quarta-feira, 4 dezembro 2024

Pós-Covid: risco elevado de problemas neurológicos e psiquiátricos continua até dois anos após infecção

Pesquisa observou mais de 1,2 milhão de pessoas e constatou risco aumentado de desenvolver psicose, demência, ‘névoa mental’ e convulsões após infecção pelo vírus

Profissional de saúde prepara dose de vacina contra a Covid-19 em Porto Alegre — Foto: Cristine Rochol/PMPA

Pessoas que tiveram Covid-19 permanecem com risco elevado de desenvolver problemas neurológicos e psiquiátricos por até dois anos após a infecção, sugere uma pesquisa da Universidade de Oxford publicada nesta quarta-feira (17).

O estudo, publicado na revista “The Lancet Psychiatry”, do grupo “The Lancet”, observou pacientes que tiveram Covid e fez uma comparação com pessoas que tinham sido infectados com outros vírus respiratórios.

Entre os problemas que apareceram mais após a infecção pelo coronavírus estão psicose, demência, “névoa mental” e convulsões. Os idosos (acima de 65 anos) tiveram ainda mais risco de desenvolver um transtorno do que os adultos (de 18 a 64 anos).

A pesquisa também identificou um risco maior, entre adultos, de desenvolver depressão e ansiedade, mas que diminuiu dentro de dois meses após a infecção.

É uma boa notícia que o maior risco de diagnósticos de depressão e ansiedade após a Covid-19 é de relativamente curta duração e não há aumento no risco desses diagnósticos em crianças, avaliou Maxime Taquet, professor de Oxford que liderou as análises.

No entanto, é preocupante que algumas outras condições, como demência e convulsões, continuem a ser diagnosticadas com mais frequência após a Covid, mesmo dois anos depois, observou.

As observações foram feitas com base em 1,25 milhão de registros públicos de saúde de pacientes dos Estados Unidos que tiveram Covid desde o início da pandemia, em janeiro de 2020.

Os resultados têm implicações importantes para pacientes e serviços de saúde, pois sugerem que novos casos de condições neurológicas ligadas à infecção por Covid-19 provavelmente ocorrerão por um tempo considerável após o término da pandemia, apontou Paul Harrison, autor sênior do estudo.

Crianças e adolescentes

O estudo foi o primeiro em larga escala a analisar o risco de problemas neurológicos e psiquiátricos em crianças que tiveram Covid: ao todo, foram incluídos mais de 185 mil menores de 18 anos.

As crianças e adolescentes também passaram a ter probabilidade maior de desenvolver convulsões e problemas psicóticos, mas o risco foi menor do que o visto entre adultos.

A pesquisa também foi pioneira em avaliar como os riscos mudam conforme o surgimento de novas variantes: a variante delta foi associada a mais distúrbios do que a variante alfa, “original”. Já a variante ômicron foi associada a riscos neurológicos e psiquiátricos semelhantes aos da delta.

O surgimento da variante delta foi associado a um aumento no risco de várias condições; no entanto, é importante observar que o risco geral dessas condições ainda é baixo, observou Taquet.

Com a ômicron como a variante dominante, embora vejamos sintomas muito mais leves diretamente após a infecção, taxas semelhantes de diagnósticos neurológicos e psiquiátricos são observadas como com a delta, sugerindo que a carga sobre o sistema de saúde pode continuar mesmo com variantes menos graves em outros aspectos, lembrou.

Estudo anterior

Desde o início da pandemia, cientistas vêm descobrindo evidências de que pessoas que já tiveram Covid podem correr maior risco de desenvolver doenças neurológicas e psiquiátricas, além de outros problemas de saúde.

Um estudo observacional anterior do mesmo grupo de pesquisa já havia relatado que pacientes que tiveram Covid corriam risco maior de desenvolver problemas neurológicos e psiquiátricos nos primeiros seis meses após a infecção.

Até agora, entretanto, não havia dados em grande escala examinando os riscos desses diagnósticos por um período de tempo mais longo.

Nosso trabalho também destaca a necessidade de mais pesquisas para entender por que isso acontece após a Covid-19 e o que pode ser feito para prevenir ou tratar essas condições, afirmou Harrison.

Os autores alertam que existem algumas limitações importantes a serem consideradas na pesquisa: o estudo pode não contabilizar casos autodiagnosticados e assintomáticos de Covid-19, pois é improvável que sejam computados em registros eletrônicos de saúde

Além disso, eles não analisaram a gravidade ou a duração de cada condição após o diagnóstico – ou se elas foram semelhantes em relação a outras infecções respiratórias.

Via G1

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