À PF, Ribeiro afirmou que abriu sua pasta de documentos para pegar sua arma e separá-la do carregador
O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro disparou uma arma nesta segunda-feira (25) enquanto fazia check-in no balcão de uma companhia aérea no aeroporto de Brasília. Segundo ele, o disparo foi acidental.
Ninguém se feriu, mas Milton Ribeiro foi encaminhado à Polícia Federal para esclarecer as circunstâncias do episódio.
Em seu depoimento, Ribeiro atrelou o disparo acidental de seu revólver a uma tentativa de tirar suas munições sem expor a arma publicamente. À PF, Ribeiro afirmou que abriu sua pasta de documentos para pegar sua arma e separá-la do carregador.
“O declarante com medo de expor sua arma de fogo publicamente no balcão, tentou desmuniciá-la dentro da pasta, ocasião em que ocorreu o disparo acidental”, diz trecho do depoimento. Segundo o ex-ministro, o espaço dentro da pasta ficou “pequeno para manusear a arma”.
O disparo, disse ele, perfurou o coldre onde estava a arma, a pasta e se espalhou no chão no aeroporto. “Após o acontecido, o próprio declarante indagou às pessoas que foram ao local do incidente se alguém havia sido atingido pelos estilhaços, momento em que não apareceu qualquer vítima”, consta no depoimento dado na superintendência da PF no Distrito Federal.
O ex-ministro
Ribeiro é alvo de inquérito na PF aberto para apurar as suspeitas sobre a atuação dos pastores Gilmar Santos e Arílton Moura na liberação de verbas do MEC e do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).
O ex-ministro pediu demissão do cargo em 28 de março, uma semana após a Folha revelar a gravação em que ele diz priorizar a liberação de verbas a prefeitos indicados pelos pastores. “Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”, diz o então ministro na conversa em que participaram prefeitos e os dois religiosos.
Os dois pastores têm proximidade com Jair Bolsonaro desde o primeiro ano do governo. Documento divulgado pelo Gabinete de Segurança Institucional na quinta (14) mostra que Moura esteve ao menos 35 vezes no Palácio do Planalto desde o início do governo Bolsonaro. Em 10 delas, Santos estava acompanhado.
Após a divulgação do áudio, prefeitos afirmaram que os dois pastores pediam propina em troca da atuação na liberação de verbas. O prefeito Gilberto Braga (PSDB), do município maranhense de Luis Domingues, disse que Arilton Moura pediu 1 kg de ouro para conseguir liberar verbas de obras de educação para a cidade.
A declaração do prefeito foi dada ao jornal O Estado de S. Paulo, e a Folha confirmou com outras duas pessoas presentes no local onde o pedido de propina foi feito. O prefeito de Piracicaba (SP), Luciano Almeida (União Brasil), por sua vez, afirmou à Folha ter recebido pedido de dinheiro para que o município abrigasse um evento com a presença de Ribeiro em agosto de 2021.
A Folha de S.Paulo mostrou em reportagens como sob a gestão de Ribeiro e com políticos do centrão no controle das transferências de recursos federais, o MEC virou uma espécie de balcão político no governo Bolsonaro.
Dados oficiais da pasta mostram uma explosão de aprovações de obras, ausência de critérios técnicos, burla no sistema e priorização de pagamentos a aliados. Uma das formas utilizadas para atender aos pleitos de políticos e dos pastores foi fracionar empenhos (que reservam o dinheiro de obras) em pequenas quantias.
Assim, disparou o valor total autorizado, que se relaciona à previsão do custo total dos projetos. Entre 2017 e 2019, a média de valores aprovados por ano pelo FNDE era de R$ 82 milhões. Em 2020, saltou para R$ 229,4 milhões e, no ano passado, pulou para R$ 441 milhões.