sexta-feira, 19 abril 2024

Atos contra Bolsonaro neste sábado testam vigor das ruas após sequência de três manifestações

Capitaneadas por movimentos sociais, partidos e centrais sindicais, as mobilizações avançaram para além da esquerda, sobretudo em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro 

O retorno às ruas, três semanas depois de uma data extra convocada para pegar carona na temperatura das primeiras denúncias de corrupção ( Foto: Folhapress)

Os protestos com alcance nacional e internacional contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) marcados para este sábado (24) serão uma espécie de teste para a disposição dos manifestantes, após uma sequência de três grandes atos nos últimos 56 dias -o mais recente no dia 3 deste mês.

Capitaneadas por movimentos sociais, partidos e centrais sindicais, as mobilizações avançaram para além da esquerda, sobretudo em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, e se viram diante de questões como a violência de militantes do PCO contra membros do PSDB na avenida Paulista no ato anterior.

O retorno às ruas, três semanas depois de uma data extra convocada para pegar carona na temperatura das primeiras denúncias de corrupção na compra de vacinas pelo governo federal, ocorre em um momento de ceticismo sobre o impeachment, representado nos atos pela bandeira “fora, Bolsonaro”.

Além das reiteradas declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) indicando resistência a dar andamento a um dos mais de cem pedidos de deposição já protocolados, a anunciada nomeação para a Casa Civil do senador Ciro Nogueira (PP-PI), líder do centrão, agrava o quadro.

Ao amarrar o apoio do bloco de partidos a seu governo, Bolsonaro age para sepultar também o risco de um eventual processo contra ele ter votos suficientes para passar no Congresso. A soma de fatores ampliou no meio político a descrença sobre a chance de o impeachment prosperar.

Líderes das marchas, contudo, minimizam o cenário desfavorável e dizem que um dos objetivos é expressar o descontentamento generalizado com o governo. Avaliam que é importante, por exemplo, demonstrar apoio à CPI da Covid no Senado, que apura falhas do presidente na pandemia.

O pedido de mais vacinas contra a Covid-19, outro eixo que unifica as entidades engajadas na convocação, também pode acabar perdendo apelo com a evolução, ainda que lenta, da imunização no país -60,1% da população adulta já tomou ao menos uma dose.

Nesse caso, a resposta que os realizadores costumam repetir é a de que as passeatas cumprem o papel de relembrar o descaso do governo na obtenção das doses, evidenciado pelas revelações da CPI, e a necessidade de punição para eventuais responsáveis pelas quase 550 mil mortes.

Até esta sexta-feira (23), a Campanha Nacional Fora Bolsonaro, fórum que responde pela organização, tinha a previsão da realização de 488 atos neste sábado, sendo 445 atos em 432 cidades no Brasil e 43 atos no exterior, em 39 cidades de 17 países.

Os números são superiores aos de 3 de julho, quando foram registrados, segundo a campanha, 387 atos no Brasil e em outros países. Na época, o alcance menor -ou estável, como alguns definiram- foi atribuído ao prazo curto para o chamamento, de apenas uma semana.

O intervalo de lá para cá foi marcado por atividades de mobilização, como panfletaços e mutirões em locais públicos. Com a preparação e a divulgação em redes sociais, a expectativa é a de pelo menos manter os níveis de participação. A oposição já foi às ruas em 29 de maio, 19 de junho e 3 de julho.

Para Raimundo Bonfim, coordenador da CMP (Central de Movimentos Populares) e um dos líderes da organização, “há uma insatisfação muito grande com o governo” que impulsiona as manifestações, ao lado da escalada autoritária do presidente, com ameaças às eleições de 2022.

“O tema da defesa da democracia se torna cada dia mais urgente”, diz Bonfim, reafirmando seu empenho na saída de Bolsonaro. “O ato é importante para pressionar todos os setores políticos e sociais.”

Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), uma das centrais sindicais que apoiam a mobilização, afirma que “é uma corrente por um Brasil melhor, o que inclui o pedido de impeachment”. Mas pontua: “Eu, como cidadão, não vejo como avançar com o Lira na presidência da Câmara”.

Presidente municipal do PSDB em São Paulo, Fernando Alfredo manteve a participação do diretório paulistano nas manifestações (que não é referendada pelas executivas estadual e nacional), sob a justificativa de que é preciso “unir forças contra o mal que assola o país”.

“Enquanto Bolsonaro estiver no Planalto, estaremos nas ruas de forma incansável, para que as mais de 500 mil famílias enlutadas se sintam consoladas; para que o povo não precise ir à porta de açougues pedir ossos para alimentar sua família; para que haja emprego e educação digna”, disse em nota nesta sexta.

Alfredo também buscou dissociar de questões eleitorais o envolvimento do diretório no ato. Em reunião dos organizadores com autoridades para discutir os detalhes da ação deste sábado na Paulista, o PSDB afirmou que estará na avenida por causa das bandeiras, não em busca de embates.

