O novo coronavírus pode ter atingido Los Angeles, nos EUA, antes de ter sido notificado pela China à OMS (Organização Mundial da Saúde), segundo um novo estudo publicado na revista JMIR (Journal of Medical Internet Research) no último dia 10 de setembro e realizado por pesquisadores da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) e da Universidade de Washington.
Os pesquisadores fizeram uma análise retrospectiva de um banco de dados de 3 hospitais e mais de 180 clínicas ligadas ao sistema de saúde da UCLA que respondem por 2,5 milhões de pacientes anualmente.
Os cientistas compararam as médias móveis semanais dos atendimentos cujo registros incluíam a palavra “tosse”, no intervalo de 1º de julho de 2014 a 29 de fevereiro de 2020.
A partir do dia 22 de dezembro, a quantidade de atendimentos que incluíam a palavra “tosse” e as hospitalizações por insuficiência respiratória ficaram acima da média móvel para o mesmo período nos cinco anos anteriores. O excesso se manteve em seis das dez semanas seguintes (no caso da presença da palavra tosse) e sete semanas das dez (no caso das hospitalizações).
Até o dia 22 de dezembro, as taxas previstas por um modelo de predição com 95% de eficácia estavam dentro do esperado. No entanto, entre 22 de dezembro e 29 de fevereiro, os registros de pacientes com tosse e as internações por insuficiência respiratória aguda aumentaram.
“Um número significativamente maior de pacientes com doenças e queixas respiratórias começando no final de dezembro de 2019 e continuando até fevereiro de 2020 sugere a disseminação da Sars-CoV-2 na comunidade [Los Angeles] antes do conhecimento clínico estabelecido e das capacidades de teste”, concluíram os pesquisadores.
A cada mil atendimentos em ambulatórios, 1,6 a mais do que o previsto foi registrado com “tosse” no caso otimista –quando o total de pacientes atendidos naquele período é comparado com o total de pacientes do mesmo período nos cinco anos anteriores.
Quando os dados foram comparados com a média móvel dos anos anteriores, a quantidade de visitas a mais registradas foi de duas para cada mil atendimentos.
Em se tratando das idas ao pronto socorro com tosse, foram registradas 11 visitas em excesso a cada mil na estimativa otimista e 19,2 na comparação com a média móvel, também a cada mil.
O aumento mais expressivo foi observado nas internações. Quando comparados os dados com o máximo de pacientes (estimativa mais otimista), houve 21,4 visitas em excesso a cada mil. Já em comparação com a média móvel, foram 39,1 visitas a mais do que o esperado para o período a cada mil internações.
Em números absolutos, foram contabilizadas 168 visitas a ambulatórios, 56 idas a prontos socorros e 18 hospitalizações por insuficiência respiratória aguda.
Vírus foi encontrado no Brasil em novembro de 2019. Não é a primeira vez que um estudo sugere que o coronavírus tenha sido detectado (mas não reconhecido) fora da China antes mesmo da notificação do Sars-CoV-2 à OMS.
Em julho, um estudo em pré-print, ou seja, sem revisão de pares, realizado por pesquisadores da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) em parceria com a Universidade de Burgos, na Espanha, indicava que amostras de esgoto de Florianópolis (SC) colhidas em 27 de novembro de 2019 já continham registros do RNA do novo coronavírus.
Assim como os pesquisadores dos EUA, os brasileiros também concluíram que é possível que tenha havido casos do novo coronavírus fora da China antes da notificação da OMS no último dia de 2019.
Não há, no entanto, como ser categórico quanto ao assunto. Ambas as pesquisas indicam a necessidade de mais estudos para averiguar a possibilidade de o coronavírus ter viajado o mundo antes do que se imaginava.