segunda-feira, 6 maio 2024
ADOECIMENTO DA COMUNIDADE ESCOLAR

“Alunos e professores precisam de cuidado urgente”, diz psicopedagoga

Setembro amarelo é uma forma de prevenir a saúde mental de alunos e professores
Por
Nayara Lourenço
Foto: Miguel Silva

O Setembro Amarelo é o mês marcado pela campanha de prevenção ao suicídio e aborda temas relacionados a saúde mental. Nas escolas, o pós-pandemia agravou a saúde mental de professores e alunos, além dos ataques nas instituições de ensino.

De acordo com a pesquisa Futuro da docência, realizada pela ONG Conectando Saberes, 75,5% dos profissionais da rede pública e privada no Brasil acreditam que questões psicológicas são um dos principais fatores que fazem os professores desistirem da carreira.

Conforme a pesquisa Saúde mental dos educadores 2022, mais de 20% dos profissionais consideram sua saúde mental ruim ou muito ruim. Os principais problemas apontados são: ansiedade (60,1%), cansaço excessivo (48,1%) e insônia (41,1%).

Com os estudantes, essa realidade não é diferente. Um levantamento, coordenado pelo Atlas das Juventudes e realizado em parceria com o Conselho Nacional da Juventude, registrou que seis em cada 10 jovens passam ou passaram por ansiedade, e 50% sentem cansaço extremo.

Segundo um mapeamento feito pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, 69% dos estudantes da rede estadual paulista relatam ter sintomas ligados à depressão e ansiedade.

Troca de remédios tarja preta entre os educadores é hábito
A psicopedagoga e consultora educacional de Americana, Géssica Fernandes, explica sobre o adoecimento da comunidade escolar.


“O que eu vejo é que cada vez menos se importam com a saúde mental, tanto as famílias quanto os próprios educadores. Dentro de sala de aula, nós temos alunos que estão demandando muito dos nossos educadores, seja com ansiedade, depressão, agressividade ou comportamentos disfuncionais, e nós vemos que isso é por falta de um acompanhamento psicológico”, disse a psicopedagoga.

A especialista afirmou que as dificuldades dos alunos chegam às salas de aula e refletem nos professores.


“Toda essa problematização de alunos acaba chegando ao nosso educador, então todos os problemas que esse aluno passa dentro de casa, na rua, ele chega na sala de aula. E aí, dentro de sala de aula, a gente tem um educador com ansiedade, estressado, cansado e com a demanda de ter que dar conta da aprendizagem. O que acontece? É atestado, afastamento e remédio”, explicou Géssica.


Segundo a psicopedagoga, um dos hábitos mais comuns dentro das escolas é a troca de remédios tarja preta entre os educadores.

“Essa é uma realidade vivida em várias escolas, de vários municípios e secretarias. A Unesco, em 2019, já tinha feito uma pesquisa frente à saúde mental dos educadores. Lá em 2019, ela dizia que em 2023 a saúde mental dos educadores iria estar cada vez mais defasada, a gente ainda lida com os aspectos pós-pandemia. A gente tem um aluno que ficou privado por um tempo de socialização, um educador que teve que se adaptar de várias formas para poder dar aquele ensino, não foi um período nada fácil”, afirmou a consultora educacional.


Na opinião da especialista é necessário ter programas de prevenção, e não somente em um mês, como o Setembro Amarelo, onde as grandes pautas de prevenção do suicídio são levantadas.


“Precisamos durante o ano todo, onde os educadores e toda a comunidade escolar se sintam cuidados. Quando o educador não tem uma saúde mental boa, isso reflete nos alunos. Sabendo lidar com as atitudes do dia a dia, a gente tem um ambiente de aprendizagem mais tranquilo, mais assertivo e um desempenho profissional melhor do professor. Quase todos os dias vemos relatos de educadores que estão sofrendo por conta de disfuncionalidades dentro de sala de aula, e também o aluno que sofre por conta do professor. Isso está virando um hábito e não pode ser normalizado”, complementou a psicopedagoga.

Servidores públicos afastados por problemas de saúde mental
Segundo o Departamento Pessoal da Prefeitura, de janeiro até o início de agosto, foram entregues 608 atestados médicos com CID (Código Internacional de Doenças) relacionado à saúde mental, ou seja, cerca de três por dia.
Ainda de acordo com o departamento, o sistema não consegue apontar desse total quantos estão afastados atualmente.

O que diz a Secretaria de Saúde de Americana
Em entrevista à Rede TODODIA, o secretário de Saúde de Americana, Danilo Carvalho Oliveira, afirmou que a gestão já pensa em lançar um programa voltado à saúde mental dos colaboradores.


“Entendemos tamanha a importância de cuidar da saúde mental que hoje nós descentralizamos os nossos atendimentos voltados à saúde mental, tanto que hoje nós temos psicólogos em várias Unidades Básicas de Saúde do município, que o Ministério da Saúde, inclusive, ele nos faculta, ele não nos obriga. Pensando na perspectiva do nosso colaborador, nós estamos trabalhando num projeto que é ‘Cuidar de Quem Cuida’. É um projeto que nós ainda estamos em discussão para pensar qual será a maior abordagem […] nós já iniciamos duas reuniões para pensar nesse projeto voltado a saúde mental dos nossos colaboradores”, conclui o secretário de saúde.

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