Os dados, levantados pelos Cartórios de Registro Civil do Brasil (Arpen) mostram que, no primeiro semestre deste ano, nasceram 1.313.088 bebês e, destes, 86.610 não têm o nome do pai nos documento
O mesmo Brasil que discute o direito ao aborto garantido por lei a meninas estupradas, tema que ganhou repercussão com a recente história da gravidez de uma criança de 11 anos no Sul, registra o maior número de bebês sem o nome do pai na certidão desde o primeiro semestre de 2018.
Os dados, levantados pelos Cartórios de Registro Civil do Brasil (Arpen) mostram que, no primeiro semestre deste ano, nasceram 1.313.088 bebês e, destes, 86.610 não têm o nome do pai nos documento. No mesmo período de 2018, foram 1.452.161 recém-nascidos, dos quais 78.798 ficaram sem o nome do pai. O total de registros monoparentais cresceu 1,2% em cinco anos, sobretudo pela negligência dos homens.
A constatação ganha ainda mais relevância quando se observa que 2022 teve, entre janeiro e junho, o menor número de nascimentos dos últimos quatro anos. Mesmo com a queda da natalidade, aumenta a legião de mães solo.
Sem ter apoio para cuidar de seu recém-nascido e com dificuldade de conseguir emprego, C., de 34 anos, que não se identifica porque também foi vítima de violência doméstica, sente o peso da solidão na maternidade. Após ter sido agredida ainda grávida e saído de casa, ela só teve como opção registrar o filho, hoje com 3 anos, apenas em seu nome, e criá-lo sozinha. Acolhida na casa de amigos em Niterói, C. conta que o pai da criança nunca mais procurou por ela ou pelo filho. Até hoje, o ex-companheiro não conhece a criança.
“Eu optei por não colocar o nome pela minha paz e pela paz do meu filho. É muito chato quando perguntam por que meu filho não tem o nome do pai. Sempre me olham como se eu tivesse feito a escolha errada do parceiro, e não que ele tivesse errado ao não assumir o próprio filho” diz C., que não chegou a pedir uma medida protetiva por temer que o processo fosse demorado e dispendioso.
Na série histórica de janeiro a junho, o número de crianças sem o registro paterno só se aproxima das estatísticas de 2019, que eram as piores até o início deste ano. Naquele ano, 84.480 bebês, de um total de 1.464.025 nascimentos, foram registrados apenas no nome da mãe. Em 2020, foram 77.863 crianças sem o pai na certidão e, em 2021, 82.203 recém-nascidos nessas condições.
Com informações OGLOBO.