Presidente do Butantan diz que não vai cumprir cronograma pelo desinteresse da Saúde na vacina para dose reforço
O governo de São Paulo e o Instituto Butantan entregaram um novo lote de dez milhões de doses da CoronaVac ao Ministério da Saúde na manhã desta segunda-feira (30), chegando assim a um total de 92,85 milhões de doses destinadas à campanha de vacinação nacional contra Covid-19.
O quantitativo se aproxima do total de 100 milhões de doses que faz parte do acordo do instituto com a pasta, embora não tenha conseguido cumprir a previsão de completar o quantitativo até o dia 30 de agosto, como havia sido prometido pelo governo paulista. Restam 7,15 milhões de doses a serem entregues à pasta.
Segundo o diretor do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas, o Butantan não vai entregar essas doses faltantes até amanhã. Esse lote deve ser enviado até o final de setembro. O motivo da nova previsão, ainda segundo Dimas Covas, foi a “manifestação do Ministério da Saúde que exclui a CoronaVac como a vacina para terceira dose”.
“Estamos reprogramando porque temos outros contratos para serem previstos, com outros estados e até mesmo outros países, e, portanto, não vamos finalizar a entrega do montante de 54 milhões [previstos no segundo acordo feito com o Ministério da Saúde, totalizando assim 100 milhões] até o final de agosto”, disse Covas, em uma entrevista aos jornalistas na manhã desta segunda-feira.
As doses serão encaminhadas ao PNI (Programa Nacional de Imunizações), para serem distribuídas proporcionalmente aos estados. Ainda de acordo com o diretor do Butantan, há mais 13 milhões de doses da Coronavac já em processamento no instituto e que as próximas liberações de lotes serão quase diárias.
A disputa entre o governo paulista e a pasta da saúde teve início em setembro de 2020, quando o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, firmou um acordo com o instituto paulista para compra de 46 milhões de doses da Coronavac.
No dia seguinte, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) desautorizou o ministro e escreveu em suas redes sociais que “não teremos vacina chinesa do Doria”. “NÃO SERÁ COMPRADA”, escreveu o presidente, com letras maiúsculas.
Após o ocorrido, o governo federal e o Instituto Butantan tiveram idas e vindas nas tratativas para compra da CoronaVac. Foi só em 16 de dezembro de 2020 que a pasta da saúde anunciou a intenção de compra de doses da Coronavac. Segundo Covas, esse atraso em firmar o acordo inicial também pesou na decisão de cumprir ou não o cronograma de entrega neste momento.
“Em dezembro o Butantan tinha seis milhões de doses para entregar ao Ministério da Saúde, prontas; poderíamos ter começado a vacinação em dezembro do ano passado. Isso começou com uma resistência à vacina. Vamos ser os primeiros a cumprir o contrato de 100 milhões de doses antes do final de setembro, mas com essa nova realidade, porque o Ministério [da Saúde] tem dado notícias todos os dias no sentido de descaracterizar, descredenciar a Coronavac, então vamos repensar [essa entrega]”, afirmou.
A CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e fabricada no Butantan, teve sua autorização para uso emergencial aprovada no dia 17 de janeiro deste ano pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mesmo dia em que foi dado o aval para a vacina Covishield, da Oxford/AstraZeneca, fabricada na Fiocruz.