Ao falar sobre a denúncia em rede social, Camargo cita o pianista Wilhelm Kempff, que, realizou concertos como forma de propagandear e fortalecer o regime nazista na Alemanha
O MPT (Ministério Público do Trabalho) denunciou o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, por assédio moral, perseguição ideológica e discriminação. A ação foi protocolada na última sexta-feira (27) pelo órgão após 16 funcionários prestarem depoimentos sobre comentários racistas e acusações contra servidores considerados por Camargo como “esquerdistas”.
Em um trecho da ação exibida na edição deste domingo à noite (29) do Fantástico, da TV Globo, o MPT afirma que Sérgio Camargo “contaminou todo o ambiente de trabalho e gerou terror psicológico” dentro da Fundação Palmares.
Em diversos momentos, ele se posicionou nas redes sociais contra a promoção da cultura afro-brasileira — ainda que esse seja o foco da Fundação Palmares. Os relatos dos 16 funcionários convergiram ao apontar que Sérgio cometia assédio moral e perseguição ideológica ao promover uma “caçada de esquerdistas”.
A ação se referia ao ato de avisar aos funcionários do órgão que o avisassem caso algum dos funcionários fosse de esquerda. A intenção seria identificá-los para afastar do cargo.
Camargo fala em “vermes de esquerda”
Nas redes sociais, Camargo agradeceu aos apoiadores e afirmou que “lida com vermes de esquerda” desde muito antes da sua nomeação ao cargo na fundação de valorização afro-brasileira.
Diante da investigação do MPT, Sérgio disse estar “ouvindo sonatas de Franz Schubert, com o mestre alemão do piano Wilhelm Kempff, e dando blocks na esquerdalha imunda”. A publicação de Camargo foi feita minutos após a veiculação da reportagem na TV Globo sobre a investigação do MPT contar ele.
Direitistas, não precisam pedir que eu aguente. Lido com vermes da esquerda desde muito antes da minha nomeação! Estou ouvindo as sonatas de Franz Schubert, com o mestre alemão do piano Wilhelm Kempff, e dando blocks na esquerdalha imunda. Rotina…Mas obrigado pelo apoio. ???✌️ pic.twitter.com/5hAaGvZu1i
— Sérgio Camargo (@sergiodireita1) August 30, 2021
O pianista Wilhelm Kempff, citado por Sérgio Camargo, realizou concertos como forma de propagandear e fortalecer o regime nazista na Alemanha.
Em outra postagem no Twitter, o presidente da Fundação Palmares diz que “o MPT não tem autoridade para investigar servidores ou pessoas em cargos comissionados, pois somos regidos pelo estatuto, não pela CLT [a legislação trabalhista]”. Para ele, “As acusações partiram de militantes vitimistas e traíras”.
O MPT não tem autoridade para investigar servidores ou pessoas em cargos comissionados, pois somos regidos pelo estatuto, não pela CLT.
As acusações partiram de militantes vitimistas e traíras. Há duas cartas públicas em minha defesa assinadas por todos os servidores da Palmares! pic.twitter.com/wrYncIkAIe— Sérgio Camargo (@sergiodireita1) August 30, 2021
Mais cedo, Camargo disse que amigos e familiares se afastaram e “deram as costas” porque ele “apoia e acredita” no presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Apesar do cenário, ele considerou como “livramento” a rejeição de pessoas próximas devido aos seus posicionamentos políticos.
“Perdi muitos amigos, ex-colegas de redação e alguns familiares me deram as costas porque apoio e acredito em Jair Bolsonaro. Se estou chateado? Tudo livramento!S”, escreveu. A declaração acontece em um momento de avanço das tensões entre os três Poderes gerada por ataques contra as instituições feitas por bolsonaristas e pelo próprio presidente.
Contra a postura dele, organizações do movimento negro brasileiro chegaram a acionar a ONU (Organização das Nações Unidas) para denunciar Camargo pela violação dos direitos humanos. A ação inédita ocorreu no final de julho deste ano.
O apelo enviado foi assinado pela Coalizão Negra por Direitos, entidade que reúne 200 grupos e coletivos negros para promover ações conjuntas de incidência política nacional e internacional.
Em uma de suas falas, Camargo chegou a dizer que o movimento negro é uma “escória maldita formada por vagabundos”. Em outros momentos, abordou o legado de figuras da cultura afro-brasileira como Zumbi dos Palmares, a quem chamou de “falso herói”.
Ações como essa, segundo o relatório enviado à ONU, configuram o esvaziamento do histórico de lutas e contribuições dos movimentos negros na construção da sociedade brasileira.