
A participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou, mas a igualdade salarial entre gêneros segue distante nas empresas brasileiras de grande porte. Segundo o 4º Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, divulgado nesta segunda-feira (3) pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), as mulheres recebem, em média, 21,2% menos que os homens nas 54.041 empresas com 100 ou mais funcionários.
O levantamento, baseado em informações da RAIS entre o segundo semestre de 2024 e o primeiro de 2025, analisou 19,4 milhões de vínculos trabalhistas — 41,1% de mulheres e 58,9% de homens. A remuneração média feminina é de R$ 3.908,76, enquanto a masculina alcança R$ 4.958,43.
Diferenças persistem e afetam principalmente mulheres negras
A subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho, Paula Montagner, afirmou que as empresas precisam avançar na implementação de planos de ação para promover a igualdade salarial. “Precisamos acelerar esse processo”, disse.
A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, destacou que a desigualdade também é racial. “É inaceitável que mulheres negras recebam metade do rendimento de homens não negros. É preciso intensificar políticas de apoio, como a ampliação da licença-paternidade e o auxílio-creche, e redistribuir o trabalho doméstico para que mais mulheres possam construir suas trajetórias profissionais de forma justa”, afirmou.
Os dados mostram que as mulheres negras têm rendimento médio 53,3% menor que os homens não negros. O salário mediano de admissão é de R$ 1.836,00 para mulheres negras, contra R$ 2.764,30 para homens não negros.
Avanços tímidos e dados regionais
A proporção de mulheres ocupadas subiu de 40% em 2023 para 41,1% em 2025, elevando o número de trabalhadoras de 7,2 milhões para 8 milhões. A massa de rendimentos das mulheres aumentou de 34,1% para 35% do total.
Se a participação na massa salarial acompanhasse a proporção de mulheres no mercado de trabalho, R$ 92,7 bilhões a mais seriam incorporados à economia. Os estados com maiores diferenças salariais são Paraná e Rio de Janeiro (28,5%), seguidos por Santa Catarina e Mato Grosso (27,9%) e Espírito Santo (26,9%). As menores desigualdades estão no Piauí (7,2%) e Amapá (8,9%).
Entre os fatores apontados pelas empresas para justificar as diferenças estão o tempo de experiência (78,7%), metas de produção (64,9%) e planos de cargos e salários (56,4%).
Ações de fiscalização e políticas de apoio
O MTE realizou 787 fiscalizações em 2025, alcançando cerca de um milhão de empregados. Destas, 319 foram concluídas e 154 resultaram em autos de infração. Das 54 mil empresas analisadas, 71% publicaram seus relatórios de igualdade salarial.
A Lei nº 14.611, sancionada em julho de 2023, determina que empresas com 100 ou mais empregados adotem medidas para assegurar igualdade de remuneração, promovendo transparência e canais de denúncia. A igualdade salarial entre homens e mulheres é prevista na CLT desde 1943, mas ainda é descumprida por muitas companhias.
Ações e políticas para diversidade
O relatório também avaliou ações corporativas para inclusão e diversidade:
- 38,9% das empresas têm políticas de promoção de mulheres;
 - 29,6% incentivam a contratação de mulheres;
 - 23,1% priorizam a contratação de mulheres negras;
 - 19,7% contratam mulheres com deficiência;
 - 18,9% promovem a contratação de mulheres chefes de família;
 - 18,8% adotam medidas para pessoas LGBTQIA+;
 - 7,8% incentivam a contratação de mulheres indígenas;
 - 7,3% contratam mulheres vítimas de violência.
 
Parentalidade e jornada de trabalho
Para ampliar a participação feminina, o MTE destaca a importância de políticas de apoio à parentalidade. Licenças estendidas para homens e mulheres são praticadas por 20,9% das empresas. O auxílio-creche é oferecido por 21,9%, enquanto a flexibilidade de jornada está presente em 44% dos estabelecimentos.





