Uma semana após o encerramento da Cúpula de Líderes sobre o Clima, organizada por Joe Biden, o enviado especial para o clima do governo americano, John Kerry, conversou nesta sexta-feira (30) com os ministros brasileiros Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Carlos França (Relações Exteriores). O auxiliar de Biden anunciou a reunião em suas redes sociais e disse que ela serviu para tratar sobre “os importantes novos objetivos” do Brasil na área climática.
“Estamos ansiosos para continuar a trabalhar juntos para colocar nosso mundo em um caminho para um futuro mais seguro, próspero e sustentável”, escreveu Kerry.
Durante a cúpula, na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro ofereceu uma fala que causou, no mínimo, estranhamento a quem observa a política ambiental considerada negligente de seu governo. O presidente brasileiro afirmou ter determinado a duplicação dos recursos destinados às ações de fiscalização ambiental no Brasil, comprometeu-se a alcançar a neutralidade climática até 2050 -dez anos antes da meta estabelecida anteriormente- e repetiu a promessa de acabar com o desmatamento ilegal até 2030.
No dia seguinte, porém, cortou verba do Ministério do Meio Ambiente ao sancionar o Orçamento de 2021.
Antes de saberem do corte e horas após a fala de Bolsonaro na cúpula, os americanos avaliaram o tom do líder brasileiro como “positivo” e “construtivo”, suficiente para seguir as conversas com o governo brasileiro, mas auxiliares de Biden dizem que a credibilidade de Bolsonaro se apoiará em “planos sólidos”.
O próprio Kerry havia se manifestado especificamente sobre o discurso de Bolsonaro na semana passada, dizendo que o brasileiro o havia surpreendido, mas questionou se ele iria cumprir o que prometeu.
“Alguns dos comentários que Bolsonaro fez hoje me surpreenderam. Isso é muito bom, isso funciona se você fizer essas coisas. A pergunta é: eles farão essas coisas? E como seguirão, aplicarão, fiscalizarão tudo isso?”, disse Kerry em coletiva na Casa Branca.
Os americanos ainda cobram, nos bastidores, que o discurso seja refletido em ações práticas e que resultados tangíveis sejam vistos ainda neste ano.
Por outro lado, celebram o que consideram uma moderação retórica do brasileiro. Ainda segundo um porta-voz do Departamento de Estado, alcançar a neutralidade de carbono até 2050, dez anos antes do compromisso anterior e sem pré-condições, é significativo, assim como o compromisso de dobrar os fundos disponíveis para fiscalização.
A visão otimista é vantajosa para Biden, que tenta se consolidar como líder na reconfiguração da geopolítica mundial, ditada pelo clima, em que o Brasil é um personagem-chave. Conseguir um comprometimento de Bolsonaro era considerado pela Casa Branca uma vitória, apesar de os americanos esperarem um cronograma mais detalhado sobre como o país vai atingir suas metas, o que não apareceu no discurso elaborado no Planalto
Salles chegou a pedir US$ 1 bilhão para se comprometer com a redução de até 40% do desmate da Amazônia no próximo ano, mas os americanos dizem que só liberam dinheiro perante resultados.