Sem data definida para a volta do futebol, dirigentes de clubes das quatro divisões profissionais do futebol paulista começam a se questionar quando será possível retomar os estaduais e se vale a pena. Os torneios da A1, A2 e A3 foram paralisados durante a primeira fase por causa da pandemia do novo coronavírus. A Segunda Divisão (como é chamada a série depois da A3) começaria em 18 de abril.
A reportagem teve acesso a conversas de WhatsApp de cartolas. Eles pedem que a FPF (Federação Paulista de Futebol) defina uma data limite em que seja possível reiniciar os torneios. A partir dali, se tornaria inviável completar as competições em 2020.
Presidentes de dois clubes da Série A2 e outros dois da A3 disseram à reportagem que se trata de uma corrida contra o tempo e que, se os campeonatos não forem retomados até a metade de maio, o melhor pode ser cancelá-los e começar de novo em 2021. “Tem time que acredita que não vai ter como terminar o campeonato. Eu não dispensei nenhum jogador, mas não sei como vai ser. Nossa entrada de recursos no momento é zero. Como vou pagar elenco e funcionários sem dinheiro?”, afirma Rogério Levada, presidente do Paulista de Jundiaí, atualmente na A3.
“Eu não vejo mais com bons olhos que o futebol volte neste ano. Se for para normalizar, digamos, no final de maio, melhor cancelar tudo. Ninguém vai pagar ninguém”, concorda Roberto da Penha Ramos, gestor do futebol do São José, da Segunda Divisão.
O futebol paulista está paralisado desde 16 de março. Por causa da pandemia de coronavírus, a FPF comunicou a interrupção dos campeonatos.
A ideia do presidente Reinaldo Carneiro Bastos é que as competições voltassem até o final de abril. Mas os cartolas veem com ceticismo um retorno tão rápido.
“Se voltar em maio, não teremos elenco. Vou ter três jogadores do profissional e cinco do sub-20 e acabou. Não temos calendário para o segundo semestre. Não sabemos se o campeonato vai terminar. Não temos nem como conversar com os atletas para negociar uma extensão de contrato. Extensão para quando?”, questiona Sidnei Riquetto, presidente do Santo André, time de melhor campanha na Série A1 até a parada.
Não há discussão, por enquanto, sobre revogar os torneios. A proposta da FPF é, quando a pandemia tiver sido debelada, reunir os presidentes do clubes e chegar a um acordo. “Votei a favor da paralisação, ela é vital. Pelo andar da carruagem, (a interrupção) vai ser muito mais do que 30 dias. Eu não enxergo um retorno rápido. Fala-se em seis meses”, opina o presidente do Santos, José Carlos Peres.
Um dos maiores problemas para as equipes é a extensão contratual. Pela Lei Pelé, não é possível fazer prorrogação menor de três meses. Isso faz com que os dirigentes tenham de esticar o planejamento financeiro por muito mais tempo do que o esperado.
Para os 16 times da A1 também há outra questão financeira. A quarta e última parcela dos direitos de transmissão do torneio, pagos pela TV Globo, não foi repassada pela Federação. Segundo os dirigentes, se isso acontecer apenas quando o campeonato for retomado, as dívidas vão se acumular. Consultada, a Federação não se pronunciou sobre o repasse.
“Conversei com o Reinaldo [Carneiro Bastos]. A gente tem de voltar com as séries A2 e A3, porque senão vai ser um caos. Acho que daqui uma semana teremos uma posição. Pode ser uma volta com portões fechados, porque dá para exibir na TV, negociar algumas outras coisas que possibilitem aos clubes receber algum dinheiro e pagar os jogadores”, acredita Rinaldo Martorelli, presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo.