Pesquisadores e historiadores da região classificaram como uma “perda irreparável e trágica” o incêndio que destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão. O fogo, que começou às 19h30, só foi controlado na madrugada de ontem. O local completou 200 anos este ano e foi residência de um rei e de dois imperadores.
Para a professora de antropologia da Unicamp, Artionka Capiberibe, que tem doutorado em Antropologia pelo Museu Nacional do Rio (foi aluna entre os anos de 2004 a 2009), o incêndio foi uma “tragédia anunciada”. Ela aponta que a estrutura do local já estava debilitada há muito tempo e que já vinha notando isso desde a época em que era aluna da instituição. Artionka critica o fato de que, no Brasil, infelizmente, não se investe em educação, cultura e ciência. “O que aconteceu não tem explicação. É trágico e muito triste. O local nunca mais poderá exercer seu papel de difusor da memória de nosso país, pois já não temos mais essa memória. Tudo foi destruído”, lamenta.
Na opinião da historiadora e coordenadora do CEDOC (Centro de Documentação) da Fundação Romi, Sandra Edilene de Souza Barboza, o incidente a fez refletir sobre o trabalho árduo das instituições que preservam a história do país em busca de recursos para manter seus acervos. “Era um museu ícone para a história do Império brasileiro, que por falta de políticas públicas e investimentos ruiu, e com ele todo acervo documental, museológico, bibliográfico e arquivístico”.
Para o professor e historiador Willlian Carner que já esteve algumas vezes no Museu do RJ em visita e a trabalho, o incêndio representa uma “perda lastimável” para a história cultural brasileira. “Tivemos pessoas ilustres de nossa história que viveram ali. Infelizmente, a má administração, somada à estrutura do país que não se adequa a nada, contribuiu para a perda de uma de nossas maiores riquezas naturais, que viraram literalmente pó”.
Ele cita que, muitas coisas em nosso país, ao invés de serem valorizadas, acabam se deteriorando com o tempo – algo inverso do que ocorre em outros países, nos quais a história e a cultura são muito valorizadas.