É pouco comum no futebol brasileiro que jogadores assumam posições publicamente sobre a política nacional, como fez o palmeirense Felipe Melo no último domingo. Em entrevista ao vivo no gramado da arena Fonte Nova, em Salvador, ele dedicou o gol marcado contra o Bahia ao candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL).
Semanas antes, outro atleta que externou seu apoio ao presidenciável foi o meio-campista Lucas Moura, do Tottenham (ING), se juntando a um grupo que, além de Felipe Melo, já tinha os corintianos Jadson e Roger.
Quando se pensa na tabelinha entre futebol e política, uma das figuras mais lembradas é a de Sócrates (1954-2011), ídolo do Corinthians e personagem central de movimentos na década de 1980, como a Democracia Corintiana e a campanha das Diretas Já.
Em 2017, o jornalista escocês Andrew Downie, correspondente da Agência Reuters no Brasil, publicou (em inglês) uma biografia do jogador. “Doutor Sócrates: Futebolista, Filósofo e Lenda” é o título traduzido da obra de 400 páginas, editada pela Simon & Schuster.
Segundo Downie, que investigou a fundo a vida do ex-atleta da seleção brasileira para o livro, a onda atual de manifestações pró-Bolsonaro não poderia servir de comparação com a atuação política de Sócrates há três décadas.
“Esses caras hoje em dia são o contrário do Sócrates. Ganham muito mais e se importam muito menos com o lugar de onde eles vêm. Sócrates era imprevisível e não posso falar por ele, mas creio que ele estaria chocado em ouvir jogadores do Corinthians ou de qualquer time grande, como Palmeiras ou Tottenham, falando a favor do Bolsonaro, do autoritarismo”, diz à reportagem.
Para Downie, porém, a falta de posições firmes de grandes estrelas do futebol sobre diversos temas não é uma exclusividade brasileira.
“No futebol americano você tem Colin Kaepernick, que lutou a favor dos direitos dos negros nos Estados Unidos, tem LeBron James no basquete. Você tem duas estrelas do esporte lutando por causas sociais. No futebol não tem ninguém fazendo isso. Nem pensar em Messi e Cristiano Ronaldo”, afirma.
Além da original em inglês, a biografia de Sócrates tem edição em francês (com prefácio de Raí) e já estão previstas edições em outras quatro línguas: italiano, turco, árabe e polonês. Downie acredita que o grande interesse de fãs de futebol pelo mundo na figura de Sócrates se dá pela curiosidade de saber mais sobre sua vida fora dos gramados.
Por ora, nenhuma editora do Brasil se interessou pela publicação da obra, mas o autor negocia com um parceiro para viabilizar o livro de forma independente em português.