sábado, 7 dezembro 2024

Covid causou a morte de 96 moradores de rua em São Paulo, diz estudo

No caso das mortes encontradas no levantamento, 35 eram de pessoas que efetivamente moravam na rua, em situação de calçada, e 61 eram pessoas acolhidas em serviços municipais 

O levantamento foi feito com base em dados do projeto Recovida, que vem atuando na pesquisa sobre a mortalidade durante a pandemia (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Um estudo feito pelo LabCidade (Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade) da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP e pela Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama identificou o dobro de mortes causadas pelo coronavírus entre moradores de rua da cidade de São Paulo do que o registrado pela prefeitura.

O levantamento foi feito com base em dados do projeto Recovida, que vem atuando na pesquisa sobre a mortalidade durante a pandemia. O estudo observou 96 óbitos da população em situação de rua, de março de 2020 a maio de 2021, quase o dobro do constatado pelo Consultório na Rua.

Os dados da prefeitura, segundo o estudo, confirmam, até novembro, 49 mortes de pessoas em situação de rua.
No caso das mortes encontradas no levantamento, 35 eram de pessoas que efetivamente moravam na rua, em situação de calçada, e 61 eram pessoas acolhidas em serviços municipais.

Os pesquisadores mapearam as mortes verificando informações inseridas por profissionais de saúde, achando indicações como “morador de rua”; “situação de rua” e “morador de área livre”. Além disso, foi feito o cruzamento com endereços de centros de acolhimento da Prefeitura de São Paulo.

O estudo também identificou o perfil dos mortos. A maioria é de homens (77%), percentual que cresce entre os que vivem efetivamente na rua (94,29%). “Todos os óbitos identificados são de adultos e idosos, 78,13% deles acima dos 50 anos de idade”, diz texto publicado pelos pesquisadores.

Entre os mortos, 75% apresentavam comorbidades. “Dentre esses, 27,08% possuíam alguma doença cardiovascular, 17,71% tinham problemas respiratórios e 12,5% eram fumantes. Ao analisarmos somente o grupo ‘situação de calçada’, 17,14% possuía tuberculose e 25,71% tinha alguma dependência de álcool e/ou drogas”. Segundo o estudo, 50% dos mortos são pretos ou pardos contra 44,79% brancos e 5,21% que tiveram a cor ignorada no preenchimento dos dados. Entre as pessoas na situação de calçada, a presença de negros é de 54,29%

A maioria das mortes (94.85%) aconteceu em hospitais. “Dos óbitos em hospital, 27,08% ocorreram na Santa Casa, nesse mesmo hospital estão registrados mais da metade dos óbitos identificados como “situação de calçada” (57,14%). A concentração de óbitos nessa unidade se relaciona com a grande presença de população em situação de rua no entorno”, afirma texto sobre o estudo.

Atualmente, a prefeitura encontra até mesmo dificuldade de quantificar a população de rua na cidade.
A empresa contratada pela Prefeitura de São Paulo para atualizar o censo da população de rua elaborou um relatório preliminar em que cita uma série de dificuldades para abordar os sem-teto, o que pode comprometer a dimensão real de quantas pessoas vivem nas ruas da capital atualmente.

De acordo com o documento enviado à Secretaria de Assistência Social no dia 9 de novembro, as equipes de abordagem relataram situações de risco em áreas onde há concentração de usuários de drogas e até dificuldade em acessar barracas em trilhas no matagal.

Segundo estimativas informais de grupos que auxiliam moradores de rua na capital paulista, atualmente, 35 mil pessoas, número 40% maior do que o apontado pelo último censo, divulgado em 2019, quando havia 25 mil. Questionada sobre o assunto, a gestão Ricardo Nunes (MDB) citou uma série de medidas de combate ao coronavírus entre a população de rua.

“A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal da Saúde, informa que iniciou a vacinação dos moradores de rua da capital com mais de 60 anos em 12 de fevereiro de 2021. Além disso, antecipou a entrega do Hospital Santa Dulce dos Pobres, na Bela Vista, que é referência em atendimento para pessoas em situação de rua. Até esta quarta-feira (12), foram aplicadas 50.106 doses na população em situação de rua, sendo, 20.703 como primeira dose; 16.995 em segunda dose; 7.054 doses única; e 5.354 doses adicionais. Em relação aos óbitos, até o momento, foram notificados 49”, diz nota da gestão.

Segundo a gestão, as equipes do Consultório de Rua atuam na atenção básica a essa população, com equipes multidisciplinares.

“Os profissionais realizam abordagens e acompanhamentos em consultas e desenvolvem vínculos com as pessoas que vivem em situação de rua na capital paulista. Assim é possível fazer a orientação e manter uma escuta qualificada, além de atuarem na oferta de curativos, medicações e vacinações, entre outros procedimentos”, diz.

A administração afirma que a empresa contratada para fazer o censo da população de rua vai finalizar seu trabalho em janeiro. Com isso, o trabalho pode ser concluído totalmente em fevereiro.

“Os dados do Censo 2021 irão revelar a nova realidade da população em situação de rua na cidade de São Paulo, após os impactos de dois anos de pandemia de Covid-19 somados ao agravamento da crise econômica”, diz a gestão, em nota.
A prefeitura afirma que também, desde março do ano passado, distribuiu 6 milhões de cestas básicas e 1,3 milhão de kits de higiene e limpeza para as famílias em situação de extrema vulnerabilidade na cidade e 8,6 milhões de refeições prontas à população vulnerável. 

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