sexta-feira, 22 novembro 2024

Banco Central mantém Selic em 2% no último Copom de 2020

Na última reunião deste ano, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) a 2% ao ano. A definição desta quarta-feira (9) ocorre em meio à pressão inflacionária, especialmente com a alta nos preços de alimentos e combustíveis.

Esta é a terceira reunião seguida em que não há alteração na taxa Selic depois de longo ciclo de queda, iniciado em julho de 2019.

Com o choque recente nos preços, o mercado tem aumentado as expectativas de inflação para o fechamento deste ano e para o próximo. Isso poderia levar o BC a aumentar os juros.

A decisão, no entanto, ficou em linha com a expectativa do mercado. Analistas consultados pela Bloomberg previram a manutenção da taxa, conforme indicado pelo comitê na reunião anterior.

No comunicado da decisão, a autoridade monetária se mostrou mais preocupada com a inflação, mas reforçou que a alta na inflação é temporária e deve arrefecer em 2021, dentro do chamado horizonte relevante, para quando o comitê entende que a política monetária terá efeito.

“As últimas leituras de inflação foram acima do esperado e, em dezembro, apesar do arrefecimento previsto para os preços dos alimentos, a inflação ainda deve se mostrar elevada”, disse.

“Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, mas segue monitorando sua evolução com atenção, em particular as medidas de inflação subjacente”, completou.

O BC revisou as projeções para a inflação no cenário básico, com a taxa de juros a 2% a.a. em 2020, 3% a.a. em 2021 e 4,50% a.a. em 2022, e o dólar a R$ 5,25, as projeções do Copom para a inflação são de 4,3% para 2020, 3,4% para 2021 e 3,4% para 2022.
Já no cenário com taxa de juros constante a 2% a.a. e taxa de câmbio a R$ 5,25, as projeções para a inflação são de torno de 4,3% para 2020, 3,5% para 2021 e 4% para 2022.

Segundo o relatório Focus do BC desta semana, os economistas esperam que os preços subam 4,21% no ano, acima da meta de 4% fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), mas dentro do limite de tolerância de 1,5 ponto para baixo ou para cima. Há um mês, a projeção era de 3,20%.

Desde o início da crise gerada pelo novo coronavírus, as estimativas vinham abaixo de 2%. Na semana da reunião anterior do Copom, no fim de outubro, o mercado esperava inflação de 2,99%.

No comunicado, o comitê repetiu que a inflação permanece com fatos de risco em duas direções. A baixa atividade econômica pode puxá-la para baixo. “Esse risco se intensifica caso uma reversão mais lenta dos efeitos da pandemia prolongue o ambiente de elevada incerteza e de aumento da poupança precaucional”, disse.

Por outro lado, a piora nas contas públicas com o prolongamento das políticas fiscais de resposta à pandemia podem puxar os preços para cima. Além disso, o BC destacou que “frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco”.

“O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”, completou.

Segundo o texto, o BC manteve o compromisso de não subir juros a menos que as expectativas de inflação sejam elevadas acima da meta ou que o regime fiscal seja alterado, mas anunciou que o instrumento deve ser retirado em breve.

Essa indicação é um instrumento secundário de política monetária, chamado de “forward guidance”, ou prescrição futura. Como o comitê avalia que a taxa Selic está próxima do seu limite mínimo, o BC teve que recorrer ao recurso para tentar diminuir a especulação em torno da taxa básica de juros futura e aumentar o estímulo à economia sem cortar ainda mais os juros.

“A manutenção desse cenário de convergência da inflação [à meta] sugere que, em breve, as condições para a manutenção do forward guidance podem não mais ser satisfeitas, o que não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros pois a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade”, disse o texto.

“No cenário de retirada do forward guidance, a condução da política monetária seguirá o receituário do regime de metas para a inflação, baseado na análise da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos”, pontuou o Copom. Apesar da sinalização de que não usará mais o instrumento, o comitê avalia que seu efeito foi positivo.

“O Copom avalia que, desde a adoção do forward guidance, observou-se uma reversão da tendência de queda das expectativas de inflação em relação às metas para o horizonte relevante. Além disso, ao longo dos próximos meses, o ano-calendário de 2021 perderá relevância em detrimento ao de 2022, que está com projeções e expectativas de inflação em torno da meta”, ressaltou.

O BC cita ainda a segunda onda em outros países como desafio para a retomada da economia, mas fala sobre o surgimento das vacinas como positivo. “No cenário externo, a ressurgência da pandemia em algumas das principais economias tem revertido os ganhos na mobilidade e deverá afetar a atividade econômica no curto prazo”, disse.

“No entanto, os resultados promissores nos testes das vacinas contra a Covid-19 tendem a trazer melhora da confiança e normalização da atividade no médio prazo”, ponderou o texto. Além disso, o comitê destaca que a baixa atividade econômica favorece a manutenção dos juros em patamares baixos. “A presença de ociosidade, assim como a comunicação dos principais bancos centrais, sugere que os estímulos monetários terão longa duração, permitindo um ambiente favorável para economias emergentes.”

Em relação à economia brasileira, o BC diz que indicadores recentes sugerem a continuidade da recuperação desigual entre setores, “em linha com o esperado”. “Contudo, prospectivamente, a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais”, colocou.

A Selic é um dos instrumentos usados pelo BC para controlar a inflação. Quando o índice está alto, a autoridade monetária sobe os juros com o objetivo de reduzir o estímulo na atividade econômica, o que diminui o consumo e equilibra os preços. Caso contrário, o BC pode reduzir juros para estimular a economia.
Antes da pandemia, em fevereiro, a autoridade monetária havia indicado que a taxa ficaria em 4,25% ao ano nas reuniões seguintes, depois de cinco reduções seguidas.

O BC retomou o ciclo de queda da Selic com a deterioração do cenário econômico. Até agosto, os juros caíram em todas as reuniões, mas o ciclo de queda foi interrompido em setembro.

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