de funcionários em relação a fevereiro e de 3,2% na variação anual. O índice de comerciantes dispostos a aumentar o quadro de funcionários foi de 69,1%, em março, contra 74,1% em fevereiro último e 72% em março do ano passado. Izis acredita que a contratação de funcionários continuará sofrendo, “porque o movimento agora não é de contratação”.
A pesquisa identifica que o Índice de Investimento do Empresário do Comércio também registrou variação mensal negativa, -0,6%, com 106,9 pontos, na comparação com fevereiro. Em relação a março de 2019, porém, houve aumento de 2,1%, o que confirma que, no período de apuração, os empresários ainda estavam mais dispostos a investir.
Izis Ferreira informou que, de acordo com a pesquisa, os comerciantes ainda estavam conseguindo adequar os estoques ao nível de vendas, com aumento de 1,1% comparativamente a fevereiro e de 4,5% sobre março de 2019. Isso se deveu à contratação de investimentos que já estavam previstos, esclareceu a economista da CNC. “Mas a tendência é que, daqui para a frente, também haja uma menor intenção de investir na área dos estoques”.
Na questão dos estoques, em virtude da paralisação dos negócios, os comerciantes não têm como fazer uma adequação. As exceções são alguns segmentos considerados essenciais: hiper e supermercados, farmácias, lojas de equipamentos médicos, entre outros. Os demais segmentos já estão afetados pelo movimento nulo nesta semana e nas próximas, disse Izis.
A economista explicou que o primeiro canal que vai continuar caindo muito de abril em diante envolve as expectativas do comércio, que deverão seguir negativas. A próxima coleta será feita entre os dias 20 de março e 5 de abril. “A gente acredita que os próximos resultados, realmente, vão mostrar uma intensificação dessa queda na confiança, na direção de uma zona pessimista mesmo”, concluiu.