O cliente disse que passou por constrangimento e divulgou as imagens em rede social
O autônomoMarcelo Cabral, de 47 anos, foi barrado cinco vezes após tentativas frustradas de passar pela porta giratória com detectores de metal em uma agência da Caixa Econômica Federal do bairro Jucutuquara, em Vitória (ES). Apesar de avisar várias vezes sobre ter feito cirurgia para implante de uma prótese de metal, o acesso só foi possível depois que ele, que é negro, abaixou as calças publicamente para mostrar a cicatriz da intervenção nas nádegas.
“Quando chegou minha vez de passar pela porta giratória eu me dirigi até a segurança que faz o controle de acesso e disse que eu era portador de prótese. Falei ‘tenho uma prótese no quadril, já fui em outros bancos e a porta sempre travava'”, explicou Cabral.
O cliente disse que precisava ter acesso à área interna para resolver um problema em sua conta. Contudo, percebeu que o tratamento recebido em outros bancos, até então, havia sido diferente. “Não levantaram nenhuma suspeita de que eu seria um perigo para os bancos e os clientes”, declara.
Em uma publicação no seu perfil do Facebook, ele disse que não sabe se foi vítima de racismo ou outro crime, mas agora ele está recebendo orientação do movimento negro em Vitória e disse estar recebendo apoio psicológico. Assista ao vídeo:
Marcelo Cabral passou por cirurgia em 2019 para colocar uma prótese de metal no quadril. “Nunca tinha passado por uma situação tão constrangedora como foi essa, não só de ter que abaixar a calça para mostrar a cicatriz, mas também […] entender que foi por conta da minha cor que eu apresentava um risco para a agência”, falou o autônomo.
O episódio ocorreu na manhã da última sexta-feira (10), quando Marcelo esteve na agência junto com a esposa. Toda situação teria durado em torno de seis minutos. Ele afirma que está com a prótese há dois anos e que esta foi a primeira vez que precisou passar por uma situação de constrangimento do tipo.
Marcelo conseguiu entrar na agência, mas afirmou que ninguém o procurou para explicar sobre os procedimentos ou acalmar sobre a situação. “Quando acessei o banco, parecia que eu tinha saído de um mundo para outro. Parecia que não tinha acontecido nada”.
Nervoso e irritado com o constrangimento, Marcelo decidiu ligar para sua advogada e não concluiu atendimento. Parte da ação foi gravada em vídeo por sua esposa e deve integrar as provas do processo que ele pretende mover contra a empresa que faz a segurança na agência, o segurança e a Caixa.
“Não tive dificuldade nenhuma de colher testemunhas presentes para participar do inquérito que vai ser aberto e da ação que vou jogar na Justiça”, afirmou. Procurada, a Caixa Econômica Federal informou por meio de nota oficial que o uso de portas automáticas com detectores de metal está de acordo com a Lei 7.102/83 e com a Portaria 3.233/12 do Departamento de Polícia Federal.
O banco disse ainda que a triagem de quem acessa as agências é feita para “garantir o correto direcionamento no atendimento e distribuição de senhas” e que o procedimento visa segurança de clientes, “nunca para criar obstáculos ou constrangimentos aos usuários”. Segundo o pronunciamento da instituição bancária, “assim que informou sobre a prótese, o cliente recebeu o adequado encaminhamento para atendimento”.
Confira a nota oficial da Caixa na íntegra:
“A CAIXA informa que utiliza portas automáticas giratórias com detectores de metal em suas agências de acordo com a Lei 7.102/83 e Portaria 3233/2012 do Departamento de Polícia Federal, que disciplina todo o sistema de segurança em estabelecimentos financeiros em território nacional.
Em atenção ao caso relatado, o banco esclarece que, ao entrar na agência, os clientes passam por triagem, de modo a garantir o correto direcionamento no atendimento e distribuição de senhas. Assim que informou sobre a prótese, o cliente recebeu o adequado encaminhamento para atendimento.
Cabe destacar que as portas giratórias são utilizadas pelos bancos para impedir o acesso de pessoas às agências portando objetos que coloquem em risco a segurança de clientes e empregados, nunca para criar obstáculos ou constrangimentos aos usuários.”