Funcionários da Prefeitura de São Paulo foram convocados a participar no domingo (26) de um evento da campanha eleitoral dos filhos do presidente da Câmara Municipal paulistana, o vereador Milton Leite (DEM).
Durante o ato o vereador pediu votos para seus filhos, Alexandre Leite e Milton Leite Filho, respectivamente candidatos a deputado federal e estadual pelo DEM, bem como para Geraldo Alckmin (Presidência), João Doria (governo de São Paulo) e Mara Gabrilli (Senado), do PSDB.
A reunião ocorreu de manhã no teatro Paulo Goulart, no Esporte Clube Banespa, no Brooklin Paulista, na zona sul da cidade, reduto eleitoral de Leite.
Ao chegar ao evento, os funcionários se depararam com lista na qual constavam seus nomes e respectivos órgãos de trabalho. Recepcionistas grifavam a lista conforme as pessoas compareciam.
A reportagem apurou que a convocação ocorreu sobretudo na área da Secretaria de Transportes, o que inclui a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e a SPTrans, empresa responsável pelo gerenciamento dos ônibus na cidade. Trata-se da área de maior influência de Leite.
Na semana passada, pessoas que se apresentavam como do setor de recursos humanos da Secretaria dos Transportes percorreram diversos departamentos fazendo o convite para os funcionários lotados em cargos de confiança. O recado, segundo a interpretação de quem foi chamado, era claro: os ausentes poderiam ser demitidos.
O auditório do clube tem capacidade para 366 pessoas. Na porta, recepcionistas anotavam o nome dos presentes.
Um telão exibia as imagens dos filhos do presidente da Câmara e os seus respectivos números. Candidatos à reeleição, eles não participaram do evento, que foi conduzido pelo próprio Milton Leite.
Vídeos gravados por pessoas na plateia, obtidos pela reportagem, mostram Leite pedindo votos no palco do anfiteatro.
“Se puderem ajudar a chapa inteira, é fundamental”, disse o vereador, citando, na ordem, Mara Gabrilli, Alexandre Leite, Milton Leite Filho, Alckmin e Doria. “Seria fantástico.”
O vereador chegou a dizer que entende a situação das pessoas que têm um parente ou amigo candidato, não podendo atender ao seu apelo de votar na chapa completa..
“A vida impõe certas dificuldades (…) sabemos respeitar isso”, afirmou. “Mas ninguém tem cinco candidatos [parentes ou amigos]. Pega o resto da chapa e vota…”, disse.
No palco, Milton solicitou também um “sopro na brasa do Alckmin”. “Não é para mim, é para esse país, o nosso país”, afirmou. “Temos de ter responsabilidade, não dá para brincar com a Presidência da República.”
Na saída do evento, os participantes receberam um kit da campanha dos filhos do parlamentar, com panfletos e adesivos. “Só postar a foto no WhatsApp não vai dar certo, haverá uma enxurrada de mensagens”, disse Leite. “Tem de ligar, pedir para o amigo, mandar santinho”, afirmou.
Leite, que apoiou João Doria em sua campanha a prefeito, tem forte influência na gestão municipal tucana, hoje comandada por Bruno Covas.
A atual composição do secretariado paulistano conta com três nomes indicados por Leite: Eduardo Tuma, na Casa Civil; Sérgio Avelleda, na Gestão; e João Octaviano, nos Transportes, principal área de influência do vereador.
Como chefe do Legislativo, Leite tem sido firme apoiador dos projetos da gestão tucana, tendo ajudado especialmente na aprovação do pacote de desestatizações, incluindo as concessões do estádio do Pacaembu, do Mercadão, dos parques, e a privatização do Anhembi.
O único pedido do Executivo que até o momento não conseguiu concretizar foi a reforma da previdência no município. Após manifestações de milhares de funcionários públicos, suspendeu a votação do projeto na Câmara.
Ligado a empresários do setor de transporte que operam nas áreas extremas da cidade, Leite se define como defensor das antigas cooperativas de perueiros. Além disso, tem forte influência nas discussões sobre os projetos de ocupação do solo da cidade. Durante a lei de zoneamento, foi à tribuna para questionar mudanças que permitiriam mais construções em áreas verdes da zona sul.
Seu crescimento político de 1996 para cá garantiu a eleição de seus dois filhos para cargos eletivos. Milton Leite Filho se elegeu deputado estadual em 2006 e foi reeleito nas duas disputas seguintes. Já Alexandre Leite se reelegeu deputado federal em 2014.
OUTRO LADOEm nota, Milton Leite diz que não tem qualquer relação com “supostas listas” de presença de servidores. “Se elas existem”, disse, não tem nenhuma relação com elas.
“Houve, sim, como em qualquer evento do tipo, listas em que atendentes conferiam as presenças de convidados. As atendentes também faziam o cadastro de interessados em receber futuramente correspondências”, afirma.
Ele também diz que, “diferentemente do que apontaram os denunciantes anônimos”, o evento não foi reunião de campanha para promover as candidaturas dos filhos, mas sim “um encontro para discutir propostas em geral para diferentes candidatos nas eleições deste ano.”
Por fim, Leite afirma que várias lideranças e representantes de diversos setores estiveram na reunião e que “não houve pressão nenhuma para que servidores comissionados da prefeitura fossem a tal encontro”. De acordo com o presidente da Câmara, todos os presentes foram ao encontro por vontade própria.
À reportagem, a prefeitura afirma que não recebeu informações sobre o episódio.