Quando eu penso em Petrobras, eu penso que a gente deveria privatizar a Petrobras, mas eu não tenho votos, sou só um ministro das Finanças
O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou que a troca no comando da Petrobras não é um problema dele e que deseja boa sorte ao novo presidente da companhia.
Guedes participou de entrevista coletiva à imprensa francesa e internacional nesta terça-feira (29), na Embaixada do Brasil em Paris, onde, meio contrariado, comentou o anúncio do novo presidente da Petrobras, Adriano Pires: “Não é problema meu”.
Em Paris para acelerar o processo de adesão do Brasil à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o ministro, que se autodeclarou liberal repetidas vezes, disse sonhar em privatizar a estatal e que “o novo presidente da Petrobras é menos importante que a sua privatização”.
Na entrevista, que durou mais de uma hora, em inglês, repetiu que já havia indicado um presidente para a Petrobras no início do mandato de Bolsonaro, Roberto Castello Branco.
Castello Branco afirmaria, depois da sua demissão, em 2021, que teria sido afastado do cargo porque se manifestara a favor da privatização de empresas estatais, o que teria irritado o presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Quando eu penso em Petrobras, eu penso que a gente deveria privatizar a Petrobras, mas eu não tenho votos, sou só um ministro das Finanças. Eu não tenho nada a comentar sobre a Petrobras”, afirmou Guedes.
Quando os jornalistas presentes insistiram no assunto, Guedes disse: “O que eu posso dizer? Desejo boa sorte ao presidente da Petrobras. Estou mais preocupado com a guerra, como vamos atenuar os impactos de preços, reduzir os impostos é o primeiro passo, pensar em reforçar ajudas para os mais frágeis, se os preços continuarem subindo, deve ser o segundo passo.”
Alternando um discurso declaradamente liberal a um discurso social –que agrada ao público europeu–, o ministro afirmou que devem ser privatizadas pelo governo até o final do ano Eletrobras, Correios e os aeroportos do Galeão, Santos Dumont e Congonhas.
Segundo ele, o dinheiro das privatizações deveria servir para ajudar os mais pobres. “Por que não distribuímos, além de renda, nossas riquezas?”, questionou o ministro.
Ele comparou a situação do Estado brasileiro com o francês, que tem bilhões de dólares em estruturas e empresas estatais e de vez em quando vemos alguém dormindo debaixo da Torre Eiffel.
Faça uma transferência de renda, ou melhor, uma transferência de riqueza (do Estado) para ajudá-lo a comprar uma moradia. Eu acho que é melhor do que ter uma empresa estatal que produz uma commodity, eu prefiro vender e dar o dinheiro para os pobres. Acho que teria um impacto muito maior na economia.”
O ministro disse que, como bom liberal, quer remover impostos e que, se pudesse, reduziria os tributos federais a zero. Mas que é contra o subsídio para os combustíveis.
“Isso iria ajudar aos ricos que têm jatinhos, helicópteros, barcos”. Para abordar esta questão, Guedes citou o método socrático (dialético): subsidiar a gasolina ou apostar numa agenda verde? Eu não acho que subsidiar a gasolina seja a maneira mais inteligente”, declarou.
Adesão à OCDE
No final da coletiva, já em português, o ministro resumiu a visita a diversos diretores e delegados da OCDE.
O Brasil está muito bem posicionado nesta lista de acesso à OCDE, todos os protocolos estão em andamento. Nós tivemos excelentes reuniões aqui com os diretores das respectivas áreas –legal, de relações globais, tributárias– e nós estamos fazendo convergências em direção às melhores práticas que são usadas internacionalmente”.
Em 25 de janeiro deste ano, os 38 membros do Conselho OCDE decidiram, por unanimidade, convidar o Brasil (junto com mais cinco países: Argentina, Peru, Romênia, Bulgária e Croácia) a dar início ao processo formal de ingresso na organização, que reúne as economias mais avançadas do mundo.
Segundo Guedes, há um reconhecimento de que o Brasil tem feito um bom trabalho e de que o país é um candidato muito forte, em relação aos outros. “Há uma percepção de que o Brasil está bem à frente. Basta ver a lista de instrumentos. São 240 e poucos instrumentos, já temos 104 ou 105 avançados e mais 70 em andamento”.
Sobre as eleições presidenciais de outubro, o ministro declarou: “Se nós tivermos aqui, acho que a convergência vai ser muito rápida. Mas se tiver com gente que é contra a privatização, contra abrir a economia, a favor de recuar em todas as reformas que foram feitas, que aliás nunca deu prioridade nenhuma a entrar na OCDE –os governos anteriores não tinham esta prioridade– então vai ter um retrocesso importante”, finalizou.