segunda-feira, 14 julho 2025

Professores de escolas privadas são demitidos na pandemia

Pela primeira vez em 30 anos, Maria Célia Crepaldi, 58, não encontrou seus alunos para o segundo semestre de aulas. Professora em uma escola particular, ela foi demitida no começo de agosto depois que só dois alunos permaneceram matriculados em sua turma.

Etapa mais atingida pela saída de alunos durante a pandemia do novo coronavírus, a educação infantil (que atende crianças dos 0 aos 5 anos) tem concentrado mais de 70% das demissões de professores da rede particular, que planejam buscar novas áreas para atuar por verem que a crise no setor deve se estender.

Segundo estimativa da Fenep (Federação Nacional de Escolas Particulares), cerca de 300 mil docentes da educação básica já foram demitidos durante a pandemia.

Os donos de escola afirmam que há risco de o número crescer, já que os pais podem não voltar os filhos para a rede particular neste ano.

Crepaldi era professora de uma escola em Moema, na zona Sul de São Paulo, com mensalidades para a educação infantil em pelo menos R$ 2,2 mil. “Dou aula para crianças pequenas desde os 17 anos e nunca fiquei desempregada. Nunca imaginei ver tantos professores sem trabalho”, contou.

O colégio decidiu pela demissão das professoras de turmas de educação infantil que tiveram redução de estudantes. A de Crepaldi, por exemplo, tinha 6 alunos de 1 ano antes da pandemia, mas em agosto só estava com 3 – um deles bolsista. “Acho que entenderam que não compensava me manter para dar aula só a dois alunos pagantes. Então, transferiram esses crianças para uma professora de uma turminha mais velha.”

Escolas particulares de elite de São Paulo começaram as demissões pelos professores de atividades extracurriculares, os auxiliares de sala e os estagiários.

Um dos mais tradicionais colégios da Capital paulista, o Dante Alighieri, na região central, também dispensou os funcionários que atuavam em cursos extracurriculares. A direção afirmou que “não se trata de demissão porque eram todos terceirizados” e informou ter adiantado dois meses de pagamento a esses profissionais quando as aulas foram suspensas.

Ainda que o número de desmatrículas pareça ter se estabilizado, professores que tiveram os salários reduzidos, nas condições da Medida Provisória 936/2020, temem ser demitidos no final deste ano letivo.

O temor é ainda maior entre aqueles que trabalham com crianças menores de 3 anos, idade em que a matrícula ainda não é obrigatória pela legislação.

“Já nos disseram que os pais dessas crianças podem adiar o retorno dos filhos no próximo ano, caso ainda não haja uma vacina ou a pandemia não esteja bem controlada. Eles vão preferir deixá-los em casa com uma babá”, afirmou uma professora do colégio Elvira Brandão, em Santo Amaro, na zona Sul de São Paulo.

Ela teve o salário reduzido em 50%, mas já pensa em alternativas para o caso de ser demitida. “Nunca faltou emprego para professor e agora me vejo sem opção na área que amo trabalhar. Porque as escolas não vão contratar, dificilmente vão abrir concurso público”, disse a professora.

Em nota, o colégio Elvira Brandão informou que, diante das “muitas famílias” impactadas que suspenderam ou cancelaram as matrículas dos alunos, é preciso manter a saúde financeira.

Segundo a direção, com as medidas previstas na MP foi feita a redução de jornada, com um auxílio de custo para que ninguém tivesse prejuízo no salário líquido. Também informou que somente os estagiários tiveram os contratos rescindidos.

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