Especialistas que analisaram o caso a pedido do Wall Street Journal disseram ser difícil afirmar se o incidente foi provocado por um agente químico ou biológico ou por algum tipo de ataque com radiação eletromagnética
Dois ucranianos que integram as comitivas de negociações com a Rússia e o oligarca russo Roman Abramovich apresentaram sintomas de um possível envenenamento após uma reunião em Kiev no começo do mês. A informação foi divulgada nesta segunda-feira (28) pelo jornal americano The Wall Street Journal.
Os sintomas incluíram vermelhidão nos olhos, com dor constante e lacrimejamento, além de descamação da pele no rosto e nas mãos, segundo o veículo americano. Todos passam bem.
Especialistas que analisaram o caso a pedido do Wall Street Journal disseram ser difícil afirmar se o incidente foi provocado por um agente químico ou biológico ou por algum tipo de ataque com radiação eletromagnética.
Pessoas envolvidas no caso acusaram os russos de terem cometido o suposto envenenamento em uma tentativa de sabotar as negociações para pôr fim à guerra.
Neste domingo (27), Rússia e Ucrânia anunciaram uma nova rodada de negociações na Turquia -encontros entre os representantes dos dois países aconteceram também na Belarus. Entre reuniões virtuais e presenciais, de toda forma, as conversas até aqui pouco avançaram, com os dois lados se acusando mutuamente de não cooperar.
Abramovich viajou a Kiev a pedido do governo ucraniano para ajudar a negociar o fim da guerra na Ucrânia, segundo o Wall Street Journal. Entre os negociadores supostamente envenenados está o deputado Rustem Umerov.
O Kremlin não comentou o caso, enquanto autoridades ucranianas buscaram minimizar o caso. Um dos líderes dos negociadores de Kiev, Mikhailo Podoliak classificou as informações de especulações que entrariam no campo das teorias da conspiração. O próprio Umerov pediu que não se confie “em informações não verificadas”.
O chanceler Dmitro Kuleba usou de ironia em uma entrevista à TV ucraniana, dizendo que orienta qualquer um que vá a negociações com a Rússia “a não comer ou beber nada e preferencialmente evitar de tocar em superfícies”.
À agência Reuters um funcionário da inteligência americana afirmou sob anonimato que as avaliações iniciais dos EUA são de que os sintomas nos envolvidos teriam surgido por um fator ambiental externo -ou seja, não por envenenamento.
O governo russo já foi acusado de envenenar opositores em outras ocasiões, entre eles Alexei Navalni, principal nome da oposição a Vladimir Putin. Em 2018, o governo britânico acusou Moscou de envenenar o ex-espião russo Serguei Skripal e a filha dele. O Kremlin nega.
Vladimir Putin prosperou no poder nos últimos anos com o apoio de parte importante de bilionários oligarcas do país. Com a guerra, esse grupo se tornou um dos principais alvos de sanções do Ocidente, como forma de atingir o presidente indiretamente e tentar desestabilizar o equilíbrio de forças no país.
Abramovich ficou mais conhecido fora da Rússia sobretudo após decidir comprar o clube de futebol inglês Chelsea, em 2003. A aquisição marcou não só uma nova etapa na história do clube, mas também da Premier League, o campeonato nacional.
Antes da chegada do dinheiro russo, o time azul tinha apenas um título do torneio, algumas copas e nenhum troféu internacional de grande expressão. Com Abramovich, o Chelsea foi cinco vezes campeão da Premier League, conquistou duas vezes a Champions League e uma o Mundial de Clubes da Fifa.
Na nova era do futebol inglês inaugurada por Abramovich, os clubes tiveram seu controle tomado por fundos de investimento com dinheiro estrangeiro, inclusive ligados a governos de países como Qatar e Arábia Saudita, acusados de desrespeitar direitos humanos.
Após a guerra na Ucrânia, Abramovich sofreu sanções também por meio do futebol. Ele perdeu a autorização da liga local para atuar como diretor do Chelsea, que viu ter suas contas bloqueadas. Atualmente, tenta vender o clube.