quinta-feira, 25 abril 2024

Venda de munições cresce no governo Bolsonaro

O volume de munições compradas no Brasil cresceu na gestão Jair Bolsonaro (sem partido). De janeiro a maio deste ano, houve alta de 24% na venda de cartuchos, na comparação com o mesmo período de 2018, último ano da gestão Michel Temer (MDB).

Foram compradas 81,8 milhões de unidades em 2020. O número, dois anos antes, foi de 66 milhões de projéteis.

Em relação a igual período de 2019, já no primeiro ano do governo Bolsonaro, o crescimento foi de 18,8%.

Os dados foram obtidos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública por meio da Lei de Acesso à Informação.

As vendas chegaram a atingir patamares ainda maiores em grupos específicos da população.

A indústria passou a vender 46,1% mais nos cinco primeiro meses deste ano para lojas de armas, em comparação com 2018.

As lojas, por sua vez, aumentaram a venda em 99,4% no mesmo período.

O crescimento do número de munições foi puxado principalmente por três grupos: lojas de armas; entidades de tiro desportivo e atiradores; e caçadores e colecionadores.

Somente de janeiro a maio deste ano, foram 57,7 milhões de munições que saíram da indústria e foram para esses perfis.

“A indústria também ganhou porque aumentou o faturamento. As empresas brasileiras dominam mais 99% do mercado no País”, afirmou Ivan Marques, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Durante o atual governo, 267 milhões de munições – mais de uma bala por habitante – foram colocadas em circulação.

Procurado, o governo federal não se manifestou.

RANKING

Os Estados que lideram o ranking de compra são Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina, segundo dados do Sistema de Controle de Venda e Estoque de Munições (Sicovem), do Exército Brasileiro, encaminhados ao fórum.

Os únicos grupos que apresentaram queda foram empresas de segurança privada e integrantes das forças de segurança, como policiais e militares, que podem comprar munições como pessoa física.

A queda na venda pode ser explicada, nesses segmentos, pelo período de isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus.

Para especialistas, a política armamentista de Bolsonaro é o fator principal para a alta desses números.

Desde quando tomou posse, o presidente passou a publicar uma série de normas infralegais que não dependem da aprovação do Congresso. Foram ao menos oito decretos e duas portarias que ampliam o acesso da população a armas e munições (veja no quadro).

“Vivemos uma pandemia do novo coronavírus, crise econômica, as pessoas têm perdido o emprego e, ainda assim, há o aumento de venda de munição. A única variável dessa equação favorável ao aumento de vendas é a facilidade de acesso por causa dos decretos e das portarias”, afirmou Marques.

REGISTROS DE ARMA TAMBÉM SOBEM

Houve também crescimento do número de registros de armas no Brasil. Foram 54,4 mil novos  registros de armas feitos na Polícia Federal para defesa pessoal em 2019. Representa crescimento de 97,5% em relação a 2018, quando houve 27,5 mil.

O número de armas na mão dos caçadores e atiradores também se multiplicou no primeiro ano do governo Bolsonaro. Enquanto em 2018 havia 350,7 mil armas registradas por esse grupo no Exército, agora o total é de 433,2 mil, um crescimento de 23,5%, segundo dados do Instituto Sou da Paz.

Para Jacqueline Sinhoretto, professora da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e membro do IBCCrim (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais), a redução do controle e o aumento de artigos bélicos em circulação podem ampliar a criminalidade.

NOVOS DECRETOS FAVORECEM O ARMAMENTO

O crescimento na venda de munições no Brasil tem se dado de duas formas: pelo aumento da quantidade de balas que podem ser adquiridas e também pela flexibilização da posse e do porte, que aumentou a quantidade de armas em circulação e, consequentemente, aqueceu o mercado de munições.

Antes de um dos decretos do presidente Jair Bolsonaro, o atirador desportivo, por exemplo,  oderia ter até 16 armas de fogo. Para atingir essa quantidade, precisava estar no nível três de sua categoria. Agora, todos os níveis de atiradores passam a ter um limite total de 60 armas, sendo 30 de uso permitido e outras 30 armas de uso restrito.

Outra mudança foi na quantidade de munições. O atirador nível dois poderia ter anualmente até 40 mil cartuchos antes de uma das mudanças. Agora, poderá atingir até 180 mil por ano.

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