Na volta às gravações, humorista reclama do politicamente correto: ‘hoje tudo é agressivo, preconceituoso’
Nóbrega diz que levou um susto quando conseguiu retornar aos estúdios da emissora de Silvio Santos e se deparou com uma série de mudanças. Embora necessárias, na avaliação dele, as alterações prejudicaram o clima do humorístico.
“Foi muito difícil, pois existem protocolos rígidos a serem seguidos. Só que isso tira muito do clima gostoso que tínhamos, da alegria e das brincadeiras. Está tudo diferente. Isso me atrapalhou muito. Sinto falta do calor humano e das risadas que nos ajudavam”, conta.
Ele revela ainda outra situação que também o assustou. Quando dois colegas de elenco receberam diagnósticos positivos de Covid-19 nos exames de rotina no canal – Giovani Braz, que interpreta o bêbado Saideira, e o comediante Diogo Portugal. Eles não tiveram sintomas graves da doença.
Carlos Alberto de Nóbrega conta que sempre começa as filmagens contracenando com o humorista Matheus Ceará. Porém, não tinha as risadas da plateia nem as gargalhadas colocadas pela produção para conduzir as esquetes e nortear os momentos de graça.
“Ninguém pode imaginar o quanto eu senti. O riso é o aplauso do comediante. Fiquei apavorado. Não tínhamos artistas nem para completar os 72 minutos no ar que eu tenho na programação”, desabafa. A questão das risadas, diz ele, já foi solucionada.
Outro fator bastante sentido por ele foi o distanciamento. A partir de agora, todos têm um camarim próprio cujas portas ficam abertas o tempo todo. Nóbrega também não pode mais passar o texto com cada comediante como era de praxe.
Na dinâmica de A Praça É Nossa, os estúdios recebem menos câmeras e cada comediante entra sozinho para ficar ao lado de Nóbrega. Nesse retorno de inéditos, a audiência tem sido em torno de seis pontos na Grande SP (cada ponto do Kantar Ibope equivale a cerca de 76 mil domicílios). E o apresentador conta que começou a chamar gente de fora para incrementar o humorístico.
Entre as novidades estão os humoristas de stand-up comedy Mhel Marrer e Cris Pereira. A participação de ambos tem agradado ao comandante que quer inovar ainda mais o elenco. “Queria trazer Moacyr Franco, conversei com ele, mas o financeiro não encaixou. Convidei Fábio Rabin, mas não rolou por algum motivo. O ruim de parar é que na volta o público quer novidades e os quadros antigos ao mesmo tempo”, reflete.
Apesar disso, outra dificuldade é acertar a mão nas piadas em plena pandemia. “O humor na TV aberta está indo para o buraco. Acabaram os caras engraçados. A gente já luta contra o politicamente correto. Hoje tudo é agressivo, preconceituoso”, diz o artista.
MEMÓRIAS
O apresentador Carlos Alberto de Nóbrega usou o período de quarentena de mais de um ano isolado em um sítio em Itu (a 442 km de São Paulo) para escrever histórias e memórias de sua vida. Ele afirma que a obra já está pronta e aguarda o fim da pandemia para ser lançada.
“Resolvi escrever a minha história que eu vi e vivi em 64 anos de carreira. Como começaram os programas que fiz, as injustiças que vi e levei. É um projeto bem interessante que surgiu por causa da pandemia”, diz o apresentador que iniciou a carreira artística como roteirista de quadros humorísticos para a atração do pai, o Programa Manuel de Nóbrega, na Rádio Nacional, em São Paulo.
Carlos Alberto de Nóbrega, que aos 40 anos perdeu o pai, Manuel de Nóbrega, criador do formato “A Praça da Alegria”, afirma que a ideia inicial era transformar essas lembranças em palestras pelo Brasil. O isolamento social, porém, adiou os planos dele que começariam em 2020 e que haviam sido acertados com uma empresa de Brasília no ano anterior.
“Está tudo pronto, tem fotos e lembranças. Só que agora eu vou esperar para lançar após a pandemia. Quero uma noite de autógrafos”, comenta o apresentador, ao revelar que ter começado até fonoaudiologia para empostar melhor a voz, caso fizesse palestras.
A quarentena de Nóbrega foi necessária. Chegou um determinado momento, porém, em que ele não aguentava mais ficar preso dentro de casa. “Já estava traumatizado e enjoado. Via programas voltando [à TV] e a Praça não voltava. Fiquei nervoso”, rememora diz Nóbrega, que chegou a apresentar reprises de A Praça É Nossa direto de casa.
(Leonardo Volpato)