Identificada primeiramente na Índia, a variante delta se espalhou no Reino Unido e já aparece hoje em 98% dos casos sequenciados, embora o país tenha desde janeiro assumido a dianteira na imunização
A variante delta, versão mais contagiosa do Sars-Cov-2, pode se alastrar pela Europa continental se os países não acelerarem sua vacinação e reforçarem cuidados contra o contágio, afirmou nesta quarta (23) o centro de controle de doenças infecciosas europeu (ECDC).
Identificada primeiramente na Índia, a variante delta se espalhou no Reino Unido e já aparece hoje em 98% dos casos sequenciados, embora o país tenha desde janeiro assumido a dianteira na imunização. Nesta quarta, só 19% dos adultos britânicos não haviam recebido ainda nenhuma dose de vacina; quase 60% tomaram as duas.
No cálculo do ECDC, a variante delta pode representar 70% dos novos casos de Covid-19 até o fim de julho e 90% até o fim de agosto, se não houver medidas adicionais. Isso acontece pela combinação de um mutante até 60% mais contagioso que o alfa (identificado na Inglaterra) com a maior circulação e proximidade entre as pessoas no verão.
A maioria dos países da UE retirou restrições anticontágio, ao mesmo tempo em que a linhagem cresceu exponencialmente, mas em porcentagens bastante diversas.
Em Portugal, por exemplo, destino turístico muito procurado pelos britânicos, o governo afirma que a delta é identificada em mais de 60% dos sequenciamentos feitos em Lisboa e no vale do Tejo. De acordo com os dados portugueses, o número de novos casos diários mais que dobrou, de 500 em maio –quando as fronteiras foram abertas para viajantes britânicos– para mais de 1.000 em meados de junho.
Na Itália, calcula-se que a porcentagem supere 20%, enquanto na França ainda não tenha chegado a 10%. Esses números, porém, não são bons indicativos da presença da variante, porque a quantidade e regularidade dos sequenciamentos não é uniforme.
O temor de uma nova onda de infecções fez Portugal “levar uma bronca” nesta terça (22) de Angela Merkel, primeira-ministra da Alemanha –país cujos cidadãos também costumam lotar praias portuguesas durante o verão. Ela chamou de “tiro pela culatra” a falta de coordenação entre os países da UE na reabertura para turistas.
“Agora temos uma situação em Portugal que talvez pudesse ter sido evitada, e é por isso que temos que trabalhar ainda mais duro nisso”, disse a líder alemã em entrevista após evento de aprovação do plano de recuperação econômica pós-pandemia.
A liberação para turistas do Reino Unido —que também foi adotada por Espanha, Croácia e Grécia, por exemplo—, ocorreu à revelia das orientações centrais da Comissão Europeia. O país não fazia parte da lista branca para viagens não essenciais nem foi incluído na mais recente ampliação.
Nos cálculos feitos pelo ECDC, “qualquer relaxamento durante os meses de verão poderia levar a um aumento rápido e significativo nos casos diários em todas as faixas etárias, com um aumento associado nas hospitalizações e mortes, potencialmente atingindo os mesmos níveis do outono de 2020”.
Embora resultados preliminares mostrem que as vacinas são eficazes contra casos mais graves provocados pela delta, a diretora do centro, Andrea Ammon, disse que há risco de hospitalização para quem não completou as doses necessárias.
Pelos dados mais recentes, 33,9% dos adultos estão totalmente vacinados e outros 24,8%, parcialmente, na média de 30 países do continente europeu.
A preocupação é principalmente com os mais jovens, que estavam no final da fila de prioridades: os dados do Reino Unido mostram que eles são as principais vítimas da variante no momento. “É muito provável que a variante Delta circule amplamente durante o verão, especialmente entre os jovens. Isso eleva o risco de transmissão e doenças graves e mortes dos mais vulneráveis”, afirmou Ammon.
Estudos feitos no Reino Unido indicaram que o risco de hospitalização entre infectados pela variante delta pode ser o dobro do que ocorria com a alfa –um dos motivos pelos quais a Inglaterra adiou a retirada total de restrições à circulação e ao contato entre pessoas.
As variantes não deveriam provocar tanta preocupação se os governos levassem a sério medidas básicas e já comprovadas para evitar a transmissão, afirmou nesta segunda (21) a OMS (Organização Mundial da Saúde). A entidade recomenda um programa de testes para identificar contágio, rastreamento de contatos e isolamento dos contaminados, além de distanciamento físico, uso de máscara e higiene das mãos.