sexta-feira, 26 abril 2024

Museu alemão terá de devolver fóssil de dinossauro levado irregularmente do Brasil

A decisão foi do Conselho de Baden-Württemberg

MUSEU ZOOLOGIA USP | É possível ver dinossauros em São Paulo, esta é uma representação osteológica de um Carnotauro (Foto: Divulgação)

 O Museu de História Natural de Karlsruhe, na Alemanha, será obrigado a devolver ao Brasil o fóssil do dinossauro Ubirajara jubatus, retirado ilegalmente do país por pesquisadores estrangeiros. A decisão foi do Conselho de Ministros da região de Baden-Württemberg, que acatou, na manhã desta terça-feira (19), um pedido feito pela ministra da Ciência, Theresia Bauer. De acordo com uma avaliação do ministério, existem dúvidas sérias sobre a legalidade da aquisição do fóssil e de sua importação pela Alemanha. Haverá ainda uma investigação sobre outros exemplares brasileiros em posse do museu. A expectativa é de que eles também possam ser repatriados.

Segundo reportagem do jornal alemão Badische Neueste Nachrichten, o ministério da ciência alemão se irritou com a “má-conduta científica inaceitável do museu”, que gerou danos reputacionais sérios à instituição e ao país.

Nos últimos 18 meses, desde que a espécie foi apresentada em um artigo científico pela primeira vez, a imagem exótica do Ubirajara jubatus, com penas abundantes e quatro hastes “penduradas” nos ombros, tornou-se o símbolo da luta contra o tráfico internacional de fósseis. A comunidade científica brasileira se mobilizou de forma inédita por meio da campanha virtual #UbirajaraBelongstoBR (Ubirajara pertence ao Brasil) para denunciar as diversas irregularidades envolvendo a saída do fóssil do território brasileiro.

Uma das idealizadoras e principais vozes do movimento, Aline Ghilardi, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, considera que o anúncio é uma vitória para a ciência dos países em desenvolvimento. “Nós mandamos uma mensagem muito poderosa, que está ecoando mesmo em outras regiões do mundo”, afirma.

Assinado por três pesquisadores estrangeiros, o artigo científico que descreveu o Ubirajara jubatus desrespeitava diversos pontos da legislação do Brasil, que estabelece, desde 1942, que os fósseis são patrimônio nacional. Eles têm venda proibida e, para que saiam do país, é necessária uma autorização formal. Embora tenham afirmado inicialmente que o fóssil saiu do Brasil com a devida autorização em 1995, os autores do trabalho não conseguiram apresentar a documentação adequada. Ao longo do imbróglio, apresentaram outras justificativas conflitantes que acabaram por não se sustentar.

Turbinado pela pressão nas redes sociais, o caso gerou grande atenção na comunidade acadêmica e na imprensa internacional. Diante do risco de danos reputacionais, universidades, museus e revistas científicas passaram a revisar algumas de suas condutas, exigindo maior rigor com a comprovação de origem dos materiais

O próprio Museu de História Natural de Karlsruhe acabou também forçado a mudar de posicionamento, afirmando agora que leva muito a sério a questão da origem das peças de seu acervo.

Diretor do museu do Cariri, Allyson Pinheiro descartou a existência de uma disputa e ressaltou o longo histórico de colaborações entre as duas instituições. O paleontólogo destacou, porém, o grande potencial transformador que a ciência tem para a região do Crato. Apesar do entusiasmo, Pinheiro ainda é cauteloso nas comemorações. “Estou muito feliz, mas o jogo só acaba quando termina, quando o fóssil estiver no Brasil. Nossa experiência com repatriações é de que este é um processo lento e burocrático, mesmo quando feito de forma consensual.”

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