sexta-feira, 22 novembro 2024

História à espera de restauração

Dois prédios históricos, reconhecidos patrimônios arquitetônicos e culturais de Americana, permanecem de portões fechados, inacessíveis ao público, e esperando investimentos em revitalização. O Casarão do Salto Grande e a Casa Hermann precisam de intervenções estimadas pela prefeitura em R$ 6 milhões. Os projetos de restauro já foram elaborados e protocolados junto ao Estado e à União.

Mas o começo das obras depende da avaliação técnica e da liberação dos recursos. Os dois imóveis, símbolos do desenvolvimento do município, se tornaram ao longo do tempo importantes centros culturais. Mas a deficiência estrutural passou a ser uma ameaça aos visitantes e à própria conservação do acervo histórico que eles guardavam. O governo municipal tem boas razões para investir no restauro. As atrações arquitetônicas, de valor inestimável, são espaços de grande potencial para a execução de projetos que aliam educação, lazer e turismo. Podem gerar emprego e renda.

PIONEIRISMO

O Casarão do Salto Grande foi construído no final do século 18 para ser sede de fazenda pioneira na produção de açúcar. A propriedade, antiga sesmaria, é um símbolo da ocupação humana no território que viria a se tornar Americana. O prédio tem paredes imensas de taipa de pilão, erguidas pelos escravos. São 2 mil metros de área construída, com 36 cômodos. São dezenas de portas e janelões imensos. É um tesouro da arquitetura colonial, tombado como patrimônio público. Aquela fazenda também recebeu a primeira leva de imigrantes italianos que substituíram a mão de obra escrava no campo.

CUPIM E UMIDADE

Sede de um museu pedagógico a partir dos anos 80, o casarão guardava um acervo rico sobre a história política e econômica da cidade. Mas o prédio antigo, tomado por cupins e umidade, precisava de intervenções. Há uma década, por exemplo, recursos privados provenientes da Lei Rouanet (que usa parte do imposto de renda devido por empresas em projetos culturais) foram utilizados para a troca completa do telhado. Hoje, a prefeitura procura recursos – públicos ou privados – que possam custear a recuperação das paredes e do madeiramento. A escada, as treliças e o assoalho precisam de restauro e manutenção apurada.

CARIOBA

A Casa Hermann pertencia à família que alavancou o progresso da vila operária de Carioba, embrião da indústria têxtil de Americana. O bairro foi o símbolo de uma estrutura social de época, fantástica, onde os patrões investiam na moradia, na saúde, na educação e no lazer dos próprios funcionários. A casa também se tornou um museu histórico, expondo documentos e fotos históricas da vila. Além de, nas últimas décadas, ter se tornado um importante polo de atrações culturais. Como no caso do Casarão do Salto Grande, o prédio precisa de reformas.

Projeto de restauro já foi protocolado, mas depende agora de liberação de recursos

Hoje as portas só se abrem para visitas esporádicas, pontuais, do “Projeto Raízes”. São grupos guiados de estudantes orientados por monitores. A prefeitura tem planos ambiciosos para a vila operária. Desde 2017, a Secretaria de Cultura pretende fazer de Carioba um espaço com atrações gastronômicas, culturais e artísticas. O complexo industrial histórico, hoje parcelado em uma dezena de fábricas menores, tem tudo para se tronar sede, por exemplo, de um museu que conte a história do setor têxtil.

RUÍNAS

O bairro histórico ainda tem imóveis remanescentes, onde moravam os proprietários da fábrica ou funcionavam estabelecimentos. Mas a demora dos investimentos ameaça o que restou. O velho açougue foi ocupado por gente que vende porcos. Casas foram tomadas por famílias sem-teto. E a velha escola foi devastada por um incêndio. Apesar da demarcação clara do trecho a ser recuperado – entre a Casa Hermann e a antiga tecelagem – é imprescindível que a prefeitura consiga controlar o acesso à gleba, enquadrando as famílias invasoras em programas habitacionais.

Recursos privados vão recuperar prédio da estação ferroviária

Cabe à iniciativa privada a reforma de outro importante prédio histórico de Americana que segue fechado à visitação pública: a estação da antiga Companhia Paulista de Estradas de Ferro, na região central, construída em 1912. Recentemente, funcionou por lá um cineclube e outras atrações culturais. As obras são bancadas pela Rumo/AAL, empresa que explora o transporte ferroviário de cargas.

A reforma foi anunciada ainda em março, mas a queda da cobertura sobre as antigas plataformas de embarque atrasou os serviços, que deviam terminar ainda no primeiro semestre. Hoje, quem passa pela estação nota a movimentação de operários. A instalação da estrutura da nova cobertura está quase pronta. Guindastes enormes movimentam as vigas de aço. No fim da etapa, será retomada a reforma do prédio, com o resgate de traços arquitetônicos originais, sob a fiscalização de técnicos do patrimônio histórico.

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