sexta-feira, 19 abril 2024

Levantamento liga alerta sobre automutilação infantil na região

O CMDCA (Conselho Municipal dos Diretos da Criança e do Adolescente) de Americana vai destinar R$ 120 mil para projetos e campanhas de combate à automutilação (cortes no corpo) de crianças e adolescentes neste ano. Isso porque o conselho levantou que há casos de pelo menos 29 crianças e 121 adolescentes, totalizando 150 pessoas, em três cidades da região. 

A intenção é capacitar as escolas para detectar os casos e prevenir. E, assim, reverter este cenário preocupante. 

Esse dado foi levantado pelo Conselho a partir de 168 ofícios enviados às escolas estaduais e municipais de Americana e estaduais de Santa Bárbara d’Oeste e Nova Odessa. 

Porém, apenas 27 unidades responderam ao questionário. “Entendemos que esses números não são o real, mesmo porque só 28% das escolas responderam. Infelizmente os números são muito maiores”, afirmou o presidente do Conselho, Antonio Dias da Fonseca. 

“É uma questão muito grave. Esse problema da automutilação de criança e adolescente é um problema sério”, ressaltou Fonseca. 

O psicólogo Valdir Dusson, coordenador do Caps (Centro de Atendimento Psicossocial) Infantil Larissa de Almeida, disse que esse projeto do CMDCA será um grande avanço. Capacitará 600 educadores. Será contratada uma empresa por meio de edital para preparar professores para abordar o tema nas escolas. 

COMPORTAMENTO 

Desde setembro de 2018, 28 jovens já receberam tratamento para tentar se livrar deste comportamento autodestrutivo, no Caps Infantil, na Vila Dainese. 

As crianças e adolescentes atendidos fazem cortes pelo corpo para aliviar as dores emocionais causadas por variados problemas. 

Assim como Fonseca, Dusson acredita que o número é bem maior. Chegam à unidade os casos de maior gravidade, ou seja, aqueles em que o adolescente tenta cometer suicídio. Os ferimentos na pele também podem infeccionar e causar febre. Mas uma parcela considerável não está associada a suicídio, explicou Dusson. 

Ao chegarem ao órgão, os jovens passam por entrevista, para fazer uma avaliação. É feita a triagem e depois indicado o melhor tratamento. Casos emergenciais, que oferecem risco de vida, passam por avaliada médica e psiquiátrica. 

ORIGEM DO PROBLEMA É O MAIOR DESAFIO  

O maior desafio dos profissionais que lidam com esse comportamento é chegar à origem do problema. “Se não trata a origem, não tem como tratar o sintoma. A automutilação pode esconder fatos importantes, como abuso sexual, violência física”, explicou Dusson. 

DUSSON | Maior desafio é chegar à origem do problema

A dor não é só física, é emocional. “É um sofrimento psíquico que muitas vezes pode estar relacionado com o físico, que pode ser abrandado com o corte. Essa dor encobre a outra”, explicou Dusson. 

MOTIVOS SÃO VARIADOS  

Como a automutilação é um assunto muito recente, os especialistas ainda se debruçam para entender este tipo de comportamento. 

Segundo Valdir Dusson, pode estar associada ao esvaziamento das relações afetivas, por causa do avanço tecnológico. As pessoas passam mais tempo conectadas aos celulares e computadores do que entre si. 

Esse comportamento, que demonstra sofrimento, pode estar associado a famílias ausentes da vida dos filhos. Nos casos mais graves, pode ser causada por abandono e negligência por parte dos pais. 

EXPECTATIVAS 

Dusson também constatou que ocorreu esvaziamento do projeto de vida e expectativas, porque os jovens têm acesso a notícias negativas e isso causa um desalento e desânimo, explica o psicólogo. 

DIRIGENTE DE ENSINO OFERECE APOIO A PROJETO  

O novo dirigente de Ensino de Americana e Região, Haroldo Ramos Teixeira, afirmou ao TodoDia que os envolvidos no projeto contra a automutilação poderão contar com o apoio dele para este o desenvolvimento do programa. 

Teixeira afirmou que achou muito salutar esta proposta e que esta iniciativa será muito bem-vinda, uma vez que o foco é atuar na prevenção. 

Nesta linha, o governo do Estado lançou no ano passado o Conviva, para melhorar o ambiente escolar e o relacionamento entre alunos, professores, diretores e funcionários das unidades. 

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