Presidente diz que não respeitará “qualquer decisão” do ministro Alexandre de Moraes
Em um desafio explícito ao STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou abertamente que não respeitará “qualquer decisão” do ministro Alexandre de Moraes, incitando apoiadores contra a Corte. A manifestação foi feita durante manifestação antidemocrática realizada em São Paulo, que ocupou 11 quadras da Avenida Paulista.
Bolsonaro xingou o magistrado de “canalha” e pediu sua saída diante de milhares de apoiadores. “Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá”, afirmou o presidente.
Moraes é o responsável por inquéritos que apuram o financiamento e a organização dos atos antidemocráticos realizados por aliados do presidente neste 7 de setembro, feriado da Independência. O magistrado também conduz a investigação que apura ameaças e notícias falsas que miram os integrantes do STF.
Bolsonaro não só compareceu aos atos de Brasília e São Paulo, como convocou a presença de apoiadores nos últimos dias em diversas declarações públicas. As manifestações a favor do presidente ocorreram em 24 capitais, enquanto as contra foram realizadas em 19.
Veja o discurso do presidente Bolsonaro a partir de 6:46, que foi transmitido por sua página no Facebook:
“Ou esse ministro se enquadra, ou ele pede para sair”, gritou Bolsonaro aos apoiadores. “Sai, Alexandre de Moraes! Deixa de ser canalha!” No discurso em Brasília, ele já havia criticado o STF e o presidente da Corte, Luiz Fux.
‘Nunca serei preso’
O presidente repetiu que tem três alternativas para seu futuro: “preso, morto ou com vitória.” “Dizer aos canalhas que nunca serei preso. A minha vida pertence a Deus, mas a vitória é de todos nós”, afirmou o presidente.
Bolsonaro voltou a criticar o processo eleitoral brasileiro, afirmando que “não é confiável”. O presidente é defensor da adoção de um comprovante de voto impresso, que foi recentemente derrotado no Congresso.
Apesar de o presidente ter repetido que quer o “voto auditável” e com “contagem pública dos votos”, o resultado das eleições brasileiras já passa por auditoria. A contagem é feita de modo automático pelas urnas eletrônicas, e a soma dos votos é realizada por um supercomputador do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Todo o processo pode ser acompanhado por partidos políticos, Ministério Público e OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), entre outras entidades. Bolsonaro voltou a distorcer a decisão do corregedor-geral do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ministro Luís Felipe Salomão, que mandou plataformas digitais suspenderem a monetização de canais que disseminam informações falsas sobre as eleições no Brasil.
Apesar de a decisão ter mirado perfis que produzem conteúdo falso, Bolsonaro tratou os alvos da medida apenas como críticos do sistema de votação. Com o hino nacional ao fundo, Bolsonaro foi recebido com fogos de artifício e gritos de “o capitão chegou”.
O presidente falou a apoiadores em um carro de som na região do Parque Trianon e do Masp. No meio da tarde, o ato ocupava ao menos 11 quadras — entre a Rua Haddock Lobo e a Avenida Brigadeiro Luís Antônio — e é difícil circular.
“Se eles acharam que iam nos intimidar, o tiro saiu pela culatra. Quem tem que sair do país são esses ratos, não são nós não”, afirmou pouco Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).
Em sua fala, ele elogiou a Medida Provisória assinada pelo pai ontem, que altera o Marco Civil da Internet para dificultar a remoção de conteúdos falsos das plataformas de rede social: “Onde é que está escrito na lei o crime de fake news, p***a? Que p***a de democracia é essa em que estamos vivendo?”
Flávio também criticou a prisão do deputado federal Daniel Silveira (PSL-SP), preso em fevereiro deste ano após divulgar um vídeo com ataques a ministros da Corte. O ex-ministro Ricardo Salles foi chamado para falar como “o sempre ministro”. “Fizemos o impeachment da Dilma [Rousseff], elegemos Bolsonaro e vamos mudar o Brasil”, disse, afirmando que, antes de ocupar o cargo, já estava nas ruas “defendendo o certo”.
A pauta da manifestação é praticamente uníssona: destituição do STF (Supremo Tribunal Federal), voto impresso — chamado pelos manifestantes de voto auditável — e intervenção militar para permitir que as duas primeiras pautas sejam atingidas.
Diversos cartazes estão em inglês. Segundo manifestantes, é uma estratégia para mostrar ao mundo que o presidente do Brasil tem respaldo popular.
Há pessoas de todas as idades, de crianças a idosos. A reportagem viu pouca presença da Polícia Militar, sobretudo em pequenos grupos nas ruas que dão acesso à Avenida Paulista. Ao contrário do que havia sido prometido pela Secretaria de Segurança Pública, a ampla maioria dos manifestantes não está sendo revistada.
Manifestantes tentam conversar com os grupos de policiais. Há aplausos sempre que ocorre um sobrevoo de helicóptero das forças de segurança.