Resultado enterra objetivo governista de controlar o Congresso
O governo argentino sofreu neste domingo (12) um forte revés nas eleições primárias legislativas, praticamente irreversível. Na prática, a magnitude da derrota enterra o objetivo governista de controlar o Congresso e se traduz em uma reprovação da gestão do presidente Alberto Fernández, na metade do seu mandato.
Na votação, os argentinos definiram as suas preferências para as eleições do próximo 14 de novembro, quando renovarão metade da Câmara de Deputados e um terço do Senado. No entanto, o próprio presidente Alberto Fernández fez deste pleito uma espécie de plebiscito de seu governo, iniciado em dezembro de 2019. No final da noite de domingo, o chefe de Estado admitiu ter sido reprovado.
“Evidentemente, alguma coisa não fizemos bem para que as pessoas não votassem em nós como esperávamos. Escutamos o veredito com respeito e com muita atenção”, disse Fernández, ao aceitar a derrota durante discurso. As eleições primárias na Argentina são uma das poucas no mundo abertas e obrigatórias a toda a população.
O voto vai para quem o eleitor gostaria de ter como candidato, definindo também a preferência para as eleições gerais. Assim, o resultado atual permite ver claramente quem deve vencer no futuro.
Para o analista político Lucas Romero, diretor da consultora Synopsis, não há dúvidas de que o pleito serviu como uma avaliação da gestão do presidente Alberto Fernández e que o resultado indicou que a maioria da população não está satisfeita com o governo. “Funciona, na prática, como um primeiro turno com uma tendência irreversível. Neste caso, o voto dos argentinos foi um castigo ao governo pela forma como administra a economia, a pandemia e a situação social em geral”, afirma Romero.
“Surra eleitoral”
Na preferência para deputados, o governo perdeu em 18 das 24 províncias. Para senadores, ganhou em apenas duas. “Se o desafio do governo era consolidar a sua atual maioria no Senado e conseguir controlar a Câmara de Deputados, este resultado indica que não só ficou longe de controlar uma maioria de deputados como deverá perder a maioria no Senado. Aconteceu o contrário do que esperavam”, indica o analista político Sergio Berensztein.
Os principais colégios eleitorais do país são a província de Buenos Aires, com 37% dos eleitores, a província de Córdoba, com 8,69%, a província de Santa Fé, com 8,06%, e o Distrito Federal de Buenos Aires, com 7,43%.
Na principal disputa, a província de Buenos Aires, onde as eleições se definem, os candidatos governistas ficaram com 33,6%, enquanto a oposição somou 38%. Em todas as demais regiões, a oposição obteve entre 40% a 48% dos votos, enquanto os governistas obtiveram entre 11% e 29%. A magnitude da derrota não foi detectada por nenhuma pesquisa eleitoral.
“Se a mãe de todas as batalhas era a província de Buenos Aires, o governo perdeu a principal batalha. Se as eleições definem quem terá o controle do Congresso, o governo perdeu esse controle. Foi uma verdadeira surra eleitoral”, interpreta o analista Rosendo Fraga.
Mercado deve reagir bem
Os analistas financeiros esperam uma boa reação do mercado com aumento das ações de empresas do país e com menor pressão de desvalorização contra o peso argentino. O governo de Alberto Fernández se caracteriza pelas medidas intervencionistas e contra as regras de mercado.
Por outro lado, existe apreensão sobre eventuais medidas que o governo possa tomar para tentar atenuar a derrota ou reverter o resultado eleitoral até novembro. Um dos maiores temores é quanto à possibilidade de o governo, para injetar dinheiro na economia, acelerar a emissão monetária sem respaldo financeiro, alimentando uma inflação anual já superior a 50%.
“Aprendemos dos erros. A partir de amanhã, vamos trabalhar para resolver o problema e virar o resultado até 14 de novembro”, prometeu o presidente argentino durante seu discurso, no domingo.