Trata-se de um experimento científico de US$ 2 bilhões (quase R$ 11 bilhões) que tem como objetivo final revelar a origem do universo.
Chris Cassidy, 51, diz que se lembra vividamente da trepidação e da sensação de ser puxado para baixo pela gravidade da Terra quando decolou no ônibus espacial STS-127, da Nasa (agência espacial americana), em 2009. De lá para cá, ele já voltou ao espaço outras duas vezes, ficando ao todo 378 dias em órbita, mas diz que a ansiedade que precede as missões é sempre a mesma.
“Se você não fica nervoso é porque não entende o que está fazendo”, diz o astronauta ao F5 em bate-papo com a imprensa internacional para divulgar a série documental “Rumo às Estrelas”, que estreia nesta quarta-feira (6) na Disney+. “Sempre tem nervosismo no dia do lançamento, e uma ansiedade sobre como vai ser a missão, mesmo já tendo uma ideia de no que estou me metendo ou de como vai ser o meu dia-a-dia.”
“A mentalidade dos astronautas, em qualquer missão, é parecida com a de um reality show como o Big Brother, em que as pessoas vivem num espaço apertado com câmeras capturando tudo o que fazem o tempo todo”, compara. “A sensação de estar sendo observado é a mesma, seja por causa do documentário ou porque tudo está sendo acompanhado pelas pessoas na internet.”
A maior diferença nesta última expedição não foi exatamente o que ocorreu no espaço, mas tudo o que estava rolando na Terra. “Eu saí de Houston [onde a Nasa tem seu centro de pesquisa] em fevereiro, antes da Covid ter realmente se espalhado”, surpreende-se.
“No começo de março, quando as coisas começaram a colapsar e os aeroportos a fechar, a equipe do documentário teve de tomar algumas decisões bastante duras para lidar com o começo da pandemia”, lembra. “E então eu fui para o espaço, então não entendia direito como era a vida com a Covid.”
Isso tornou essa experiência única com relação às demais. “Em todas as ligações que fiz para amigos e familiares, senti que eu estava sendo o apoio emocional das pessoas”, observa. “Normalmente, quem está na Terra é que faz isso para a nossa equipe, mas desta vez foi o oposto.”
“Tem dados suficientes naqueles computadores do AMS para suprir teses de doutorado por décadas”, comemora. “É importante para empurrar a fronteira do conhecimento para todo mundo na Terra.”
Para o diretor e produtor executivo do projeto, Ben Turner, da Fulwell 73 Productions, o desafio foi tentar deixar assuntos tão abstratos mais palatáveis, ainda mais com a enorme equipe envolvida no projeto espalhada por diversos lugares do mundo (e até fora dele). “Capturar esse espírito de equipe foi complicado”, conta.
Ele conta também que algumas coisas que pareciam relevantes para ele, como o Natal na Estação Espacial Internacional, não eram prioridades para quem estava na operação. “Não importa quantas vezes eu pedia para me mandarem material disso, eles não achavam tão importante”, ri.
É justamente essa inserção em tudo o que está ocorrendo na missão que ele considera o principal diferencial da série. “Tem muitos documentários sobre o espaço, e sou obcecado por todos ele, mas eles tendem a ser muito científicos e expositórios no sentido de ser alguém contando o que aconteceu”, compara. “Isso de ter alguém com o time o tempo todo, vendo todo o drama por que eles passam, por algum motivo ainda não tinha sido feito.”
“O que o futuro guarda para a humanidade é inimaginável nesse sentido”, avalia sobre a entrada de novos players na corrida espacial, com empresas privadas fazendo turismo espacial com tripulações civis. “Mas o nosso documentário capta um momento de transição para a Nasa, tivemos muita sorte de estar com o Chris nesse momento em que uma nova era começa a aparecer.”
Cassidy, que se aposentou da Nasa recentemente, poderia ser um desses turistas, já que não descarta a ideia de uma última missão no espaço. “Eu adoraria pisar na lua, pegar uma pedra do chão ou acertar nela como se fosse uma bola de golfe”, revela. “Isso seria algo que me motivaria a realizar um quarto voo espacial.”