quinta-feira, 9 maio 2024

Campeão de Surfe emociona na chegada

Ao lado do portal de entrada de Baía Formosa, cidade de 8.500 habitantes no litoral sul do Rio Grande do Norte, a pequena Maria Clara Araújo, 10, aguarda a chegada de seu ídolo. 

“Eu penso que um dia posso ser como ele. Também quero conquistar o mundo”, disse, se referindo ao também potiguar Italo Ferreira, 25, que conquistou o título da Liga Mundial de Surfe (WSL) na última quinta-feira (19), no Havaí, e voltou nesta segunda-feira à sua cidade natal. 

Ele chegou na cidade por volta das 16h, após desembarcar em Natal, onde desfilou em um caminhão de bombeiros. Carregava nas mãos o troféu de campeão mundial. 

TALETOS MIRINS 

Italo tornou-se inspiração para crianças como Maria Clara, que há oito meses vem disputando, e vencendo, competições regionais. 

Clarinha, como é mais conhecida, está entre as 54 crianças e adolescentes atendidos pelo projeto Swell, que oferece aulas de inglês, francês, ioga e surfe na praia, principalmente a filhos de pescadores e desempregados. 

“Tem muito talento em Baía Formosa. A praia está cheia de futuros Italos, mas falta um olhar para cá”, diz o educador físico gaúcho Cesar Arenhaldt, que criou o projeto junto com a mulher, Bárbara, ao ver jovens surfando com pedaços de prancha e tampas de isopor. Foi exatamente assim que Italo deu os seus primeiros passos no surfe. 

ISOPOR 

Ainda criança, ele ia para o mar com tampas de caixas de isopor onde o pai, o comerciante Luiz Ferreira de Souza, 54, armazenava peixes para revender. 

“Ele ficava de dia no mar e a noite na escola. Mas sempre preferiu o surfe e nós temos muito orgulho de tudo o que ele conquistou”, diz o pai de Italo, conhecido na região pelo apelido de Luizinho. 

Amigo de adolescência do novo campeão mundial de surfe, Marcelo Jônata, conhecido como Bochecha, conheceu o jovem surfista quando ele disputava apenas competições estaduais. 

‘UM DIA…’ 

“Ele via os grandes campeões na televisão e dizia ‘um dia vou estar lá’. Nunca foi de festa. Sempre teve determinação, foco e fé em Deus. Sempre acordou cedo para ir para o mar”, lembra o amigo, que ajudou a organizar a recepção ao campeão. 

Ele lembra que Italo enfrentou uma série de obstáculos até chegar à elite do surfe mundial. No início, ainda em Baía Formosa, costumava ficar na areia esperando o primo, Fabiano Ferreira de Mendonça, 40, terminar de surfar para lhe emprestar a prancha. 

O título mundial foi um acontecimento para a pequena cidade do litoral potiguar. A mãe do surfista, Katiana Batista da Costa, 51, conta que caiu no choro ao ouvir gritos de “é campeão” no restaurante da família, onde acompanhava a disputa em uma festa de confraternização. 

AVÓ 

O título foi dedicado pelo atleta a sua avó, conhecida como Mariquinha, que morreu em decorrência de um acidente vascular cerebral quando ele já estava no Havaí. 

“Minha avó me disse ‘Meu filho, faça bonito. Eu fui lá e fiz'”, disse o campeão à reportagem após desembarcar no aeroporto em Natal. “Quando peguei a última onda e vi que o Gabriel [Medina] tinha caído, eu apontei a mão para cima e gritei o nome dela”, relembra. 

EMBAIXADOR 

O potiguar foi recebido no aeroporto de Natal por centenas de pessoas, dentre familiares, amigos e surfistas. Da governadora Fátima Bezerra (PT), recebeu o certificado de Embaixador do Esporte do Rio Grande do Norte. 

‘É IRADO” 

No meio da multidão, estavam os também surfistas Deryck Vitor, 18, e Arthur Vilar, 8, que foram até o aeroporto para receber o conterrâneo. 

“É irado ver a história dele e um privilégio para Baía Formosa. Faz a gente pensar que é possível”, diz Deryck. 

Arthur, que se divide entre a escola e as ondas, diz que treina todos os dias e já coleciona prêmios regionais. Um dos troféus, conquistado em janeiro deste ano na praia de Baía Formosa, foi recebido das mãos de Ítalo. 

Do aeroporto, Ítalo seguiu em carreata até Baía Formosa, em um trajeto de cerca de 110 km. Na cidade, uma multidão disputava espaço nas calçadas e nas ruas para vê-lo desfilar com a taça. 

Após chegar a Baía Formosa, ele afirmou que representar o Brasil na Olimpíada de Tóquio, em 2020, será um dos principais desafios da carreira. E o próximo sonho? 

Ele apenas sorri e diz querer “continuar sendo feliz”. Vem muito mais por aí. 

MEDINA FOI PIONEIRO  

Para ser campeão, Ítalo Ferreira venceu o atleta que, até então, era referência nacional no mundo do surfe. Gabriel Medina Pinto Ferreira, de São Sebastião (SP), levou o surfe brasileiro a outro patamar quando faturou, por duas vezes, o título mundial. 

MEDINA | Mudança no patamar do surfe brasileiro

Ele ganhou a ASP World Tour de 2014 e 2018. Nunca na história um brasileiro tinha vencido um mundial de surfe. Aliás, ele foi o mais jovem brasileiro a figurar no seleto grupo de surfistas profissionais ranqueados para a disputa. 

Ele tinha só 20 anos quando ergueu o primeiro dos troféus. 

A exemplo de Ítalo, Gabriel começou a encarar as ondas muito cedo, aos 9 anos de idade. Aos 11, venceu seu primeiro campeonato em nível nacional, a etapa Rip Curl Grom Search, disputada em Búzios, Rio de Janeiro. A partir daí, ele colecionou títulos nacionais. Depois, colecionou títulos disputados no Exterior. 

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