Interceptação telefônica sugere que presidente avisou ex-ministro da Educação sobre operação da PF
A suspeita de interferência de Bolsonaro e de vazamento da operação Acesso Pago, que prendeu Ribeiro e pastores no caso do balcão de negócios no Ministério da Educação, embasaram a decisão do juiz Renato Borelli desta sexta (24) de enviar o caso para o Supremo Tribunal Federal.
Em conversa em 9 de junho com sua filha, Ribeiro diz que falou com Bolsonaro naquele dia e que ele teria dito estar com “pressentimento” de que iriam atingi-lo por meio da investigação contra o ex-ministro.
“Hoje o presidente me ligou, ele está com pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim. É que tenho mandando versículos para ele”, disse Ribeiro, na conversa revelada pela GloboNews e confirmada pela reportagem.
Questionado pela filha sobre se Bolsonaro queria que o ministro parasse de enviar mensagens, Ribeiro negou e citou a suspeita levantada pelo presidente. “Não, não é isso. Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão… em casa… sabe… é… é muito triste”, disse.
O relato da conversa com Bolsonaro à filha ocorreu após a PF ter solicitado a prisão e as buscas contra Ribeiro e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
A conversa continua e Ribeiro aborda a possível realização de busca. “Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios né…”, afirmou o ex-ministro. Outra conversa interceptada pela Polícia Federal reforça a suspeita sobre Ribeiro ter conhecimento da possível busca e apreensão.
Em uma conversa no dia da operação, entre sua esposa, Myrian Ribeiro e um interlocutor de nome Edu, eles abordam a situação do ex-ministro. Segundo a esposa, Ribeiro “não queria acreditar”, mas os “rumores do alto” apontavam que uma possível operação iria ocorrer mostra que a esposa de Ribeiro, Myrian Ribeiro, “Ele tava, no fundo ele não queria acreditar, mas ele estava sabendo. Para ter rumores do alto é porque o negocio estava certo”, disse a esposa de Ribeiro.
Mensagem
Além das conversas telefônicas, outro motivo para a remessa foi a mensagem enviada a colegas pelo delegado federal responsável pelo pedido de prisão de Milton Ribeiro, de que houve “interferência na condução da investigação”.
Bruno Calandrini diz no texto que a investigação foi “prejudicada” em razão de tratamento diferenciado dado pela polícia ao ex-ministro do governo Jair Bolsonaro. O episódio foi revelado pela Folha de S.Paulo.
“Registre-se também que há indícios de igual interferência na atividade investigatória da Polícia Federal quando do tratamento possivelmente privilegiado que recebeu o investigado Milton Ribeiro”, afirma a manifestação do Ministério Público.
A Procuradoria cita que o ex-ministro “não foi conduzido [de São Paulo] ao Distrito Federal (não havendo sido tampouco levado a qualquer unidade penitenciária) para que pudesse ser pessoalmente interrogado pela autoridade policial que preside o inquérito policial, apesar da farta estrutura disponível à Polícia Federal para a locomoção de presos”.
Líder da oposição pede ao STF investigação contra presidente sobre interferência
O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), entrou nesta sexta-feira (24) com uma petição no STF (Supremo Tribunal Federal) para pedir a abertura de um inquérito contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) por suposta interferência na operação da Polícia Federal contra o ex-ministro Milton Ribeiro.
“Estamos presenciando um ataque às instituições e o escancaramento da corrupção. Uma conduta gravíssima de interferência na autonomia de um órgão que deve agir com independência na apuração dos fatos”, disse Randolfe.
O pedido de Randolfe foi feito no âmbito do inquérito do STF aberto após a saída de Sérgio Moro do governo. Em coletiva para anunciar a demissão, o ex-ministro acusou Bolsonaro de interferir na Polícia Federal para proteger aliados e familiares.
O inquérito foi encerrado após a PF concluir que não havia indícios da interferência do presidente na corporação. O relator é o ministro Alexandre de Moraes. | FP