A região de Campinas volta a partir de segunda-feira (6) à fase 1 (vermelha) do Plano São Paulo, na qual só podem funcionar os serviços e comércios essenciais. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (3) pelo governo do Estado. A decisão provocou um embate entre o governo de João Doria (PSDB) e a Prefeitura de Americana, que criticou a decisão.
O governo estadual já vinha dando indícios de que a região de Campinas poderia sair da fase laranja para voltar à vermelha. Campinas já está há uma semana com o comércio fechado após nota técnica do Estado fazendo a recomendação, mesmo com a região ainda na fase laranja.
A taxa de ocupação de leitos aumentou, assim como os casos e as mortes, e a região toda terá de fechar comércios de rua, shoppings, imobiliárias, concessionárias e escritórios (que estavam permitidos, com restrições, na fase laranja).
No início da noite de hoje, a Prefeitura de Americana emitiu nota em conjunto com o Comitê de Crise contra o Covid-19 lamentando que o município tenha voltado à fase vermelha.
“O anúncio feito pelo governo estadual será seguido por obrigação legal, mas é preciso destacar o descontentamento da administração municipal, uma vez que a situação da nossa cidade destoa das vizinhas”, argumenta o Executivo.
A nota cita a importância de cumprir os protocolos de saúde e diz que o nível atual de ocupação dos hospitais de Americana “é similar aos índices da cidade de São Paulo, por exemplo, que já está em fase avançada no processo de reabertura”.
A prefeitura diz que a estrutura hospitalar municipal, pública e privada, vem atendendo a demanda atual. “Americana tem ainda um hospital de campanha preparado para ser ativado se necessário”, ressalta.
Na nota, a prefeitura diz que o governo do Estado levantou a possibilidade de pedir respiradores de volta. “É preciso informar, ainda, que o Estado comunicou à prefeitura que pode requerer de volta os cinco respiradores que encaminhou ao município, informando que o equipamento está em comodato e que pode retirá-lo daqui a qualquer momento caso haja demanda em outros locais”, diz.
Segundo a prefeitura, foram identificados problemas em dois desses equipamentos recebidos e que isso está sendo tratado com o Estado.
O governo estadual rebateu a prefeitura.
“A Secretaria de Desenvolvimento Regional do Estado lamenta que a Prefeitura de Americana demonstre resistência no mesmo dia que a cidade contabiliza o recorde de casos com 163 novos registros. O momento é de prudência. O Governo de São Paulo continuará agindo conforme as orientações de médicos e especialistas, jamais a partir de pressão política”, diz nota.
Sobre os respiradores, a Secretaria de Estado da Saúde informou que a distribuição é técnica e “de forma alguma haverá decisão arbitrária de reaver os equipamentos, que são cruciais para assistência aos casos graves e serão mantidos pelo tempo que for necessário para garantir atendimento à população”.
‘RELAXAMENTO’ LEVOU À DECISÃO, DIZ ANDIA
A Prefeitura de Santa Bárbara afirmou que o município tem a obrigação de seguir a decisão estadual, tomada devido a um “relaxamento” das pessoas, segundo o prefeito Denis Andia (PV).
“Embora Santa Bárbara e algumas outras cidades tenham contribuído com a implantação de novos leitos de UTI, a avaliação do Estado leva em conta a estrutura da região como um todo. Mas o fator que mais pesou foi o aumento generalizado do número de infectados e internações na região”, afirmou.
O prefeito destacou que o aumento é causado pelo “relaxamento de muitas pessoas em relação ao uso de máscara e a ideia equivocada de que a retomada significava um risco menor de contágio, quando é o contrário”.
“Lamentamos a falta de consciência de alguns, eles colocam em risco a própria saúde e da cidade inteira. A região só vai avançar se todos fizerem sua parte, usando máscara em todos os momentos e não saindo de casa sem necessidade”, finaliza.
A Prefeitura de Hortolândia informou que seguirá o Estado e prepara um novo decreto municipal, “que será publicado nos próximos dois dias, para se adequar à nova orientação e seguir os critérios para conter a disseminação da Covid-19”.
A Prefeitura de Nova Odessa informou que também seguirá as orientações do governo estadual e que publica decreto neste sábado para o funcionamento apenas dos serviços essenciais a partir de segunda-feira (6).
A Prefeitura de Sumaré respondeu apenas que a situação “será analisada pelo comitê, que fará as deliberações”.
PARA ACISB, ‘NÃO É O COMÉRCIO QUE ESTÁ FAZENDO AGLOMERAÇÃO’
“Foi uma decepção, a gente estava na expectativa de quem sabe avançar para a fase amarela, ou manter a laranja em último caso”, lamentou João Batista de Paula Rodrigues, presidente da Acisb (Associação Comercial e Industrial de Santa Bárbara d’Oeste). Ele acredita que as aglomerações continuarão mesmo assim.
“Não é o comércio que está fazendo aglomeração, prejudicando o isolamento. Temos feito nossa parte, tudo certinho, obedecendo as normas. Em plena semana de pagamento, estávamos indo bem, mesmo só com quatro horas diárias, e agora tem que fechar tudo”, criticou o presidente da Acisb.
Wagner Armbruster, presidente da Acia (Associação Comercial e Industrial de Americana), disse que seguirá as orientações dos órgãos competentes. “Não é animador, mas temos de preservar a saúde”.
A Acias (Associação Comercial e Industrial de Sumaré) manteve seu posicionamento do dia anterior, e informou em nota que a cidade não precisa ir para fase vermelha e que “vai pleitear junto aos órgãos públicos a manutenção da cidade na fase laranja”.
“Empresário que começava a ver horizonte, volta à estaca zero. Houve uma perda para o aquecimento do comércio. Mas cabe a avaliação, a região realmente teve acréscimo muito grande de casos”, disse Samuel Teixeira, presidente da Acino (Associação Comercial e Industrial de Nova Odessa).
A reportagem não conseguiu contato com a associação comercial de Hortolândia.
Comerciantes também tiveram de aceitar a decisão e que terão que fechar. Kelly Fecchi, gerente da Santa Lolla Americana, loja de calçados que fica na Rua Fortunato Faraone, desaprovou a decisão.
“Não gostei, não queria que fosse assim. E não vai adiantar nada, é tudo uma ilusão. Fecha o comércio e o povo não pode ir trabalhar, enquanto outras pessoas vão continuar saindo, fazendo churrasco, bebendo”, afirmou.
A gerente revelou que a loja teve prejuízo de 70% funcionando apenas online. “Agora que estava melhorando, o pessoal estava vindo comprar”, lamentou.
“É prejudicial para todos os ramos que terão que fechar. Seria ideal manter e regular as pessoas”, afirmou uma funcionária da Pio Magazine, no Jardim São Paulo, que não quis se identificar.
O mês de reabertura deu sobrevida à loja, segundo a funcionária. “Assim que abriu muitos clientes começaram a vir”, contou.