sábado, 20 abril 2024

Covid-19: Tratamento com anticorpos deve chegar antes

Cientistas de diversos países estão engajados no desenvolvimento de terapias para a Covid-19 baseadas em anticorpos. Resultados de estudos em fase inicial indicam que há uma boa chance de que o método funcione contra a doença, mas ele é considerado caro e depende de fábricas bem equipadas para manter uma produção adequada, que responda à demanda. 

Na avaliação de especialistas, o uso desses anticorpos como um remédio deve estar disponível antes de uma vacina, uma vez que os experimentos que atestam eficácia e segurança são mais simples e podem ser realizados em menos pessoas e em um período de tempo mais curto. 

Quando o corpo percebe a entrada do vírus, ele passa a produzir as proteínas que podem nos defender do invasor – os anticorpos. Quando o paciente não consegue gerar naturalmente a defesa contra o Sars-CoV-2 de forma eficiente, o parasita se multiplica e migra para outros órgãos que têm em suas células o receptor ECA-2, ao qual o vírus se conecta. 

Entre as partes que podem ser infectadas pelo novo coronavírus estão o sistema respiratório, o intestino e os rins. 

“Ainda estamos construindo o conhecimento sobre a Covid-19, mas há indícios de que a inflamação que ela causa nos pacientes em estado mais grave não permite que os anticorpos cheguem a ser produzidos”, explica a bióloga Ana Maria Moro, diretora do Laboratório de Biofármacos do Instituto Butantan. 

“Um produto com os anticorpos poderia fornecer o que a pessoa não conseguiu produzir por conta própria e evitar que o vírus chegue a outras partes do corpo”, completa. 

Um princípio semelhante é usado no tratamento que usa o sangue de pessoas recuperadas da Covid-19, já praticado no Brasil. Na terapia, é usada a parte líquida do sangue, chamada de plasma, que contém os anticorpos policlonais – uma variedade de proteínas protetoras produzidas por aquela pessoa. 

“Uma pessoa produz vários anticorpos diferentes, nossa capacidade de produzir essas proteínas é imensa. Mas nem todas elas podem neutralizar o vírus”, diz Moro. 

Assim, o ideal seria um tratamento que usasse os anticorpos monoclonais, ou seja, cópias de um único anticorpo com a função específica de combater o Sars-CoV-2. 

Para desenvolver a terapia, os cientistas fazem uma investigação dos anticorpos gerados pelo organismo dos recuperados da doença, testando as diversas moléculas dessa grande biblioteca de anticorpos. 

Os experimentos são feitos em culturas de células infectadas pelo vírus. O anticorpo mais potente para barrar a infecção pode seguir para os testes em animais e pessoas. Uma vez aprovado, é necessária a produção de uma célula que seja capaz de fazer a multiplicação daquele anticorpo, funcionando como uma fábrica. 

Mais de uma proteína deve funcionar contra a doença, segundo Wilma Carvalho Neves Forte, médica e professora de imunologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP). “Sabemos que são várias chaves que podem abrir essa fechadura, mais algumas vão funcionar melhor do que outras”, afirma a médica. 

Os anticorpos devem passar para outras fases de pesquisa, com testes em animais e pessoas que avaliem a segurança e a eficácia de seu uso. 

De acordo com Forte, é possível o uso de anticorpos também para prevenção. “Mas, inicialmente, a prioridade deve ser o uso nos pacientes com a doença”, afirma. 

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