terça-feira, 30 abril 2024
O QUE TEM AÍ DENTRO?

”Mas as coisas que saem da boca vêm do coração, e são essas que tornam o homem ‘impuro’.” (Mateus, 15:18)

Por André Luís Pereira, teólogo e psicanalista
Por
André Luís Pereira
Foto: Arquivo Pessoal

O que você anda lendo nos últimos tempos? Quais programas de televisão, filmes ou séries você tem assistido? Quais personalidades ou celebridades você tem “seguido” nas redes sociais? Quem são os influencers que te influenciam?

Todas essas perguntas tenho feito a mim mesmo e, também, às pessoas que declaram pra mim que estão angustiadas, e buscam por aconselhamento ou orientação.

Você sabia que aquilo que elegemos como alimento intelectual pode nos adoecer e, também, pode nos ajudar num processo de cura?

Quando nos sujeitamos somente as más notícias, as teorias de conspiração, as produções fatalistas, aos telejornais apocalípticos, aos influencers, personalidades e celebridades que vivem (e ganham muito dinheiro) em função do caos e da barbárie, geralmente fazemos algo chamado de espelhamento. Sim, passamos a reproduzir em nossa vida exatamente aquilo que consumimos.

Não é à toa a elevação das crises de ansiedade, pânico, hipertensão, taquicardia, depressão e estresse. Muitas pessoas estão adoecendo por conta do conteúdo que estão consumindo na internet e nas redes sociais.

Hoje em dia muita gente acredita em tudo o que é dito. Aliás, consideremos que muito (mas muito mesmo) daquilo que é dito, publicado em mídias escritas e visuais, não citam qualquer fonte fidedigna (isso quando citam alguma). Nos últimos anos tivemos de viver sempre debaixo da desconfiança, visto que o fenômeno fakenews se tornou um vírus poderosíssimo, que afastou amigos, dividiu famílias, espalhou confusão na mente da população e, por incrível que possa parecer, ajudou a alavancar a violência.

E tudo isso aconteceu porque, infelizmente, muitas pessoas perderam aquilo que chamamos de senso crítico. Estas muitas pessoas, quando criticam, na verdade, apenas atacam o próximo, pois elas não têm qualquer certeza em suas próprias crenças. Na música “Alagados”, Hebert Viana afirma: “a arte de viver da fé, só se sabe fé em quê”. Muitas pessoas acreditam em tudo, defendem o que defendem sem nenhuma base científica, filosófica ou teológica. Aliás, falar em ciência é, pra muitos, o mesmo que invocar o diabo. Vivem numa bolha inestourável por quem quer que seja, não fazem ideia de que eles mesmos têm condições de estourar essa bolha de dentro pra fora.

Mas não fazem terapia, não ouvem outras pessoas, não se descolam de seus influencers, personalidades e artistas. A maioria é seduzida pelo caos, pelas catástrofes, pela ideologia do “quanto pior melhor”. Que vida mais fúnebre!

Não contentes com os venenos com os quais se alimentam, destilam-no impositivamente, sem qualquer respeito, sobre os que tentam viver sob a esperança e pelas vias do amor.

Todo esse envenenamento e consequente adoecimento começam com uma permissão. Sim, tudo começa quando o indivíduo escolhe e permite-se alimentar com más notícias, com teorias do caos, com a desesperança, e, então, fecha-se para tudo e para todos que se revelam diferentes.

É preciso acordar desse pesadelo; é preciso romper esse cárcere. Mas isso só é possível com reflexão, senso crítico, diálogo, ponderação, humildade e uma mente sadia, do contrário, tudo sempre será caos, os dias amanhecerão na espera da morte, seja ela física ou existencial, pois não há quem consiga sobreviver sob a perspectiva do “tudo está perdido”.

Portanto, cuide do seu coração, cuide da sua mente e de suas emoções. Use uma parte do seu tempo para alimentar-se da esperança, do amor, da resiliência, da fé. Além disso, seja um porta voz daquilo que é bom e que faz bem às pessoas. Não seja uma fonte do mal, mas seja um manancial de tudo aquilo que for bom para você e para aqueles que convivem com você. Pense nisso.

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