sexta-feira, 26 abril 2024

Estados podem ter aceleração descontrolada

Passados 37 dias desde a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil, a transmissão no país está em fase inicial, mas a alta incidência de casos em quatro Estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Amazonas) e no Distrito Federal já indica uma transição para fase de aceleração descontrolada nesses locais.

A avaliação consta de novo boletim epidemiológico sobre a doença elaborado pelo Ministério da Saúde e divulgado ontem (4). No documento, a pasta faz uma revisão da trajetória do vírus e reconhece gargalos diante de uma possível fase aguda da epidemia, como a falta de testes e leitos suficientes.

Em pouco mais de um mês, o Brasil já soma 9.056 casos do novo coronavírus, com 359 mortes.

Para fazer a análise, o documento aponta quatro fases para a epidemia: localizada, aceleração descontrolada, desaceleração e controle.

A avaliação da pasta é que, em São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Amazonas e no Distrito Federal, a taxa de incidência já fica acima da nacional, de 4,3 casos por 100 mil habitantes. No Distrito Federal, já é quase o triplo: 13,2 casos a cada 100 mil habitantes.

Por isso, a pasta reforça a recomendação para que os Estados mantenham medidas de distanciamento social. “Este evento representa um risco significativo para a saúde pública, ainda que a magnitude (número de casos) não seja elevada do mesmo modo em todas os municípios”, aponta o ministério, que avalia o risco nacional como muito alto.

Um dos principais motivos é a falta de estrutura da rede de saúde. Segundo o documento, a rede atual de laboratórios é capaz de processar 6.700 testes por dia. No momento mais crítico da emergência, porém, serão necessários 30 mil a 50 mil testes por dia.

A pasta diz finalizar parcerias para ampliar a testagem – chegou a anunciar, por exemplo, 22,9 milhões de testes. “No entanto, não há escala de produção nos principais fornecedores para suprimento de kits para pronta entrega nos próximos 15 dias.”

Os leitos de UTI e internação também não estão ainda “devidamente estruturados e em número suficiente para a fase mais aguda da epidemia”, diz a pasta, que aponta ainda “elevado risco para o SUS”.

“E apesar de alguns medicamentos serem promissores, como a cloroquina associada à azitromicina, ainda não há evidência robusta de que essa metodologia possa ser ampliada para população em geral”, informa.

Estados que implementaram medidas de restrição de circulação devem mantê-las até que o suprimento de equipamentos e profissionais seja suficiente, conclui o documento.

O texto não traz informações de quando isso deve ocorrer. Afirma, no entanto, que medidas de restrição e distanciamento social têm ajudado a estruturar a rede de saúde “para o período de maior incidência da doença, que ocorrerá dentro de algumas semanas”.

Apenas 4 metrópoles não adotaram isolamento
Em cerca de duas semanas, quase todas as grandes metrópoles reduziram suas atividades ao mínimo possível. Uma das exceções é justamente a maior delas, Tóquio, cuja área metropolitana tem 35 milhões de pessoas.
Além da Capital japonesa, Osaka (19 milhões), Istambul (15 milhões) e Seul (9 milhões) não adotaram restrições amplas, mas apenas ações pontuais e recomendações para tentar conter o coronavírus.
O Japão, assim como a Coreia do Sul, aposta em testes em massa e no isolamento de áreas com focos do coronavírus. Na Capital, algumas redes de comércio e serviços resolveram parar por conta própria até meados de abril, como uma empresa que controla 200 locais de caraoquê.
Já Istambul segue aberta por decisão do presidente Recep Tayyip Erdogan. O país fechou escolas e bares e vetou eventos de massa, mas não recomendou que as pessoas fiquem em casa, para que a economia siga em plena atividade.
O prefeito Ekrem Imamoglu, que é opositor de Erdogan, pede que a cidade entre em quarentena obrigatória, pois a maior parte dos casos do país foi registrada ali.
A reportagem conferiu a situação de 38 megacidades, em um recorte que levou em conta o total de população e sua relevância internacional. Assim, foram analisadas as 32 cidades com mais de 10 milhões de habitantes e mais seis áreas metropolitanas de grande simbolismo: Wuhan, Seul, Teerã, Londres, Madri e Nova York.
A restrição de atividades começou na China, em janeiro, e foi adotada em efeito dominó a partir da segunda metade de março, em uma sequência de anúncios quase diários: em Madri (no dia 15), Paris (17), Bancoc (18), Buenos Aires (19), São Paulo (20), Nova York (22) e Londres (23).
Em seguida, a Índia decidiu por uma paralisação abrupta, que fechou algumas das cidades mais cheias do mundo no dia 25, como Nova Déli, Mumbai e Calcutá. E no dia 30, dois países reticentes, México e Rússia, também determinaram restrições, que atingiram a Cidade do México e Moscou.
Para Valter Caldana, professor de urbanismo do Mackenzie, esse movimento deixou clara a articulação internacional cada vez maior entre prefeitos e governadores.
“Em menos de 15 dias, uma rede de cidades parou o mundo, não uma rede de chefes de Estado”, avalia. As ações tentam retardar a propagação do vírus, para preparar o sistema de saúde e evitar que haja um número explosivo de casos em poucos dias, o que levaria ao colapso dos sistemas de saúde.
As cidades adotaram estratégias idênticas: restringem a saída de casa, com exceção para comprar comida e remédios, ir ao médico ou trabalhar em funções essenciais. O que varia são a intensidade das medidas e a forma de exigir seu cumprimento. Na China e na Rússia, são usados apps para rastrear os movimentos. Na Índia, policiais nas ruas foram flagrados batendo nas pessoas com pedaços de pau para obrigá-las a voltar para casa.
A maior parte dos governos disse que pretende retomar a rotina em meados de abril, embora haja grandes chances de o prazo ser estendido, pois não está claro quando será atingido o pico da epidemia.
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