domingo, 24 novembro 2024

No Congresso dos EUA, Mourão é questionado se Bolsonaro é realmente um democrata

Em uma reunião rápida com senadores americanos em Washignton, o vice-presidente Hamilton Mourão precisou defender Jair Bolsonaro e responder se o presidente brasileiro é realmente um democrata. Logo no início de um encontro com quatro senadores dos EUA, Mourão foi questionado e respondeu ao democrata Bob Menendez, de oposição a Donald Trump, que Bolsonaro respeita a Constituição e o sistema eleitoral do país.

“Deixei claro que ele é um homem que está pensando nas próprias gerações, e não nas próximas eleições, e que ele respeita totalmente nossa Constituição, nossas instituições e o sistema que temos no Brasil”, afirmou Mourão. A reunião aconteceu no gabinete do republicano Marco Rubio, principal voz no Congresso dos EUA em assuntos sobre América Latina e grande defensor da aproximação com o Brasil. Rubio, que faz parte da bancada anti-castrista, defende uma abordagem mais dura à ditadura de Nicolás Maduro, na Venezuela.

Ainda que Menendez seja do Partido Democrata, ele tem se alinhado a algumas posições de Rubio em relação à crise no país latino-americano. O senador democrata, porém, é contrário a uma intervenção militar na Venezuela, assim como Mourão. E foi justamente esse assunto, mais uma vez, o tema principal da conversa do vice-presidente brasileiro nos EUA.

Segundo o general, Rubio não pediu nenhum tipo de endurecimento da posição do Brasil em relação a Maduro e também “não reclamou” quando ele afirmou que, ao Brasil e aos EUA, na sua avaliação, cabe apenas fazer pressão política e econômica -a militar é tarefa das Forças Armadas venezuelanas. “Expresso a nossa posição de manter pressão política e econômica e a questão das Forças Armadas venezuelanas terem condição de neutralizar as milícias e os coletivos por lá. Ele [Rubio] não tocou em nenhum assunto diferente do que falei aqui, não abordou nenhum tipo de opções além dessas que falei”, disse Mourão.

O general se reuniu nesta segunda-feira (8) com Mike Pence, vice-presidente americano, também para tratar de Venezuela, e descartou qualquer tipo de ação além da ajuda humanitária na fronteira. “Nenhum deles reclamou”, repetiu Mourão ao ser questionado sobre a posição ser bem mais amena do que defendem Trump e Rubio, por exemplo. Desta vez, Mourão afirmou que a comunicação entre militares brasileiros e venezuelanos foi tratada na conversa com Rubio -e também com Pence. No entanto, após o encontro com o vice na segunda, o general havia dito a jornalistas que isso não tinha sido discutido.

“Essa pergunta tinha sido feita por Pence, e sempre coloco para ele que o ministro da Defesa venezuelano tem algum tipo de contato com o nosso ministro. Temos oficiais mais novos dos dois países que fizeram curso juntos, e essa turma se comunica no canal informal.” Questionado se não estava se contradizendo, Mourão afirmou: “Foi tratado [com Pence] em alto nível e não nesse nível menor”.

Após a reunião desta terça, Rubio afirmou, via assessoria, que vai continuar trabalhando “com nossos aliados no Brasil para restabelecer a democracia na Venezuela”. Ainda de acordo com Mourão, os senadores conversaram sobre deixar de lado a retórica e intensificar de fato o comércio dos EUA com o Brasil, a entrada do país na OCDE e a base de Alcântara -resultados da visita de Bolsonaro a Washington, em março.

Antes de ir ao Congresso, Mourão fez musculação e visitou o National Museum of the American Indian, acompanhado pelo ajudante de ordens e seguranças. O encontro de Mourão com parlamentares tanto do Partido Republicano quanto do Partido Democrata foi visto como mais um movimento de contraponto à Bolsonaro. Em março, o presidente solicitou um encontro com a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, líder de oposição a Donald Trump. A reunião, porém, não aconteceu -porque o Congresso estava em recesso, segundo o gabinete de Pelosi.

Autoridades americanas afirmam que o roteiro de Mourão está sendo observado com atenção. Isso porque empresários e integrantes do governo dos EUA consideram pouco comum um vice viajar ao país tão pouco tempo depois de um presidente ter passado por lá.No bipartidarismo americano, é desejável o diálogo com ambos os lados para que se tenha uma relação política e diplomática eficaz.

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