O dado foi aferido pelo Datafolha em pesquisa nacional feita em 7 e 8 de julho, na qual foram ouvidas 2.074 pessoas de forma presencial. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos
O derretimento generalizado da imagem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se reflete na percepção do brasileiro da sua capacidade de liderar o país. Para 63%, ele é incapaz disso.
O dado foi aferido pelo Datafolha em pesquisa nacional feita em 7 e 8 de julho, na qual foram ouvidas 2.074 pessoas de forma presencial. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Esta é a sétima vez que tal questionamento é feito pelo instituto. Na primeira, em abril de 2020, Bolsonaro ainda retinha uma confiança maior da população acerca de sua capacidade: 52% achavam ele adequado para a missão de liderar, ante 44% que não acreditavam nisso.
Da pesquisa seguinte em diante, a curva se inverteu desfavoravelmente para o presidente, mas com uma distância relativamente curta entre os índices ruins para o Planalto.
Tudo mudou a partir de janeiro deste ano, quando começou a subir de forma acentuada a avaliação negativa.
Na rodada realizada em maio passado, pesquisada em 11 e 12 daquele mês, o presidente era visto como capaz de exercer sua liderança por 38% dos ouvidos. Agora, oscilou negativamente para 34%.
Já o índice daqueles pensam o contrário subiu de 58% para 63%, acima da margem de erro deste levantamento.
A percepção majoritária de sua falta de condições para estar na cadeira presidencial é bastante homogênea.
Num único segmento socioeconômico, o de que quem ganha de 5 a 10 salários mínimos, há um empate técnico na avaliação: 51% o consideram incapaz, e 47%, capaz.
Sua avaliação é pior entre mulheres (67% acham que ele não pode liderar), os mais pobres (68%), nordestinos (72%) e pretos (76%).
Já há uma impressão menos ruim do presidente, ainda que a negativa seja prevalente, entre os mais velhos (41% de visão positiva), mais ricos (40%) e entre moradores de trincheiras do bolsonarismo que já mostraram sua tolerância ao presidente em outros itens dessa rodada: Sul (42%) e Norte/Centro-Oeste (47%).
A piora neste ponto de avaliação acompanha o restante coletado pelo Datafolha, assim como a má posição na pesquisa de intenção de voto para a Presidência em 2022 –por ora com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) isolado na ponta.
Lula tem 46% das intenções de voto em duas simulações feitas pelo Datafolha, assim como Bolsonaro tem 25%. O que muda é a composição do terceiro pelotão, todo feito de presidenciáveis ora com menos de 10% de intenção.
No período entre esta e a mais recente pesquisa, de maio, Bolsonaro se viu envolvido em acusações de corrupção no Ministério da Saúde, que vieram a se somar às avaliações de incompetência talvez criminosa na condução da crise sanitária da Covid-19.
Houve também o trabalho da CPI da Covid no Senado, amplificando as acusações, e fatos como a abertura de um inquérito contra Bolsonaro por suspeita de prevaricação.
A gravidade da crise, apesar de o governo negar os problemas mas ter demitido até aqui dois envolvidos nas acusações, encontra eco nos protestos de rua contra o presidente, que ganharam força.
No período, também foi protocolado um superpedido de impeachment na Câmara, ignorado pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
A agressividade de Bolsonaro em reação às más notícias tem sido a usual: sobra para outros Poderes, adversários e a imprensa.
Nesta sexta, houve um ensaio de reação institucional, após o presidente novamente ter alegado que a eleição será fraudada e que o problema está no Tribunal Superior Eleitoral, presidido por Luis Roberto Barroso, visto pelos bolsonaristas como simpatizante do PT.
Barroso e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), criticaram as iniciativas de desmoralizar o regime eleitoral brasileiro, falando em crime de responsabilidade e na constituição de um “inimigo da nação”.
O padrão bolsonarista de divulgação de teorias conspiratórias encontra inspiração no ex-presidente americano Donald Trump, ídolo político do mandatário brasileiro.
Após perder as eleições em novembro de 2020, Trump gastou seu tempo dizendo que seriam necessárias recontagens porque ele havia vencido o pleito contra Joe Biden.
No dia 6 de janeiro, quando o Congresso se reuniu para validar os resultados da eleição, algo protocolar, Trump fez um comício e incentivou uma turba a invadir o Capitólio.
Não são poucos os que veem, no mundo político, uma repetição do roteiro por Bolsonaro, ainda que de forma mais mambembe.
Seu aceno constante a forças policiais leva alguns governadores a ter certeza de que ele pretende algum tipo de tumulto caso veja que a reeleição está perdida. A ideia de que só voto impresso, que não deve passar no Congresso, evitará fraudes já é seu mote para essa narrativa.
Não que muitos acreditem nas acusações que Bolsonaro dissemina, contudo.
Segundo o Datafolha, o índice de brasileiros que não confia em nada que é dito pelo presidente Jair Bolsonaro é o maior desde que o instituto começou a aferir isso, em agosto de 2019: 55%.
A série tem 11 levantamentos até aqui. Desde o anterior, de maio passado, a desconfiança subiu de 50% para os atuais 55%. Confiam em tudo o que Bolsonaro diz 15%, ante 14% no levantamento passado. Já a avaliação de que o presidente é crível às vezes caiu de 34% para 28%.
Os dados conversam com o mau estado da popularidade presidencial aferida pelo instituto, constatada nesta rodada.
Isso não significa que Bolsonaro esteja à beira de um impeachment, conforme avaliam líderes políticos de vários espectros. Mas sua condição política está deteriorada.
Não creem em nada que Bolsonaro fala mais mulheres e menos instruídos (60% de incredulidade), além de moradores da fortaleza petista do Nordeste (65%).
Acreditam sempre no presidente mais os maiores de 60 anos (22%), moradores de áreas bolsonaristas como o Norte/Centro-Oeste (21%) e os evangélicos (22%) –embora mesmo ali a maioria, 51%, não acredita em Bolsonaro.
Nos grupos mais específicos, há previsibilidade em consonância com outros aspectos captados pelo Datafolha. Para 38% dos empresários, Bolsonaro sempre diz a verdade. Já homossexuais e bissexuais, alvos da homofobia presidencial, são quase unânimes (75%) em rejeitar as falas do presidente. Tal avaliação é feita por 63% dos pretos.
O melhor momento de popularidade de Bolsonaro, dezembro do ano passado, já não tinha um índice muito grande de crença: 21% acreditavam no presidente.
De lá para cá, a avaliação de que ele não fala a verdade subiu de 37% para o patamar atual. Igor Gielow