Cinco deputados estaduais bolsonaristas acompanhados de seus assessores invadiram as instalações do hospital de campanha no Anhembi na tarde de quinta-feira (4), causando tumulto no local. Dizendo que fariam uma vistoria, eles criticaram o governador João Doria (PSDB) e afirmaram que o governo paulista mente sobre o número de casos e mortes no Estado.
Os deputados Adriana Borgo (Pros, de Campinas), Marcio Nakashima (PDT), Leticia Aguiar (PSL), Coronel Telhada (PP) e Sargento Neri (Avante) forçaram a entrada nas instalações hospitalares do Anhembi, inclusive em áreas com alto risco de contaminação.
Em vídeos divulgados em suas redes sociais, Nakashima afirma que encontrou leitos vazios, alguns sem respiradores e criticou as medidas de isolamento social impostas no Estado. Também em vídeo divulgado na internet, Adriana Borgo disse que “não tem doente porcaria nenhuma” no hospital de campanha. “Vimos tudo vazio, isso me chocou”, afirmou ela, que disse ter contado “172 pacientes no local, inclusive os que estavam tomando banho”.
Assim como os demais parlamentares, ela criticou as medidas de distanciamento social.
Em postagem no Twitter, Nakashima afirmou que “após princípio de tumulto, pudemos conferir mais um exemplo de má gestão dos recursos públicos no hospital de campanha do Anhembi. O governo quer alugar leitos de hospitais privados e vemos esta estrutura inoperante”.
Os vídeos divulgados pelos parlamentares mostram funcionários do hospital pedindo para os deputados e assessores usarem, pelo menos, equipamentos de proteção individual para entrarem nos locais com alto risco de contaminação. “Isso é frescura. A gente não tem medo disso”, reclamou Borgo.
NO ANHEMBI | Deputados entraram, após confusão com seguranças, e denunciaram em vídeos um hospital ‘vazio’
O deputado Marcio Nakashima declarou, em vídeo nas redes sociais, que o hospital está “completamente vazio” e classificou como “vergonha o que está acontecendo com os recursos públicos”.
https://www.facebook.com/MarcioNakashimaOficial/videos/269698177508257
O deputado Coronel Telhada disse que o hospital é um “elefante branco”. “Uma situação que fica claramente comprovado que tá subutilizado”.
Ele falou que fará um requerimento ao prefeito para que explique “essa estrutura toda, pois não temos nem respiradores aí (no hospital)”, para tomar providências no sentido de denunciar o caso ao Ministério Público.
‘SENSACIONALISMO’ E ‘FAKE NEWS’, DIZ PREFEITO COVAS
O prefeito Bruno Covas (PSDB) classificou como “sensacionalismo barato” a iniciativa dos deputados no hospital de campanha. “Lamentável que parlamentares usem sua prerrogativa de fiscalização para exploração política. São os mesmos que acreditam que a terra é plana, pedem a volta do AI-5 e usam o que muitos lutaram para conquistar um parlamento livre”, disse Covas.
“Não vamos atravessar a pandemia com vídeo para WhatsApp e produção de fake news”, disse.
POLÍTICOS ‘INVADIRAM’ ALA NÃO ATIVADA, DIZ PREFEITURA
Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirmou que “os deputados e assessores invadiram o HMCamp do Anhembi de maneira desrespeitosa, agredindo pacientes e funcionários verbal e moralmente, colocando em risco a própria saúde porque inicialmente não estavam usando EPIs e a própria vida dos cidadãos que estão internados e em tratamento”
A gestão Bruno Covas (PSDB) diz, ainda, que os parlamentares filmaram as alas do hospital que ainda não foram ativadas, mas que estão prontas para serem colocadas em funcionamento caso necessário. “E também gravaram pacientes sem autorização prévia”.
Camas ainda sem colchões no hospital
Com capacidade para atender cerca de 1.800 pacientes, o hospital de campanha do Anhembi está, atualmente, com 397 pessoas internadas, segundo a prefeitura, que informa também que outros 3.700 pacientes já passaram pelo local, dos quais 2.800 foram curados e tiveram alta.
“A Prefeitura de São Paulo reitera total repúdio a atitudes violentas e ações deliberadas para tentar enganar a opinião pública”, finaliza a nota.
B.O NA POLÍCIA
Um boletim de ocorrência emitido nesta quinta-feira (4) pela Polícia Civil e obtido pela reportagem registrou a invasão do hospital de campanha do Anhembi pelos deputados estaduais de São Paulo como infração de medida sanitária preventiva, artigo 268 do Código Penal.
A pena prevista para a infração é de detenção de um mês a um ano e multa. O artigo 268 trata da infração de determinação do poder público destinada a impedir propagação de doença contagiosa.
O boletim, feito a partir de depoimento de João Guilherme Moura, gerente administrativo do Iabas (empresa que administra o hospital em SP e que foi envolvida em denúncias no Rio), diz que os deputados foram impedidos de entrar, já que não usavam equipamentos exigidos. No entanto, acrescenta que “mesmo assim acabaram desobedecendo a ordem e filmaram o local, inclusive os pacientes hospitalizados”.