sábado, 23 novembro 2024

Risco de retrocesso preocupa ex-chanceler

SYLVIA COLOMBO | FOLHAPRESS
Susana Malcorra, 64, diz estar “muito preocupada com os rumos do Mercosul”. Em entrevista à Folha de S.Paulo, por videoconferência em Madri, onde vive agora, a chanceler do presidente Mauricio Macri de 2015 a 2017 contou que já vinha alertando o governo argentino para as declarações do então pré-candidato Jair Bolsonaro com relação à região.

“Agora, as mensagens que venho escutando do presidente eleito do Brasil e de seu entorno é que podemos ter um retrocesso na integração em que vínhamos trabalhando e que será muito ruim que o Brasil não privilegie o vínculo com o Mercosul e, em particular, com a Argentina.”

Em entrevista recente, o futuro ministro da Economia brasileiro, Paulo Guedes, disse que o Mercosul “não é uma prioridade” e que havia se tornado “prisioneiro de alianças ideológicas”.

Malcorra lembrou que, há não muito tempo, “Brasil e Argentina tinham temas de conflito entre si, e isso se superou quando veio a democracia e os primeiros presidentes democráticos de ambos os países decidiram que a integração era necessária e que passava necessariamente pela economia. Por isso fundaram o Mercosul e a relação melhorou muito.”

Para ela, as declarações do futuro governo brasileiro debilitam a capacidade de negociação do bloco para, entre outras coisas, fechar o acordo de livre comércio com a União Europeia.

Apesar da lentidão da negociação, que já dura quase 20 anos, Malcorra acredita que, durante seu período no governo e em 2018, “se avançou muito, eu diria que estamos no trecho final. Ou seja, não é o momento de mandar mensagens que possam desestabilizar nossa posição e apontar para um retrocesso de nossa parte”.

Acrescentou que desprezar esse acordo seria “não valorizar o tamanho dos mercados e não entender que negociar como mercado comum nos daria uma capacidade maior para conseguir melhores resultados econômicos”.

Malcorra também fez uma autocrítica, afirmando que “se em algo falhamos nos últimos anos foi por não termos sido suficientemente rápidos”.

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