terça-feira, 26 novembro 2024

Pezão tinha esquema próprio de corrupção, diz PGR

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou em entrevista coletiva, nesta quinta-feira, que crimes “muito graves” justificaram a prisão do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (MDB), hoje de manhã.

Dodge disse que o que existe no Rio de Janeiro é um “esquema criminoso que ainda não cessou”. “As informações são de que a organização criminosa continua atuando, especialmente na lavagem de dinheiro”, afirmou.

Pezão foi preso hoje de manhã na Operação Boca de Lobo, desdobramento da Operação Lava Jato no estado, com autorização do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Ele é suspeito de ter participado do suposto esquema de corrupção de seu antecessor, Sérgio Cabral, que está preso, e liderar o mesmo esquema e um próprio, fato novo das investigações.

Pezão é o quarto governador do Rio de Janeiro preso nos últimos anos, e o primeiro detido durante o exercício do cargo na história recente do estado. Antes dele, foram presos Sérgio Cabral, Rosinha Garotinho e Anthony Garotinho – Cabral em decorrência de investigações da Lava Jato e o casal Garotinho por investigações da Justiça Eleitoral.

LIDERANÇA
A procuradora-geral disse que o governador atual do Rio assumiu a liderança do esquema. “Na versão feita ao STJ, os fatos não se iniciam agora. Mas que mesmo depois das prisões já feitas dos que lideraram até recentemente, houve uma nova liderança e nessa perspectiva que reponta a participação de Pezão, que assume a liderança deste esquema”, acrescentou.

Dodge ainda disse que a investigação tenta localizar o dinheiro de propina para que o montante seja devolvido. O governador foi apontado pelo economista Carlos Miranda, delator que afirma ter sido o gerente da propina de Cabral, como beneficiário de uma mesada de R$ 150 mil durante a gestão do ex-governador (2007 a 2014).

A procuradora Raquel Dodge afirmou que um fato novo também justificou a prisão de Pezão. “Ficou demonstrado que, apesar de ter sido homem de confiança de Sérgio Cabral e assumido papel fundamental naquela organização criminosa, inclusive sucedendo-o na sua liderança, Luiz Fernando Pezão operou esquema de corrupção próprio, com seus próprios operadores financeiros”, afirmou.

Segundo a procuradora, cabia a Pezão dar suporte político aos demais membros da organização que estão abaixo dele na estrutura do poder público. De acordo com Dodge, o governador  recebeu “valores vultosos, desviados dos cofres públicos e que foram objeto de posterior lavagem”.

De acordo com a PGR (Procuradoria-Geral da República), “há registros documentais, nos autos, do pagamento em espécie a Pezão de mais de R$ 25 milhões no período 2007 e 2015”, o que seria incompatível com o patrimônio declarado pelo político para a Receita Federal. Em valores atualizados, o montante é de cerca de R$ 39 milhões.

PRISÃO
Agentes da PF chegaram ao Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador, às 6h da manhã. Às 7h40 viaturas saíram levando Pezão para o prédio da Polícia Federal (PF), no centro do Rio de Janeiro.

Além da residência oficial do governador, a PF também cumpriu mandados de busca e apreensão no Palácio Guanabara e na residência de Pezão, no município de Piraí.

Outras oito pessoas tiveram prisão preventiva decretada e 30 mandados de prisão foram cumpridos. Entre elas estão José Iran Peixoto Júnior, secretário de Obras; Affonso Henriques Monnerat Alves da Cruz, secretário de Governo; Luiz Carlos Vidal Barroso, servidor da secretaria da Casa Civil e Desenvolvimento Econômico, e Marcelo Santos Amorim, sobrinho do governador.

Também estão entre os alvos Cláudio Fernandes Vidal, sócio da J.R.O Pavimentação; Luiz Alberto Gomes Gonçalves, sócio da J.R.O Pavimentação; Luis Fernando Craveiro de Amorim e César Augusto Craveiro de Amorim, ambos sócios da High Control.

A prisão de Pezão é decorrente da delação premiada de Carlos Miranda, operador financeiro de Sergio Cabral, e que, após dois anos detido em Benfica, passou ao regime de prisão domiciliar na semana passada. Segundo Miranda, Pezão recebia uma mesada de R$ 150 mil mensais (em espécie), 13º salário e dois bônus de R$ 1 milhão.

De acordo com a Polícia Federal, o esquema de desvio de valores pagos em contratos de empresas com o governo, fraudes em licitações e mesadas pagas a agentes públicos por grupos com interesse no Executivo e no Legislativo desviou ao menos R$ 40 milhões de 2007 até o momento, em valores atualizados.

Durante coletiva de imprensa realizada no Rio na manhã desta quinta-feira (29), a PF não detalhou as provas que sustentam o pedido de prisão, já que o processo corre em segredo de Justiça e as investigações estão em andamento.  Os investigadores disseram apenas que Pezão foi preso para que a investigação possa identificar possíveis valores recebidos pelo governador.

Pezão será encaminhado para um presídio em Niterói, região metropolitana do Rio, onde também está preso em razão da Lava Jato o ex-procurador geral de Justiça do Estado Claudio Lopes.

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