quarta-feira, 9 outubro 2024

Vizinhos revezam baldes para buscar desaparecidos na chuva em SP

Segundo a Prefeitura de Franco da Rocha, há pelo menos 11 desaparecidos na cidade 

Ao todo, 21 mortes por causa das chuvas desde sexta-feira já foram confirmadas pela Defesa Civil estadual em São Paulo (Foto: Rivaldo Gomes/Folhapress)

A doméstica Sandra Félix, 40, saiu no sábado (29) cedo para trabalhar em Francisco Morato (Grande SP), mas, por falta de transporte, só conseguiu voltar na manhã desta segunda-feira (30). Viu a cem metros de sua casa uma montanha de terra que destruiu outros cerca de 15 imóveis e matou ao menos cinco pessoas nas fortes chuvas que atingiram Franco da Rocha no fim de semana.

Sandra conta que, por volta de 9h30, ainda nem tinha voltado para casa. Ela se juntou a outras vizinhas que montaram um posto solidário para distribuir água, café e bolacha a bombeiros, funcionários da Defesa Civil e voluntários que ajudam nas buscas de ao menos três pessoas que estariam embaixo do lamaçal que desceu até a rua São Carlos.

Ao todo, 21 mortes por causa das chuvas desde sexta-feira já foram confirmadas pela Defesa Civil estadual em São Paulo.

Segundo a Prefeitura de Franco da Rocha, há pelo menos 11 desaparecidos na cidade da Grande SP. Entre os mortos, informações preliminares apontam que seriam quatro homens e uma mulher.

“A gente tem que ajudar de alguma forma”, afirma Sandra, que mora há seis anos no local com a mãe e a filha. “Elas foram para a casa de uma cunhada em Perus [zona norte da capital]”, disse.

A doméstica afirma ter chegado aflita ao local, porque viu vídeos com o deslizamento na internet. “Me mandavam vídeos a toda hora”, afirmou.
Ela e outras cinco mulheres estavam embaixo de uma laje improvisada com a mesa de café da manhã observando entre 50 e 100 pessoas que passavam baldes cheios de terra uma para as outras.

E essa foi a forma de ajudar encontrada por Edilsa Pereira de Almeida, 55, moradora da rua São Carlos, vizinha ao local do acidente. Nesta segunda-feira, ela encarou a chuva para bater de porta em porta para pedir a doação de baldes e latas para levar ao pessoal de resgate

“Meu filho ficou lá ontem [domingo] das 7h às 18h ajudando na corrente humana para tirar os baldes de terra e tentar ajudar a achar alguém”, afirmou.

Junto a ela estava Adão Pereira Lopes, 51, que também mora na rua. “Eu queria estar lá, mas estou com o pé machucado e não consigo enfrentar o barro”, disse, apontando o local das buscas que ocorria sem trégua da chuva nesta segunda.

Do outro lado do terreno, em cima de uma viela, o vendedor de bilhetes de loterias Nivaldo Ferreira Maciel, 67, gritava para quem passava em frente à sua casa que há 15 anos pede para vizinhos plantarem bambu no quintal. “Isso teria ajudado a segurar a terra.”

Maciel afirmou que um sobrinho teve a casa destruída na tragédia. Segundo contou, a família ouviu um estalo no muro no meio da madrugada e deu tempo e só deu tempo de tirar a mulher, a filha e o cachorro do local. “Não conseguiram nem voltar para pegar o celular.”

Medo Depois de passar um domingo com um olho no céu e outro no terreno abaixo, Ronaldo Panome da Silva, 47, fechava a porta de casa com um saco de comida numa das mãos e um travesseiro na outra. A família estava indo embora do local, pelo menos até o tempo firmar de novo.

“Se o resto do barranco descer, vai atingir a casa em frente à minha”, afirmou.

Silva mora em uma área com três casas da família imediatamente ao lado de onde os imóveis foram destruídos
“Conhecia todo mundo que morava ali”, afirmou sobre o lamaçal abaixo de sua casa. 

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