Segundo o relatório oficial do encontro, o representante do PCO, Rafael Dantas, disse que a sigla “se compromete a não dirigir nenhum tipo de ato violento ou de agressão contra o PSDB, mas não tem como assumir qualquer responsabilidade sobre atos cometidos por indivíduos nas manifestações”.

Pessoas de esquerda que tentaram conter as agressões no dia 3 também acabaram atingidas, de acordo com testemunhas. O núcleo central dos protestos só se pronunciou formalmente nove dias depois. Em nota, disse que seus atos são pacíficos e repudiou “quaisquer provocações ou ações violentas”.

O PSDB estará no caminhão do chamado Bloco Democrático, ao lado de partidos como PDT, PSB, Cidadania, PV, Solidariedade e Rede, além de movimentos identificados com o centro, como o Acredito, o Agora! e o Livres. Grupos de esquerda também integram essa articulação.

Originalmente, as marchas foram puxadas por legendas como PT, PSOL, PC do B e UP, ao lado das frentes de movimentos sociais Povo sem Medo, Brasil Popular e Coalizão Negra por Direitos. CUT (Central Única dos Trabalhadores) e MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) também participam.

A campanha Fora Bolsonaro diz concordar com a presença de setores ao centro e à direita refratários a Bolsonaro, com a ressalva de que outras pautas que apareçam em cartazes e falas, como a crítica à agenda de privatizações, não serão abandonadas, mesmo que evoquem divergências.

O principal foco de resistência está no PCO, que vê na participação de grupos de fora da esquerda um risco de apropriação e distorção da mobilização. Porta-vozes da legenda lembram que o PSDB não assinou pedidos de impeachment e tem sido ambíguo em relação a Bolsonaro.

Os episódios de vandalismo registrados nas edições mais recentes em São Paulo, e que alguns integrantes da cúpula atribuem à ação de infiltrados que teriam o objetivo de desqualificar o levante e municiar as reações bolsonaristas, também são combatidos.

Para tentar evitar novos casos de depredação, a caminhada neste sábado sairá mais cedo da avenida Paulista, de forma que a descida pela rua da Consolação ocorra durante o dia e a dispersão, na altura da praça Roosevelt, acabe mais cedo. Pelo cronograma, a passeata começará às 16h30.

O ato deste fim de semana é o primeiro desde que o MBL (Movimento Brasil Livre) e o VPR (Vem Pra Rua) anunciaram para 12 de setembro uma manifestação nacional contra Bolsonaro, apoiada por forças da direita não bolsonarista, sobretudo dos partidos Novo e PSL.

Sem disposição para aderir às marchas instigadas pela esquerda, os dois movimentos, que no passado promoveram passeatas pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e em apoio à Operação Lava Jato, divulgaram no dia 8 de julho que, com o avanço da vacinação, retornarão às ruas.

Militantes do MBL irão à manifestação deste sábado com faixas e panfletos chamando para o ato de setembro. Um dos materiais mira eleitores arrependidos de Bolsonaro e lista o que o grupo considera traições, como a aliança com o centrão, os ataques à democracia e a inoperância na pandemia.

ATOS CONTRA BOLSONARO

Números de atos

Em 24 de julho: 488 atos no total, em 432 cidades no Brasil e 39 cidades no exterior (previsão até a noite desta sexta-feira)

Em 3 de julho: 387 atos no total, em 312 cidades no Brasil e 34 cidades no exterior

Em 19 de junho: 457 atos no total, em 407 cidades no Brasil e 19 cidades no exterior

Em 29 de maio: 227 atos no total, em 210 cidades no Brasil e 14 cidades no exterior

(algumas cidades realizam mais de um ato)

Organizações envolvidas

frentes Povo sem Medo, Brasil Popular e Coalizão Negra por Direitos

MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)

MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto)

UNE (União Nacional dos Estudantes)

CMP (Central de Movimentos Populares)

Uneafro Brasil

articulação Povo na Rua

centrais sindicais, como CUT (Central Única dos Trabalhadores), Força Sindical, UGT (União Geral dos Trabalhadores)

movimentos Acredito, Agora!, Livres e Somos 70%

Partidos envolvidos

PT

PSOL

PC do B

PCB

UP

PCO

PSTU

Cidadania

PSB

instâncias internas e líderes de: PSDB, PDT, Rede Sustentabilidade, PSL, PV, Solidariedade, Avante

Bandeiras

fora, Bolsonaro

vacina para todos

auxílio emergencial de R$ 600

comida no prato

fim do genocídio negro

apoio à CPI da Covid

Locais em SP, RJ e DF

São Paulo:

Concentração às 15h, no Masp, com saída da caminhada às 16h30, descendo a rua da Consolação até a praça Roosevelt

Rio de Janeiro:

Concentração às 10h, no Monumento Zumbi dos Palmares, na avenida Presidente Vargas, com saída da caminhada às 11h, indo pela avenida Presidente Vargas até a Candelária

Brasília:

Concentração às 15h, no Museu Nacional, com saída da caminhada às 16h, em direção ao Congresso Nacional e dispersão no Teatro Nacional 

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