sábado, 23 novembro 2024

Após ataque, candidatos reveem estratégias

Após se solidarizarem com o ataque sofrido pelo candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, as equipes dos demais presidenciáveis iniciaram neste fim de semana uma série de reuniões internas para planejar o tom e os próximos passos da campanha. Candidatos que produziram propagandas eleitorais combatendo frontalmente Bolsonaro, como é o caso do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), avaliam dar uma “trégua” nos ataques a curto prazo.
O candidato pelo MDB, Henrique Meirelles, manteve na sexta-feira encontros com seu grupo político que devem se estender pelo fim de semana. De acordo com aliados do presidenciável, Meirelles não tem promovido uma campanha de ataque ao deputado federal.
Na semana passada, porém, ele postou um vídeo no Twitter pedindo que os eleitores não votem com “os olhos cegos pela indignação”. A expectativa agora é que haja uma suspensão temporária do clima “belicoso” que vinha caracterizando a disputa. Essa é a mesma avaliação do entorno do presidenciável Ciro Gomes.
O secretário-geral do PSDB, deputado Marcus Pestana (MG), concorda que o fato trouxe um “efeito paralisante na campanha” de Alckmin e dos demais aspirantes ao Palácio do Planalto. Ele defendeu que os próximos dias sejam dedicados a analisar os efeitos do que aconteceu do ponto de vista psicológico, a exemplo da morte de Eduardo Campos em 2014, então candidato à Presidência pelo PSB.
Na opinião do presidente do PSOL, Juliano Medeiros, a campanha eleitoral deveria retomar a normalidade já a partir de hoje (8). Ele disse que o candidato Guilherme Boulos manteria sua agenda política.
SINAIS AMBÍGUOS
A cientista política e professora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Helcimara Teles analisa que os candidatos têm que ter “cuidado”, a apenas um mês do 1º turno das eleições, para que o episódio não transmita sinais ambíguos ao eleitorado. Segundo ela, do ponto de vista estratégico, os adversários de Bolsonaro podem acabar reforçando o papel de vitimização e construir a “ideia do mito” caso deixem de criticar a tese de que ele é o candidato que tem expressado um discurso violento nas eleições.
A estratégia de pregar a pacificação pode ser um caminho viável caso parte do eleitorado esteja em busca de programas eleitorais que fujam dos ataques pessoais.
“Esse ataque, que nunca aconteceu na história política brasileira a um candidato a presidente, é apenas a ponta do iceberg de como a polarização e o ódio faz sentido agora. É a época da não política, um estado de guerra de todos contra todos”, avalia.
No centro do debate, o PSL sabe, desde que seu candidato foi gravemente ferido, que não poderá contar com ele nas ruas neste primeiro turno e também reavalia sua campanha. Num primeiro momento, os filhos de Bolsonaro, que disputam a Câmara e o Senado, chegaram a responsabilizar, em nota, “setores políticos e midiáticos” pelos violentos acontecimentos de Juiz de Fora. O mesmo discurso tem sido adotado pela inflamada militância. Ontem, o candidato a vice, general Mourão, revelou que Bolsonaro lhe disse, em telefonema, que não era “hora de guerra”, mas de acalmar os ânimos.
A Agência Brasil entrou em contato com a assessoria de imprensa da candidata Marina Silva, da Rede, que não retornou até o fechamento da reportagem. A campanha do PT à Presidência, que deve escolher nos próximos dias o substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como cabeça de chapa, disse que não se mani festa sobre as estratégias políticas internas.

 
AGRESSOR

O agressor confesso do candidato Jair Bolsonaro (PSL), Adélio Bispo de Oliveira, vai ficar em isolamento na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS). Ele saiu de Juiz de Fora (MG), no início da manhã de ontem, em direção ao presídio.
Segundo o Depen (Departamento Penitenciário Nacional), o agressor ficará em cela individual, sem contato físico com outros presos. Nos primeiros dias, ele será submetido à avaliação médica e psiquiátrica.
As celas do presídio têm aproximadamente 7 metros quadrados, com cama, banco, escrivaninha, prateleiras, vaso, pia e chuveiro. Adélio ficará em ala destinada a réus colaboradores e presos protegidos pela Justiça ou com risco a integridade física.
A transferência para um presídio federal foi tomada em comum acordo entre a juíza federal Patrícia Alencar, que ouviu Adélio anteontem, em audiência de instrução, o Ministério Público Federal e a própria defesa do acusado. O objetivo é garantir sua integridade física.
“As razões que justificam a transferência para uma penitenciária federal estão baseadas na garantia da integridade física do acusado, conforme decisão da Justiça Federal. O tempo de custódia na unidade, também”, informou o Depen.

 
 
VOLTA À ATIVA

Eduardo Bolsonaro, filho do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), acredita que o pai voltará a participar de entrevistas e reuniões de campanha em duas semanas. Ele deu a previsão ontem, após visitar o pai.
“Falei com um médico que não está acompanhando diretamente o caso do meu pai, que disse que em uns 15 dias nesse tipo de situação ele já vai poder falar com jornalistas, fazer atividades em ambientes mais controlados, talvez não ir para a rua como ele gosta. Acredito que ele vai voltar para uma atividade minimamente normal antes do pleito, que acontecerá em 7 de outubro.”
Ele evitou criticar os aliados que entraram no quarto da UTI e gravaram vídeos com Bolsonaro, mas pediu compreensão sobre o estado de saúde do pai. “Agradeço a preocupação de todos, mas apenas a esposa e os filhos podem visitá-lo agora. Se entrar ele vai querer falar e precisa ser preservado. (…)Fiquei distante para evitar qualquer risco de contaminação. Ele estava fazendo fisioterapia, deu um sinal de positivo, consegue falar, está se recuperando bem.”

 
* com colaboração da Folhapress

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