quinta-feira, 7 dezembro 2023

Volta às aulas em setembro causa apreensão em escolas particulares

A previsão do governo estadual de marcar para o dia 8 de setembro o começo do retorno gradativo às aulas foi recebida com muita apreensão por coordenadores pedagógicos e dirigentes de escolas privadas. Existe o medo de que a medida, anunciada na quarta-feira (24), provoque a quebradeira generalizada de colégios que, certamente, vão perder alunos. 

Possíveis demissões no setor ainda é um tema tratado com reserva. Mas o risco existe sim, principalmente no ensino infantil: com a economia parada, pais tendem a tirar a criança da escola particular, pois não têm mais como pagar as mensalidades.  Pelo menos 35 mil vagas em creches já foram fechadas em estabelecimentos privados do Estado. 

De acordo com projeções pessimistas dos dirigentes da Fenep (Federação Nacional das Escolas Particulares), outras centenas de milhares de vagas serão fechadas no País, enquanto persistir a pandemia. 

“Há uma debandada, principalmente na educação infantil, da primeira etapa, até os 3 anos de idade. Está saindo muita gente. Nessa fase, a escola tem o trabalho de cuidar e educar, o ensino remoto é difícil”, informou a federação. 

De acordo com o presidente do Sieesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo), Benjamin Ribeiro da Silva, todos os contatos feitos até agora com o governo paulista projetavam a retomada das aulas para julho ou agosto. “Os colégios se prepararam, adotaram os procedimentos de higiene e segurança recomendados pela OMS (Organização Mundial de Saúde)”, citou. 

Não é razoável, na opinião dele, que os estabelecimentos privados sejam obrigados a seguir um cronograma que leva em consideração o “despreparo” da educação pública em garantir a saúde dos alunos e professores. 

A reportagem do TodoDia ouviu de estabelecimentos privados de ensino de Americana que o “adiamento” do retorno previsto das aulas chegou como um balde de água fria. 

Carla Miranda, diretora pedagógica do Instituto Educacional de Americana, o Colégio Bandeirantes, disse que a escola montou uma estrutura capaz de garantir segurança para as aulas presenciais: totens de álcool em gel, tapetes antibacterianos para os sapatos, máscaras faciais… Estava tudo pronto para a retomada das atividades. 

“Ao estabelecer a data para a retomada das aulas, o governo deixou de considerar os investimentos e o planejamento feito pelas escolas”, afirma. 

Para ela, analisando todo o setor, os estabelecimentos privados evitam de todas as formas demitir, mas não poderão se manter se perderem os alunos. 

Diante da “debandada de alunos” do ensino infantil, muitas escolas estão cobrando valores simbólicos das mensalidades para que os pais possam manter as crianças matriculadas. 

Mas a alternativa é viável para colégios que se garantem com a mensalidade paga por alunos maiores.  Houve casos, em algumas escolas, que foi concedida gratuidade. Mas o fato é que pouca gente esperava uma quarentena tão prolongada. 

Para Jacyra Crepadi Kawakami, diretora do Colégio Anglo Cezanne,  o governo do Estado errou ao determinar as mesmas regras de isolamento social para todas as cidades do Estado, sem levar em consideração os índices de controle da pandemia em cada uma, e agora tem dificuldade em  articular a retomada das atividades da economia. 

Ela afirma que seu colégio já se preparava para a retomada gradativa das aulas presenciais, mas assume que o setor vive uma insegurança tremenda. “Muitos pais, imagino, vão se negar a mandar os filhos para a escola enquanto não tivermos uma vacina, ou uma confiança absoluta na segurança dos pequenos”, afirma. 

Pedagogicamente, fala, há perdas irreversíveis. “Muitos alunos ficam dispersos com as aulas online. É muito importante a relação interpessoal entre os pequenos, além da atenção presencial do mestre”, diz.  “Vamos torcer para que consigamos superar esta fase tão difícil”. 

DIRETOR CRITICA DESRESPEITO 

O professor Antônio Montezano Neto, diretor do Colégio Objetivo, afirma que a situação inesperada – o retorno adiado das aulas presenciais – é consequência da falta de respeito do próprio público às regras de isolamento social. 

“Quando as pessoas deviam estar em casa, faziam carreata pelas ruas pedindo a reabertura do comércio. Agora, temos a pandemia em curva ascendente e precisamos nos desdobrar nos cuidados”, fala. 

Para ele, está claro que o Estado quer forçar, com a decisão, que todos os municípios entrem na terceira fase da retomada da economia. “Já está claro: se não estivermos todos na fase amarela, as escolas não vão abrir”, afirma. “Para mim, o governo pode antecipar sim o retorno, se a pandemia estiver controlada.” 

SAIBA MAIS  

Sieesp divulga nas redes sociais um depoimento do filósofo Luís Pondé no qual afirma que, sem a escola funcionando, os pais “vão entregar o ano, e as escolas particulares vão quebrar”. A anunciada retomada gradativa das aulas, segundo ele, também não deve funcionar na prática. Será impossível, na sua opinião, manter as crianças longe uma das outras, como se fossem pequenos robôs. “A solução, que funciona só para os alunos maiores, seria pelo menos o ensino teórico de forma remota, com a presença planejada para aulas práticas”, disse.  

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