sexta-feira, 26 abril 2024

Bolsonaro tentará na ONU equilibrar melhora na imagem e aceno à base

Presidente deve anunciar doação de vacinas, mas tom de fala sobre ambiente é incerto  

Presidente da República, Jair Bolsonaro, discursará hoje na Assembleia Geral da ONU – Alan Santos/PR

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, faz nesta terça-feira (21) o discurso de abertura da 76ª Assembleia-Geral da ONU com o desafio de conciliar três frentes. Tentar melhorar a imagem do país (em especial nos quesitos pandemia e ambiente) e se aproximar do governo dos EUA — atendendo a apelos das alas mais moderadas do governo—, sem deixar de motivar sua base ideológica.

O presidente, que por mais de uma vez disse que ele próprio não se imunizou, deve anunciar em Nova York um projeto de doação de vacinas contra a Covid a países mais pobres da América Latina e do Caribe, como Paraguai e Haiti. Com isso, destacaria o Brasil como um país que avançou rapidamente na aplicação de doses e que, ao mesmo tempo, busca ajudar os vizinhos.

A informação de que o anúncio estaria no discurso foi ventilada por membros do governo. Até o final da tarde desta segunda (20), porém, a fala do presidente ainda estava sendo editada, para juntar propostas enviadas pelo Itamaraty, pela missão do Brasil na ONU e por integrantes do Palácio do Planalto.

A expectativa era a de que a versão final fosse fechada em cima da hora. A sessão na ONU começa às 9h (10h em Brasília). Bolsonaro deve destacar também ações do governo na área ambiental, como a antecipação da meta da neutralidade de carbono de 2060 para 2050, que já havia sido anunciada em abril.

Enquanto a ala pragmática do governo pedia por moderação, nos últimos dias, o presidente prometeu que diria “verdades” em seu discurso e disse que usaria a tribuna da ONU para, por exemplo, defender o marco temporal para demarcação de terras indígenas — o tema, em análise pelo STF (Supremo Tribunal Federal), pode dificultar a criação de novas reservas, o que é criticado por lideranças indígenas e ambientalistas.

Neste ano, o mote apontado pela ONU para a Assembleia-Geral é justamente debater a crise climática e a recuperação dos países pós-pandemia. Este será o terceiro discurso do líder brasileiro na ONU, e de novo há dúvidas sobre o quão fora dos padrões diplomáticos será sua fala.

Ataques a críticos

Em 2019, ele usou a tribuna para atacar críticos de sua política ambiental, a imprensa e países como Cuba e Venezuela. Em tom agressivo, que lembrava o da campanha eleitoral do ano anterior, disse que, antes de sua posse, o Brasil estava à beira do socialismo.

No ano passado, em discurso por vídeo (a Assembleia-Geral foi quase toda virtual, por causa da Covid), voltou ao tema. Disse que o Brasil era vítima de mentiras sobre as queimadas na Amazônia e que boa parte delas seria motivada por “causas naturais inevitáveis”. Também defendeu suas ações na pandemia e acusou a imprensa de disseminar pânico sobre a doença.

Em seguida a seu discurso neste ano, Bolsonaro pode ter alguns segundos de contato com o presidente americano, Joe Biden — na campanha americana de 2020, ele abertamente defendeu a reeleição de Donald Trump, de quem é próximo. Os dois ainda não se falaram oficialmente desde a posse do democrata, em janeiro, mas o tempo de encontro no plenário não deve ser suficiente para mais do que um aperto de mão ou uma conversa breve.

Biden fará seu primeiro discurso como presidente dos EUA na ONU. O democrata é um defensor dos acordos internacionais e prometeu aumentar a integração de seu país com o mundo, ao contrário do antecessor, Trump, que defendia uma América mais isolada.

Ele, no entanto, vem sendo criticado pela política externa. Os episódios mais recentes envolvem a retirada das tropas do Afeganistão, sem boa coordenação com aliados; e a revolta da França por um acordo fechado entre americanos e britânicos para fornecer submarinos para a Austrália — os franceses tinham um acerto similar com os australianos e perderam um negócio bilionário.

Nos dois casos, Biden foi comparado a Trump por agir de modo imprevisível e priorizar interesses dos EUA. Não é esperada uma reunião bilateral entre Biden e Bolsonaro nesta semana, mas conversas oficiais entre ministros e secretários dos dois países estão ocorrendo. Nesta terça, por exemplo, o chanceler Carlos França se encontrará com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken.

As conversas podem aproximar as relações aos poucos, mas há dúvidas sobre que passos são necessários para novas parcerias de peso. O governo americano tem dito que resultados ambientais concretos serão um fator fundamental para novos acordos, inclusive comerciais.

Ao menos o turismo poderá voltar a partir de novembro, já que o país anunciou que vai liberar a entrada de turistas internacionais, desde que vacinados, de países como o Brasil.

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