O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira (8) que o governo não corta recursos do Ministério da Educação “por maldade” e culpou as gestões anteriores pela dívida do país que, segundo ele, levaram a uma redução de 30% do orçamento da pasta. “Outros governos contingenciaram, cortaram recursos no linguajar popular. Ninguém vai cortar recursos da educação por maldade, é que nós não temos como pagar as dívidas que o Brasil tem, que são muito grandes, por isso esse contingenciamento”, afirmou.
A declaração foi feita durante uma chamada por vídeo entre o presidente e alguns de seus ministros com estudantes da Escola Estadual Calunga 1, na zona rural de Cavalcante (GO). A conversa é parte do programa Governo Eletrônico, para levar conexões de banda larga a escolas do país. Identificado como Guilherme Dias, um dos estudantes questionou o presidente se eles poderiam contar com ele novos investimentos na área.
A pergunta foi feita logo após o governo federal ter anunciado o corte de 30% de recursos do MEC que vão da educação infantil à pós-graduação. O congelamento inclui verbas para construção de escolas, ensino técnico, bolsas de pesquisa, transporte escolar, além de custeio das universidades federais.
O MEC provisionou R$ 5,7 bilhões em cortes, segundo dados obtidos no Siop (Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento do Governo). A iniciativa atende a um decreto de contingenciamento definido pela área econômica do governo da ordem de R$ 30 bilhões. No MEC, ele envolve, no total, 23% dos valores discricionários (que excluem despesas obrigatórias, como salários).
Bolsonaro falou ainda sobre o “momento difícil” do Brasil em relação à economia, culpando gestões anteriores. “Nós herdamos uma dívida muito grande dos governos anteriores, mas nós faremos o possível para bem atender a educação. Ninguém cortou 30% da educação. Nós estamos pegando recursos de uma área e botando para outra. No caso, mais recurso para educação básica, não é ministro?”, questionou o presidente ao ministro Abraham Weintraub (Educação).
O auxiliar corrigiu o presidente, afirmando que, na verdade, há um contingenciamento de todos os recursos. Na sequência, Weintraub comparou o corte da verba para Educação à gestão de orçamento familiar. Ele fez uma analogia com uma família que enfrenta dificuldades financeiras e adia a compra de um fogão.
O ministro condicionou a aprovação da reforma da Previdência, em discussão na Câmara, para que o governo tenha mais dinheiro para investir na área. “Guilherme, deixa eu te explicar o que está acontecendo, o Brasil estava num momento muito difícil, Guilherme. A gente estava afundando e o Brasil parou de afundar, mas o Brasil ainda não decolou. O fato de a gente ter parado de afundar permite a gente a fazer pequenos investimentos como esse [satélites para garantir internet nas escolas], mas para a gente decolar tem um projeto que está na Câmara que chama Nova Previdência”, afirmou.
“O presidente estava comentando é que as vezes na nossa casa, com o papai e a mamãe, acontece um imprevisto e às vezes a gente tem que segurar um pouco para trocar uma louça de casa para comprar um fogão novo. E é essa situação que a gente está passando agora, a gente está segurando 5%, a gente não está cortando, a gente está esperando para comprar aquele fogão novo no segundo semestre”, afirmou.
Ele admitiu que nesse momento o governo não consegue “entregar tudo que a gente gostaria”, mas promete entregar a melhor educação básica que o Brasil já teve. O ministro defendeu ainda o acesso dos estudantes à internet e disse que, com isso, todos terão acesso a uma “biblioteca de Alexandria” na palma da mão e disse que essa era a principal distração de Cleópatra, no Egito Antigo.
Em tom de brincadeira, Bolsonaro sugeriu que os alunos depois usassem a internet para buscar uma fotografia de Cleópatra, dizendo que seria “muito difícil” estudar tendo ela ao lado. O presidente ainda perguntou aos alunos se eles queriam seguir algumas carreiras. Começou indagando sobre quem gostaria de ser astronauta, apontando para o ministro Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), militar ou policial, mas foi surpreendido quando viu a grande quantidade de estudantes que levantou a mão quando ele questionou quem gostaria de ser jornalista.