sexta-feira, 26 abril 2024

Número de eleitores jovens cai

O número de eleitores na RMC (Região Metropolitana de Campinas) teve crescimento de 6,16% na comparação entre os meses de junho desse ano e junho de 2014. O que chama a atenção é a queda no número de eleitores jovens. De acordo com o perfil do eleitorado, divulgado ontem pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), entre os eleitores com 16 e 17 anos a queda foi de 20,7%. Já entre os jovens com idade entre 18 e 20 anos, a queda foi de 7,2%.
Especialistas apontam que queda na taxa de fecundidade e desencanto com a política são os prováveis causadores dessa diminuição dos eleitores jovens.
Em número absolutos, a quantidade de eleitores na região saltou de 2.125.094 para 2.256.011, totalizando 6,16% de crescimento. No país, o aumento foi de 3,14%, segundo o levantamento.
No Brasil, o voto é obrigatório apenas para pessoas a partir dos 18 anos, mas com 16 já é possível tirar o título de eleitor e escolher os candidatos.
Esses eleitores facultativos com 16 e 17 anos, que somavam 21.391 em junho de 2014, agora não passam de 16.944. Já os que tem entre 18 e 20 anos caiu de 121.667 para 112.836, representando queda de 20,7% e 7,25% respectivamente.
Para o professor e doutor Roberto Romano, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, os dados mostram um grande desinteresse por parte da juventude. “Os jovens estão seguindo a camada média da população que não tem o hábito da prática política, não tem a prática de integrar partido. Eles estão seguindo a maré de toda a população brasileira que não sabe bem o que fazer na eleição de outubro”, explica.
De acordo com ele, a situação política está indefinida e o fato de os candidatos à presidência ainda não terem vice definido mostra isso. “As alianças estão cada vez mais frágeis e não há projeto de país ou políticas públicas para a Educação, que atraiam a juventude”, avalia.
Ainda segundo o especialista, todos esses fatores levam a um desencanto ou desconhecimento do jovem sobre a vida pública. “Ele só tem contato com a política através de notícias da Lava Jato, o que não é muito atraente”, afirma.
Ele diz que uma exceção são apenas os jovens engajados e que já têm uma militância para a esquerda ou para a direita.
CORRUPÇÃO
Para Ricardo Ojima, doutor em Demografia e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, além do desencanto com a política também há a queda na taxa de fecundidade. “É a combinação das duas coisas. A população nesses grupos mais jovens está atingindo um patamar de crescimento lento ou até negativo. A cada ano nascem menos crianças. Há uma queda já há décadas na taxa de fecundidade”, lembra. “Tem também o efeito da baixa adesão e interesse de quase todos na questão política por conta da corrupção e isso deixa os eleitores facultativos ainda mais desestimulados a participar da eleição. Há um desencanto com o processo político”, ressalta.
CRESCIMENTO
Sobre o fato de a região ter alta no número geral de eleitores, ele diz que é natural e que os fluxos migratórios têm grande peso. “A região de Campinas tem perfil econômico mais acelerado e atrai muitos imigrantes, assim como São Paulo. Tem também a questão da população adulta que ainda cresce porque são as que nasceram muito tempo atrás, antes da queda da taxa de fecundidade”, explica.
De acordo com Rachel Meneguello, professora titular em Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, os dados do TSE refletem a inversão da pirâmide populacional pela qual o Brasil passa. “Durante muitos anos tínhamos a composição de um país fundamentalmente jovem. Não é mais assim, envelhecemos, e o número de jovens diminuiu, afetando também a faixa de eleitores mais jovens”, diz.
Segundo ela, essa inversão não altera o cenário de envolvimento político. “Temos observado nas pesquisas pós-eleitorais que desenvolvemos em nossos projetos, que em média 70% dos mais idosos (70 anos ou mais) votam tanto no 1º quanto no 2º turnos das eleições (dados para 2010 e 2014) e os mais jovens igualmente votam: em 2014, pouco mais de 80% de indivíduos pesquisados entre 16 e 17 anos foram votar. Esse comportamento eleitoral ativo é resultado do papel adquirido pelas eleições no mapa de referência das pessoas”, explica.
Ela acredita que todas as faixas do eleitorado serão mobilizadas nessa eleição. “O que muda são as formas de envolvimento. Essas eleições trazem o uso ampliado das mídias sociais e redes como forma de engajamento, esse é um comportamento que atinge mais os jovens, daí o investimento dos candidatos nesses meios em suas campanhas”, finaliza.
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