Durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, nesta terça-feira (27), o ministro da Economia Paulo Guedes afirmou que não tem apego ao cargo. Fica “se o presidente apoiar as coisas que podem resolver o Brasil”.
O ministro falou por cinco horas. Apesar de pontuar avanços da gestão do governo, criticou a capacidade de articulação do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro.
Guedes foi convidado a falar sobre a dívida da União com estados no FEX (Auxílio Financeiro de Fomento das Exportações) e na Lei Kandir (que compensa estados pela isenção de impostos a exportadores). Mas prevaleceram temas ligados à reforma da Previdência.
Guedes tratou de suas expectativas no cargo justamente ao ser questionado se permaneceria no governo caso a reforma não seja aprovada.
“Acredito numa dinâmica virtuosa da nossa democracia. Tenho certeza de que os partidos, em especial os poderes, cada um vai fazer o seu papel. Em segundo lugar, se o presidente apoiar as coisas que podem resolver o Brasil, estarei aqui. Agora se ou o presidente ou a Câmara, ninguém quer aquilo, eu vou obstaculizar o trabalho dos senhores? De forma alguma, voltarei para onde sempre estive”.
O ministro disse, porém, que tampouco considera deixar o cargo na primeira derrota. “Eu venho para ajudar. Se o presidente não quer, se o Congresso não quer… vocês acham que vou brigar para ficar aqui? Estou aqui para servi-los”, disse Guedes.
“Agora se ninguém quiser o serviço, vai ser um prazer ter tentado, não tenho apego ao cargo, como também não tenho inconsequência e a irresponsabilidade de sair na primeira derrota, desistir”.
Guedes afirmou que o governo tem trabalhado e está tentando acertar, mas, no Congresso, parece enfrentar a si mesmo. “Quando parte para ações no Congresso, o próprio opositor dele [o governo] é ele mesmo. Então algo está falhando do nosso lado”, disse.
“Realmente é assustador, ontem eu tomei um susto. O aviso que eu tinha é: ‘você foi convocado para ir num lugar onde não tem relator, todo mundo vai atirar pedra e seu partido vai atirar também porque estão contra a reforma’. Não entendi mais nada”, disse Guedes, explicando porque não compareceu na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara terça-feira (26), como estava previsto.
O descontentamento de Guedes com o PSL foi antecipado pela Folha de S.Paulo nesta quarta-feira (27).
O ministro disse que, em seu cálculo político, o PSL deveria fechar questão em apoio à reforma, mesmo apoiando mudanças no texto. A líder do governo no Congresso, a senadora Joice Hasselman (PSL-SP), disse nesta terça à noite que o PSL fecharia questão. O DEM também fecharia questão, na visão de Guedes, uma vez que ocupa ministérios e já se posicionou a favor da reforma.
Em outro momento da audiência, o ministro afirmou que irá à CCJ na semana que vem, seguindo acordo firmado entre o líder do partido da Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), e a oposição.
Guedes disse que foi orientado pela equipe política do governo a não ir. “Eu vou à Câmara na semana que vem. Eu fui aconselhado a não ir. Me disseram: ‘você vai chegar lá e seu partido vai atirar em você, além disso a oposição vai atirar em você, além disso não tem relator, você vai perder seu tempo’. Então essa é a orientação? OK. Mas já está marcado para a semana que vem, eu vou lá”, disse.
“Parece que não vou levar tiro pelas costas do nosso partido, talvez só pela frente”.
O ministro respondeu ao questionamento do senador Major Olímpio (PSL-SP) sobre a interpretação da equipe econômica da emenda constitucional que engessa ainda mais o Orçamento federal, aprovada na Câmara na noite de terça.
Olímpio pediu ao ministro que explicasse a lógica do governo.
“Não entendi ainda qual foi a lógica do governo. Quero saber agora qual é a posição do governo diante disso. Minha avaliação primeira é que engessa mais ainda o Orçamento, tira do governo a possibilidade de fazer modificações de conteúdos orçamentários. Se o governo entender que isso está dentro da lógica, não tem porque nos opormos aqui. Por isso vou questionar o ministro Paulo Guedes”, disse Olímpio.
Parte dos parlamentares, inclusive o filho do presidente Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), votou a favor da emenda.
Na avaliação de Guedes, a aprovação da emenda do Orçamento tem um sinal positivo e outro negativo.
“Foi uma disputa de espaço político. Foi mostrado o seguinte: vocês têm uma reforma que acham importante, que tem seis meses para aprovar, que é a Previdência. Pode ser aprovado em dois dias, pode ser aprovado até no mesmo dia”, disse Guedes.
Guedes criticou a inserção de mais um gasto “carimbado” no Orçamento –emendas parlamentares.
Mas afirma que se o carimbo dá preferência a emendas que vão para estados e municípios, ela vai no sentido positivo, de descentralizar recursos do governo central para estados e municípios.