sábado, 8 novembro 2025

O caminho até o caos

O estado de São Paulo entra amanhã na fase mais restritiva de circulação de pessoas desde o início da pandemia do novo coronavírus. E o faz por viver o pior cenário desde março do ano passado. Pior cenário porque a ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) nunca foi tão alta, mesmo com mais leitos abertos e porque medidas simples de combate à pandemia foram negligenciadas nos últimos meses. O TODODIA explica.
De acordo com dados da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), a segunda onda da pandemia é mais agressiva que a primeira numericamente. Nesta semana, a região de Campinas registrou quatro dias seguidos com mais de 200 internações por dia e atingiu a alarmante marca de 90,6% de taxa de ocupação de UTI, fatos inéditos na pandemia.
Em julho do ano passado, no pico da primeira onda, a região só teve 200 internações no mesmo dia em 10 de julho de 2020. Apenas um pico, e na sequência as internações ficaram na casa das 150 por dia. Isso ocorreu em um cenário de 80% de ocupação de leitos de UTI e 18 leitos de UTI para cada 100 mil habitantes. Nessa semana, o número de leitos para cada 100 mil habitantes variou entre 20 e 22.
Ou seja: a região tem mais leitos que o pico da primeira onda, mas mesmo assim apresenta maior taxa de ocupação. E conforme informações do estado e também dos municípios, nos últimos meses, tem sido maior a presença de pacientes com 50 anos ou menos nas UTIs, diferente da primeira onda, quando a maioria era idosa.
A explicação para isso tem mais relação com a população do que com o vírus, segundo análise da infectologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, Raquel Stucchi.
“A avaliação desse momento é que essa mudança de faixa etária é em função da maior exposição que as pessoas dessa idade abaixo dos 50 se colocou. É o pessoal que resolveu sair mais, se aglomerar mais, não usando máscara. É mais em função disso do que uma mudança do vírus. Os mais jovens ficam mais tempo na UTI, resistem mais, ficam mais tempo nesses leitos, e a rotatividade diminui”, explicou.
De acordo com a especialista, a situação caótica que vemos atualmente, dos hospitais colapsando, começou a ser desenhada ainda em novembro do ano passado, no período eleitoral.
“Ali, houve aumento de exposição das pessoas sem máscara. E isso continuou em dezembro nas festas de fim de ano, férias, verão, as praias lotadas. Depois o Carnaval que ‘não teve, mas teve’, as pessoas saíram, se encontraram. Então desde essa época temos essa faixa etária mais exposta. Isso inclusive facilitou a entrada das variantes que transmitem mais rapidamente. É a receita perfeita”, afirmou Raquel.
O colapso é eminente. O estado prometeu até o fim do mês a abertura de centenas de leitos de UTI, chegando a 9.200, ante os 8.500 da primeira onda, mas já adiantou que esse é o limite que consegue chegar por conta da falta de profissionais.
Nesse cenário, de acordo com especialistas do Centro de Contingência da Covid-19 do estado e com a médica Raquel Stucchi, a única medida possível é o aumento das restrições de circulação para elevar o isolamento social.
“Se as pessoas não ficarem em casa agora e seguirem as determinações, vai ser uma catástrofe maior do que o que estamos vivendo. Araraquara mostra isso bem claro, fez duas semanas de lockdown e os casos despencaram. As medidas restritivas têm impacto em duas semanas em relação ao número de casos, porque as pessoas deixam de transmitir e o impacto na oferta de leitos deve ser mais tardio, porque as internações estão mais longas. Mas é preciso seguir a restrição direito, sem culto, sem futebol, sem meia porta no comércio”, alertou a infectologista.
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